Associações repudiam ataque ao cinegrafista que cobria a prisão de Roberto Jefferson
Cinegrafista foi agredido por apoiadores de Jair Bolsonaro enquanto trabalhava; confira manifestações de associações de jornalismo
Um cinegrafista da Inter TV, afiliada da Rede Globo, foi agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto trabalhava na cobertura da tentativa de prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, que atirou contra agentes da Polícia Federal. Associações de jornalismo se manifestam em defesa do profissional, após ataques que aconteceram neste domingo, 23.
Foram divulgadas notas de repúdio pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e os Sindicatos de Jornalistas da cidade e do Estado do Rio de Janeiro.
Confira:
Fenaj, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio
"Não podemos naturalizar e nem aceitar essa situação. Desde 2019, houve uma explosão da violência contra a categoria, a partir da chegada ao poder da extrema-direita. Passamos de 135 agressões, em 2018, para 430 em 2021.
Com Jair Bolsonaro no governo, há três vezes mais agressões a jornalistas do que havia antes. É mais do que um caso por dia. Desde que chegou ao poder, o presidente é o principal agressor: em 2021, Bolsonaro realizou 147 agressões a jornalistas, 34% do total nacional.
Somando as agressões cometidas por seus apoiadores, filhos políticos e membros do governo, o bolsonarismo responde por 70% dos casos de violência registrados contra a categoria no ano passado.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e os Sindicatos de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e do Estado do Rio de Janeiro repudiam e condenam mais esse ato de violência contra um trabalhador da mídia. Ao mesmo tempo, cobram das autoridades a apuração e punição do agressor”.
Abraji
"A Abraji se solidariza com o repórter cinematográfico Rogério de Paula e toda equipe da InterTV. Espera que as autoridades fluminenses investiguem com celeridade a agressão ao cinegrafista. É inadmissível que profissionais de imprensa sejam impedidos de realizar o seu trabalho de levar informações de interesse público para a sociedade.
Além do ataque contra o repórter cinematográfico, foram registradas hostilidades contra outros jornalistas no entorno da casa do ex-deputado. Isso é sinal de que, nos próximos dias, todas as entidades que prezam por um ambiente democrático no Brasil devem permanecer vigilantes em defesa do exercício do jornalismo.
A Abraji também pede especial atenção das autoridades de segurança pública do país para que jornalistas tenham condições de trabalhar em segurança. Recomenda ainda que veículos de imprensa reforcem orientações e condições de segurança a seus profissionais na cobertura eleitoral".
Agressões
O profissional trabalhava na cobertura da tentativa de prisão de Roberto Jefferson, que atirou contra agentes da Polícia Federal.
O grupo de bolsonaristas cercou o jornalista e, com ameaças, tentou fazer com que ele desligasse a câmera. Um homem empurrou o cinegrafista pelas costas, que se desequilibrou, derrubou a câmera e bateu com a cabeça no chão. O profissional chegou a desmaiar.
O Corpo de Bombeiros socorreu o jornalista, que foi encaminhado para o hospital Nossa Senhora da Conceição, que fica na cidade vizinha de Três Rios.
Segundo a Globo News, o cinegrafista está lúcido e passa por exames. A Inter TV afirmou que vai registrar um boletim de ocorrência.
Jefferson resistiu por 8 horas ao cumprimeiro da ordem de prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e, por volta das 19 horas de domingo, se entregou. Na madrugada desta segunda-feira, 24, o ex-deputado foi preso no Presídio José Frederico Marques, conhecido como Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro.
Prisão
Roberto Jefferson foi preso em agosto de 2021 por ameaças aos ministros do STF, com vídeos em que empunhava armas. Ele ficou no Complexo Prisional de Gericinó, em Bangu, no Rio, mas foi transferido em janeiro deste ano para a prisão domiciliar. A defesa alegou que ele estava com a saúde fragilizada.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que o ex-deputado federal e ex-presidente voltasse para a cadeia após ter descumprido as condicionantes de sua prisão domiciliar.
Na última semana, Jefferson apareceu em um vídeo publicado pela filha, a ex-deputada Cristiane Brasil, proferindo ofensas contra a ministra Cármen Lúcia, do STF. O petebista comparou a ministra com uma “prostituta” por ter acompanhado o voto do ministro relator, Alexandre de Moraes, à transmissão de declarações falsas contra Lula, candidato do PT à presidência, pela rádio Jovem Pan.
O ex-deputado é investigado no inquérito que apura a atuação de uma organização criminosa que teria atentado contra a Democracia e as Instituições brasileiras.
Jefferson também foi condenado por participação no esquema do Mensalão em novembro de 2012, a 7 anos e 14 dias de prisão pela venda de votos. Três anos depois, ganhou a liberdade condicional. Em 2008, em audiência na Justiça, confessou ter recebido R$ 4 milhões do esquema.