Beto Richa e a mulher são transferidos para quartel da PM
Candidato ao Senado nas eleições 2018, tucano está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos
Presos nesta terça-feira, 11, o ex-governador o Paraná e candidato ao Senado nas eleições 2018 pelo PSDB, Beto Richa, e sua mulher, Fernanda Richa, foram transferidos do Complexo Penal de Pinhais para o Regimento da Polícia Montada, um quartel da Polícia Militar em Curitiba, por ordem do desembargador Laertes Ferreira Gomes, da 13ª Vara Criminal. Além deles, outras 15 pessoas, entre eles assessores próximos do tucano, foram alvo de ordem de prisão nesta terça-feira.
Alvo de duas operações policiais deflagradas simultaneamente - uma delas é a 53ª fase da Operação Lava Jato -, Richa é suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude em licitações do setor de rodovias no Estado, durante seus dois governos, entre 2011 a abril de 2018. A defesa do ex-governador Beto Richa informou que desconhecia "a razão das ordens judiciais proferidas". "A defesa do ainda não teve acesso à investigação."
Richa tem 28% das intenções de voto na corrida por uma vaga no Senado, atrás apenas do candidato do MDB, o também ex-governador Roberto Requião, 43%, segundo a última pesquisa Ibope.
Os policiais vasculharam seu apartamento e arquivos do Palácio Iguaçu, a sede do governo estadual, em busca de provas para as Operações Radiopatrulha, do Ministério Público do Paraná, e Piloto, da Lava Jato. A primeira investiga desvios em contratos do programa Patrulha do Campo, do governo estadual, que promove o asfaltamento e obras em estradas rurais, e a segunda em uma parceria público privada com a Odebrecht para obra de duplicação da rodovia PR-323.
Ambas reuniram indícios de um suposto esquema de propinas no governo estadual com empreiteiras, que teria irrigado campanhas eleitorais e patrocinado o enriquecimento ilícito do tucano e seus aliados, segundo os investigadores. Grampos telefônicos, gravações feitas por um dos envolvidos, quebras de sigilos e delações premiadas fundamentam os pedidos de prisão e buscas, autorizados pelas Justiças Estadual e Federal.
Temporária
A prisão de Richa e de outras 14 pessoas foram decretadas pelo juiz da 13ª Vara Criminal Estadual, Fernando Fischer, a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual. Ela é temporária - vale por cinco dias. Além dele, foram presos sua mulher, Fernanda Richa (ex-secretária da Família), o irmão José Richa Filho, o Pepe Richa (ex-secretário de Infraestrutura do Estado), seu ex-secretário de Assuntos Estratégicos Edson Casagrande, o ex-chefe de gabinete Deonilson Roldo, o ex-chefe do Cerimonial Ezequias Moreira, seu primo Luis Abi Antoun, seis empresários e dois advogados. Entre os empresários está Joel Malucelli, suplente do senador Alvaro Dias, candidato do Podemos à Presidência nas eleições 2018. Malucelli está na Itália. Todos alegam inocência.
O coordenador do Gaeco de Curitiba, Leonir Batisti, afirmou investigar "práticas de fraude a licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução à Justiça." Questionado sobre impactos da prisão na disputa eleitoral, ele disse que "não podemos parar nossos trabalhos por motivos dessa natureza."
Coincidência
Às 6 horas, policiais civis chegaram à portaria do prédio da família Richa, em Curitiba e encontraram os agentes federais. Era a Operação Piloto. O nome é referência ao codinome usado pelo Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina - da Odebrecht para identificar Richa. A empresa confessou ter pago R$ 4 milhões para o ex-governador em 2014 como contrapartida por ter sido beneficiada na licitação para a duplicação da PR-323.
Laudo da PF identificou provas do repasse de R$ 3,5 milhões a "Piloto", que tiveram como principal operador o empresário Jorge Theodoro Atherino, suspeito de ser um sócio oculto de Richa em negócios imobiliários. Atherino foi preso pela Lava Jato. O juiz federal Sérgio Moro decretou ainda a prisão preventiva de Deonilson Roldo e a temporária de Tiago Correa.
Ao autorizar a deflagração da Operação Piloto, Moro observou que o esquema investigado não "trata de um crime trivial". "O contexto não é de envolvimento ocasional em crimes de corrupção, mas da prática de crimes de grande corrupção e de complexas operações de lavagem de dinheiro." As duas operações deflagradas ontem têm em comum as revelações do ex-diretor do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) do Paraná Nelson Leal Júnior, que virou delator. À noite, a Justiça mandou que Beto Richa e Fernanda ficassem detidos em um quartel da PM.