André Valadão e André Janones: entenda a disputa envolvendo religião no campo político
Busca pelo voto evangélico motiva discussões entre apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais
Um dos cabos eleitorais mais ativos da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas redes sociais, o deputado federal André Janones (Avante-MG) protagonizou um bate-boca com o pastor André Valadão, que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), e membro da Igreja Batista da Lagoinha, e com o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL). O assunto ganhou projeção e se tornou um dos temas mais comentados do Twitter na manhã desta terça-feira, 11.
Janones foi escalado para liderar a ofensiva petista nas redes e, nas últimas semanas, tem mirado o eleitorado evangélico com suas postagens. O segmento, considerado base de apoio do presidente Bolsonaro, é visto como estratégico nas eleições deste ano. Grupos de pastores bolsonaristas convocam jejuns em apoio ao chefe do Executivo, por exemplo, e igrejas produzem cartilhas orientando o voto dos fiéis.
Nesta segunda-feira, 10, o pastor André Valadão publicou uma foto acompanhado do vereador Nikolas Ferreira, o candidato mais votado do País para o cargo de deputado federal. Na imagem, ambos estão em um avião a caminho de Brasília. "Trabalhando, sonhando e já vendo a maior virada política da história", escreveu o pastor.
Em seguida, Valadão fez uma postagem chamando o candidato Lula de "mula" e associando uma eventual vitória do petista à chamada "ideologia de gênero" e ao comunismo. Pautas de "costumes", como as relacionadas a gênero, constituem um dos principais recursos discursivos na busca pelo voto evangélico.
Votar no MULA é autorizar um modelo de governo amigo de países socialistas comunistas, é dizer sim aos furtos, é incentivar a ideologia de gênero para crianças nas escolas e acima de tudo estatizar a nação levando a estagnar a economia e fechar portas para o mundo.
— Andre Valadao (@andrevaladao) October 10, 2022
Janones respondeu a publicação do pastor: "Votar no Bolsonaro e permitir que vagabundos como você continuem a mentir livremente e assediar as irmãs da igreja! Você não representa nossa Igreja! Hipócrita, sujo!" escreveu.
O deputado tentou legitimar sua crítica ao religioso dizendo ser membro da mesma igreja. O argumento que o parlamentar tenta transmitir nas redes é que a fé evangélica não se restringe ao campo da direita. É recorrente que ele faça publicações apontando supostas inconsistências no discurso religioso de Bolsonaro, por exemplo, e questionando se suas ações estão de acordo com o ordenamento cristão.
Janones afirmou que vai pedir o "desligamento" do pastor André Valadão da Igreja Batista da Lagoinha e chamou o religioso de "maldito". "Ninguém na Igreja suporta esse maldito, só que ninguém tem coragem de falar em respeito ao pastor Márcio Valadão que é muito amado e respeitado! Óbvio que o pedido não será aceito, mas é simbólico!", disse.
"Só pra constar: como membro da igreja, esse é um direito que me assiste", completou. Em seguida, ele publicou um vídeo de sua suposta "conversão" em um templo da igreja. O culto em questão é liderado pelo pastor Márcio Valadão, pai de André.
Membros da direita, por outro lado, insinuam que a postura de Janones é oportunista e refutam que ele seja evangélico. Em resposta à publicação do deputado, Nikolas Ferreira o chamou de "jacu" e desqualificou sua conversão. "Isso não te faz membro da igreja, jacu. E pelo visto, não valeu de nada tua conversão", publicou.
Isso não te faz membro da igreja, jacu. E pelo visto, não valeu de nada tua conversão. pic.twitter.com/tqjmiWQrmz
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) October 10, 2022
Como mostrou o Estadão, a disputa pelo voto cristão está rachando as igrejas evangélicas no Brasil. As cúpulas das denominações abraçam o bolsonarismo e tentam influenciar o voto dos fiéis, ao mesmo tempo em que a campanha do PT usa esse tema para tentar enfraquecer o presidente. Na primeira semana da campanha pelo segundo turno, dois assuntos que viralizaram nas redes foram um vídeo antigo de Bolsonaro em uma loja maçônica, usado fora de contexto para insinuar que o presidente é maçom, e uma fake news associando Lula a um "pacto com o diabo". Em setembro, um fiel foi baleado dentro de um culto da Congregação Cristã no Brasil após uma discussão sobre política.