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Alas do PT resistem a um aceno ao centro

De perfil moderado, Haddad terá de convencer o próprio partido a dialogar com demais forças

8 out 2018 - 04h11
(atualizado às 08h14)
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Fernando Haddad (PT) chega ao segundo turno da eleição à Presidência disposto a desbastar o discurso de esquerda e a fazer um aceno mais assertivo na direção do centro político, para conquistar eleitores na disputa contra o adversário Jair Bolsonaro (PSL). Seu desafio, porém, é convencer as correntes do PT sobre a necessidade da mudança de tom na campanha.

Ex-prefeito de São Paulo, Haddad já protagonizou vários embates no partido e tudo indica que terá de enfrentar mais um. Na prática, há divergências sobre o rumo a ser adotado e os limites para uma aproximação com outras forças. "Se ele tiver diferenças, deve discuti-las com as forças que o sustentam, que não são só partidos, mas também a CUT e o MST", disse o secretário de Comunicação do PT, Carlos Árabe.

Em São Paulo, Haddad comemora sua ida ao segundo turno
Em São Paulo, Haddad comemora sua ida ao segundo turno
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

Para virar candidato, substituindo na última hora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso da Lava Jato, Haddad passou por uma espécie de "crisma", e renovou os votos de fé na cartilha petista. Nesse roteiro, entrou para a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no partido.

A adesão ocorreu em junho, em um movimento para vencer resistências internas. Antes, Haddad não integrava nenhuma ala do PT. Era, no entanto, próximo à Mensagem, criada justamente para fazer oposição à CNB, em 2005, após o escândalo do mensalão. Naquele ano, Haddad chegou a assinar o manifesto escrito pelo ex-ministro Tarso Genro, que pregava a "refundação" do PT e apontava o dedo para práticas de corrupção na legenda. O documento escancarou a crise interna e irritou Lula.

Mesmo assim, a turbulência serviu como passaporte para Haddad comandar o Ministério da Educação. Em 29 de julho daquele ano, ele assumiu a cadeira no lugar de Tarso, convocado às pressas por Lula para presidir o PT, que havia tido a cúpula dizimada. "Meu filho, mas você aceitou ser ministro com o governo nessas circunstâncias?", indagou à época dona Norma, mãe de Haddad, preocupada com a nomeação. "Mãe, se não fossem essas as circunstâncias, nunca me ofereceriam o ministério", respondeu ele.

Se dependesse da cúpula do PT, ele jamais seria o nome escolhido para a disputa ao Planalto. Advogado, economista, doutor em Filosofia e professor licenciado de Teoria Política na USP, Haddad sempre foi considerado um "estranho no ninho" petista, um "tucano" dentro do PT, além de muito "acadêmico", com linguajar difícil.

Foi Lula quem bancou o nome do afilhado político, dobrando a aposta feita em 2012 na eleição para a Prefeitura. Derrotado na disputa pelo segundo mandato, em 2016, Haddad estava em uma espécie de limbo político e tinha ido para o fim da fila no PT. No ano passado, chegou a flertar com outros partidos. Lula, mais uma vez, o resgatou e deu a ele a coordenação do programa de governo do PT. Se conseguisse ser candidato, Lula queria fazer de Haddad seu ministro da Fazenda.

Apesar do convite, inicialmente para ocupar a vice na chapa, o ex-presidente ainda preferia que o seu "herdeiro" fosse Jaques Wagner, considerado com mais traquejo político.

Filiado ao PT há 35 anos, Haddad nunca integrou a direção do partido. Em 1987, foi levado pelo jornalista Eugênio Bucci, seu amigo e antecessor na presidência do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, para a revista Teoria e Debate, ligada ao PT.

"Naquela época, Haddad já não era um petista clássico", contou o economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos, que trabalhou na revista ao lado de Haddad. "Ele estava lá por convicções políticas, mas nunca foi um militante. Lembro que era muito preparado", emendou Venceslau, que foi expulso do PT em 1997, após denunciar um esquema de corrupção no partido, conhecido como caso CPEM. Já Bucci diz que Haddad sempre teve posições moderadas. "Definitivamente, ele não é um radical. Não existe nada na sua biografia que o aproxime do chavismo na Venezuela".

Estadão
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