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Após ausência, Lula volta ao palanque de Dilma na reta final

22 out 2014 - 08h18
(atualizado às 11h14)
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Foto: Pedro de Paula / Futura Press

Depois de aparições bem dosadas até aqui e de certa forma separadas dos eventos principais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou com força na reta final da campanha de Dilma Rousseff (PT). Ausente no pronunciamento da presidente em Brasília após o primeiro turno, o "padrinho eleitoral" pôs o pé na estrada e voltou aos palanques.

Depois de fazer campanha em Belo Horizonte na semana passada com um discurso acirrado criticando o candidato do PSDB, Aécio Neves, justamente no domicílio eleitoral do tucano, Lula investiu seu capital político nesta terça-feira onde é mais forte – seu Estado natal, o Nordeste.

O ex-presidente acompanhou Dilma em três visitas a Pernambuco, colégio cujo voto ainda está dividido após a morte de Eduardo Campos e a saída de cena de Marina Silva – e com o PSB agora encampando a campanha de Aécio. Ele foi o único Estado nordestino em que a petista não venceu no primeiro turno. Por lá, Marina ficou em primeiro lugar, com 48% dos votos, contra 44% dados a Dilma e 5,9% a Aécio.

Enquanto o partido de Campos busca usar sua influência em favor do candidato do PSDB, Lula entra em cena pessoalmente para dar peso à campanha de Dilma. A dupla começou o dia em Petrolina, onde a presidente falou sobre os programas do PT para enfrentar as secas, e seguiu para Goiana, onde visitou a nova fábrica da Fiat – que está sendo construída após acordo firmado no governo Lula.

O dia terminou com uma grande caminhada, que levou pelo menos 30 mil pessoas para o centro histórico do Recife, segundo estimativas da campanha, seguindo o carro de som que levava Dilma, Lula e o séquito de políticos que os acompanhavam.

Há duas semanas, uma pesquisa do Datafolha afirmou que o ex-presidente é o "padrinho" com o maior potencial de transmissão de votos em comparação com outro ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, "cardeal" do PSDB.

E uma prova do carisma de Lula foi dada em Goiana: em seu comício na cidade, ele foi apresentado como presidente pelo mestre de cerimônias e recebido calorosamente pelas milhares de pessoas que esperaram mais de duas horas pelo início do evento. Ao começar o seu discurso, foi interrompido por um corinho de "olê, olê-olê, olá, Lu-lá, Lu-lá".

Prestígio transmitido

Percussionista da Nação Zumbi, o músico Gilmar Bola 8 marcou presença no ato e disse considera a entrada de Lula nessa reta final decisiva diante do atual cenário acirrado. "As pessoas aqui confiam mais no Lula do que na presidente. Ele fala a linguagem do povo e o povo escuta o que ele fala", disse.

Para Jussara de Albuquerque, que acompanhava o comício de longe, numa cadeira na calçada, há um forte sentimento de gratidão ao ex-presidente no Nordeste, região que concentrou os investimentos em programas sociais nos dois mandatos de Lula (2003-2010) e nos quatro anos de governo Dilma. "O Lula é como um pai para a população do Nordeste", afirmou ela, professora da rede pública estadual. "O povo daqui deve muito a ele, e Dilma está conseguindo tudo isso por causa do Lula."

Ao lado de Jussara, Sandra Cavalcanti, auxiliar de serviços gerais, não poderia destoar mais da amiga em termos de intenção de voto. "Sou Aécio", dizia ela, que parecia uma exceção na rua principal de Goiana onde a maioria dos passantes se dirigia ao palco armado para o comício levando bandeiras do PT ou vestidas de vermelho. "Olhando assim parece que todo mundo aqui é PT, mas a cidade está dividida. Só que o povo adora uma festa, então está todo mundo aqui. Só quero ver como é que vão votar no domingo."

Observando o comício, o coordenador local da campanha de Aécio, Francisco Corrêa, imaginava que uma maioria para Dilma no Nordeste pode ser inevitável no segundo turno, mas disse que a campanha espera chegar a um patamar mais equilibrado em comparação com o primeiro turno, quando Dilma concentrou quase 60% dos votos.

O candidato do PSDB visitou o Estado logo após o primeiro turno e visitou a família de Eduardo Campos, recebendo seu apoio oficial. Corrêa lembrou que Lula teve uma parceria muito forte com Campos quando este era governador de Pernambuco, e isso abriu caminho para muitas parcerias e investimentos para o Estado. "Isso com certeza terá um peso para os pernambucanos", disse. "Mas esperamos que quem deseje mudança consiga fazer uma separação."

Um dos investimentos fruto dessa parceria é a fábrica da Fiat, motivo para o comício passar por Goiana, que tem cerca de 80 mil habitantes. Em seu discurso, Lula destacou os empregos que a fábrica, prevista para operar a partir do início do ano que vem, vai gerar. Ele e Dilma ressaltaram os avanços no Nordeste, com o aumento de investimentos na região.

"Os nordestinos conquistaram o direito de andar de cabeça erguida", discursou Lula. "Provaram que não nasceram para ser pedreiro nem ir ser construtor de ponte lá em São Paulo."

A estudante de direito Andrezza Caroline Albuquerque, de 19 anos, acompanhava tudo com a família na porta de casa, bem em frente ao local do comício. Ela disse ter votado em Marina no primeiro turno, mas agora está apoiando Dilma por considerar que as políticas do PT trazem mais oportunidade às classes menos favorecidas. Mas a estudante acha que a presença de Lula dará mais chances a Dilma.

"Quem segura ela aqui (em Pernambuco) é o Lula. Ela não tem muito carisma para atrair as pessoas. Já o Lula, as pessoas se identificam muito com ele", disse. "Nessa reta final, ele veio para chamar o povo para a rua."

Coincidência ou não, as primeiras pesquisas mostrando Dilma à frente de Aécio surgiram justamente depois da intensificação da participação de Lula na campanha.

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