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Apps permitem avaliar e acompanhar trajetória de políticos

Iniciativas recentes estimulam participação mais ativa de eleitores

3 out 2014 - 21h18
(atualizado às 21h20)
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Foto: Voto a Voto / Divulgação

Domingo é a data do primeiro turno das Eleições 2014. Mas, para que seu voto seja mais do que um clichê obrigatório, ele deve ser o início de um processo que durará pelos próximos quatro anos: acompanhar seu candidato eleito.

Para ajudar os eleitores nessa tarefa, foi lançado, nesta semana, um aplicativo para smartphones que ajuda a acompanhar os políticos em seus cargos públicos. Disponível gratuitamente para os sistemas iOS e Android, o Voto a Voto ( permite que o eleitor avalie, a partir de 1º de janeiro, o desempenho dos políticos que ajudou a eleger.

Reunindo informações que já estão disponíveis na rede - como reportagens e os e-mails oficiais do legislativo e executivo -, o Voto a Voto pretende estreitar a relação entre eleitor e seus candidatos eleitos. Idealizador do aplicativo, o publicitário Eduardo Menezes acredita que existe uma vontade da população em participar mais ativamente do processo democrático e vê na iniciativa um facilitador. Nas redes sociais, os longos textos sobre opiniões políticas e as recentes publicações de usuários abrindo seus votos são exemplos disso. "A gente acaba ouvindo mais as queixas do que os próprios políticos a quem elas são destinadas", comenta Menezes, diretor de criação da 3YZ, agência que assina o desenvolvimento do aplicativo.

Pelo Voto a Voto, será possível enviar uma mensagem diretamente ao político e aguardar uma resposta no e-mail cadastrado pelo usuário. Se você é pessimista em relação a receber um retorno de seu candidato, Menezes dá uma dica: "O bom político deve prestar contas. Eu não votaria em alguém que não responde aos meus e-mails".

Foto: Voto a Voto / Divulgação

Foto: Divulgação/Voto a Voto

O aplicativo é bastante simples. O usuário insere os nomes ou números dos candidatos em quem pretende votar nesta eleição. Depois, pode ler notícias que envolvam o nome de cada político e, com apenas um toque, decidir se o desempenho do mesmo está sendo positivo ou negativo, opinião que pode ser alterada a qualquer momento. A partir das opiniões de todos os eleitores, a ferramenta formará um gráfico para cada político pelo qual se poderá acompanhar como os usuários estão avaliando seu mandato.

Na hora do usuário informar suas intenções de voto, o aplicativo simula o momento da urna: não se pode voltar atrás. O interessante é que, assim, cada candidato será avaliado apenas por seus eleitores, ou pelo menos por aqueles que deram seu voto a ele no aplicativo. A ideia é evitar "gente que entra para avacalhar", explica Menezes, por isso, não é possível sair opinando sobre todos candidatos. O usuário até pode acompanhar notícias que envolvam outros políticos, basta digitar o nome de um candidato além daqueles em quem votará. O eleitor poderá assim visualizar notícias sobre ele, mas não poderá avaliá-lo.

Outras iniciativas

A iniciativa da 3YZ tem pontos em comum com um projeto lançado em agosto, a Newsletter Incancelável. Depois de informar suas intenções de voto pelo site, o usuário receberá uma newsletter mensal por e-mail com notícias relacionadas aos seus candidatos. Apesar do nome, o serviço pode ser cancelado, conforme manda o Marco Civil da Internet.

O intuito de contribuir para a fiscalização do poder público expresso nessas iniciativas é bem recebido pelo diretor-geral do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS), Valtuir Pereira Nunes. O órgão lançou neste ano a campanha "Transparência, faça essa ideia pegar", que irá premiar os municípios gaúchos cujos portais se destacam no cumprimento da Lei de Acesso à Informação, que obriga União, municípios e Estados a divulgarem informações de interesse público, como seus gastos.

Entusiasta das novas tecnologias e da abertura de dados públicos, Nunes convida a sociedade civil a exercer o controle do poder público junto a órgãos de fiscalização, como os tribunais de conta estaduais. No TCE-RS, são cerca 950 servidores, sendo que 250 estão destinados ao trabalho de campo para fiscalizar 1.250 órgãos em todo o Estado. "O TCE e o Ministério Público fazem seu papel. Mas somos poucos. Os movimentos sociais devem continuar atentos à vida pública. Precisamos da colaboração do meio acadêmico, da sociedade civil organizada. Visitamos um município uma vez por ano, mas o cidadão mora lá, está todo dia na escola, no posto de saúde. Nada substitui o controle social. Mas para isso, é preciso abrir os dados", reforça. Para ele, aplicativos como o Voto a Voto e o Quem Quer ajudam nessa tarefa.

Também disponível para smartphones iOS e Android e lançado neste ano, em setembro, o Quem Quer foi desenvolvido pela Transparência Brasil e conta com informações sobre candidatos reunidas por outros projetos da ONG, o Excelências, focado no desempenho parlamentar no Congresso, e o Às Claras, que informa fonte de financiamento dos candidatos. O aplicativo apresenta um histórico do político, como cargos já exercidos, frequência no plenário, bens declarados e ocorrências na Justiça.

Natália Paiva, coordenadora da Transparência Brasil, compara o cenário de hoje com o de quatro anos atrás, muito distante da atual popularização de smartphones - em 2011, dado mais antigo disponibilizado pela IDC Brasil, foram comercializados 9 milhões de unidades no País; em 2013, 35 milhões. Ela acredita que hoje haja mais espaço para produtos como esses no País, especialmente pelo interesse de jovens nesses aplicativos, além de, do outro lado, haver desenvolvedores que investem seu tempo e conhecimento nessas iniciativas.

Para Natália, provavelmente viveremos uma curva de aprendizado em que, nesta eleição, há muitas ferramentas bem intencionadas, mas que um uso mais massivo ficaria para as próximas. "Fica a dúvida se, de fato, os eleitores estão utilizando as ferramentas da maneira como quem os criou idealiza. Há um descompasso entre essas boas ideias e a vontade de produzir e a demanda pelo uso. Não acho que estejam usando muito", diz, aproveitando para se referir a uma pesquisa do Ibope publicada pela Folha de S. Paulo que mostra velhos conhecidos dos eleitores paulistas, como Paulo Maluf, Marcos Feliciano e Celso Russomano, liderando intenções de voto, um contraste em relação ao que se viu nos protestos de 2013 quando manifestantes pediam reforma política e outras mudanças no cenário brasileiro.

O próprio projeto Excelências foi pioneiro, em 2006, nesse caminho em busca de transparência e participação mais ativa dos cidadãos no processo eleitoral. Seis anos depois, outro embrião, de dimensão menor, surgiu, em Porto Alegre, nas últimas eleições municipais. Assim como o Voto a Voto, o projeto Voto Como Vamos pretendia colocar candidatos e eleitores em contato, mas a proposta de interação era mais ativa e direta. Por meio da plataforma, os segundos podiam avaliar e discutir as propostas dos primeiros com os próprios autores; demandava, portanto, um interesse e esforço bastante fortes de ambas as partes.

Hoje o site permanece ativo mas não atualizado. Nem era o objetivo do grupo de criadores usar a plataforma para as eleições majoritárias, a ideia era "arrumar a casa", como explica uma das idealizadoras, Amaralina Xavier. "Foi uma participação pequena de candidatos à câmara municipal e à prefeitura. Mas mesmo naquele contexto de 2012, antes dos protestos do ano passado, conseguimos mobilizar muita gente e estimulá-las a indagar os candidatos". O projeto arrecadou R$ 15 mil de 257 doadores pelo site de financiamento colaborativo Catarse, o suficiente para os primeiros meses de funcionamento. A publicitária avalia como positiva a experiência, que ainda deve ser retomada em Porto Alegre. "Na época, eram poucos grupos investindo nisso. Que bom que hoje tem outras iniciativas".

Assim como para Nunes, para Amaralina, a proliferação de projetos como esses podem ser vistos como uma herança dos protestos de 2013, associada ao contexto de mais acesso a novas tecnologias e ao conhecimento de programação. "É uma grande mentira dizer que jovem não gosta de política. Eles querem participar, mas muitas vezes não sabem como nem acham que têm conhecimento para tanto. As pessoas não precisam ir pra rua para exercerem sua cidadania. O fruto dos protestos é a vontade de saber mais sobre política e entender o que se passa. As pessoas viram que elas podem participar desse processo".

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