Descarte de Marçal e boletim de ocorrência: Boulos e Nunes dão início à campanha do 2º turno em SP
Atual prefeio apostou em Encontro com Mulheres; candidato do PSOL se dirigiu à imprensa e atacou adversário
Após a conclusão do primeiro turno das eleições para a Prefeitura de São Paulo, os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) iniciaram suas campanhas com compromissos marcantes e distintos. A ansiedade parece que falou mais alto ente a equipe do candidato federal, que cometeu uma gafe logo de cara ao queimar a largada.
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O psolista marcou uma agenda de rua na manhã desta segunda-feira, 7 -- dentro de um horário ainda proibido para pedir votos, de acordo com a legislação eleitoral -- e precisou cancelar em cima da hora.
Boulos faria uma caminhada pelo comércio no bairro República, no centro da capital paulista, às 11h45, poucas horas após seguir para o segundo turno em São Paulo. No entanto, próximo ao horário, quando a imprensa, inclusive a reportagem do Terra, e alguns apoiadores com bandeiras já estavam no local para acompanhar, a agenda foi cancelada.
Um novo evento com o psolista foi marcado para o fim desta tarde. Boulos fez coletiva de imprensa com parlamentares e lideranças partidárias em um hotel no bairro Consolação, na capital paulista. Enquanto isso, Nunes esteve presente em um encontro com mulheres já de olho no eleitorado feminino, que representa a maior parcela de eleitores da capital.
Nas duas campanhas, era flagrante o alívio por não ter mais Pablo Marçal (PRTB) na disputa. O ex-coach –que ficou em terceiro lugar na disputa—foi ponto de polêmica envolvendo os dois candidatos. Porém, a ausência do influenciador não significou uma campanha menos inflamada, ambos os lados subiram o tom nos ataques.
B.O resgatado e críticas ao Centrão
Boulos foi o primeiro a aparecer para coletiva. No centro da capital, o deputado federal deixou claro seu posicionamento no segundo turno. O psolista criticou o adversário, chamando-o de “pau-mandado do Centrão”. Ele subiu o tom e afirmou que “São Paulo não pode ficar mais quatro anos com um prefeito fraco”. Além disso, deixou claro que a sua estratégia a partir de agora é de demarcar quem está promovendo uma "mudança" e quem não está.
Sua vice, Marta Suplicy (PT) não marcou presença. Conforme a assessoria dela, Boulos falou em nome da chapa. Estavam presentes vários vereadores do PSOL, como Amanda Pschoal e Luana Alves, assim como Nabil Bonduki (PT) e os deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL), Ediane Maria (PSOL) e o deputado federal Rui Falcão (PT).
Durante a coletiva, Boulos destacou a oportunidade de construir um projeto "solidário e humano", que transforme São Paulo na "cidade mais rica do Brasil, exemplo de igualdade social, inovação e sustentabilidade".
O candidato do PSOL reafirmou seu compromisso de se conectar com a população, prometendo que não faltará a nenhum debate e enfatizando a importância do respeito entre os candidatos. “Espero que seja também um compromisso do meu adversário, que tenha esse respeito como eleitor da cidade de São Paulo, que não se esconda, que não fuja de debates e que participe para que a cidade possa comparar”, disse, se referindo à sugestão de Nunes em realizar apenas três debates dos 12 propostos para as próximas três semanas.
Já por volta das 17h, a campanha de Boulos compartilhou um vídeo que resgata o boletim de ocorrência por violência doméstica, aberto em 2011 contra Nunes por sua esposa, Regina Carnoval. "Ricardo Nunes tenta esconder, mas se enrola ao falar do boletim de ocorrência por violência doméstica registrado contra ele. As mentiras do prefeito não se sustentam", diz o texto da publicação no Instagram.
Eleitorado feminino e descarte de Marçal
A atitude foi interpretada por Nunes como "discurso de ódio", um exemplo de "jogo sujo" "Não é atoa que a rejeição dele é muito alta, porque esse tipo de comportamento é um jogo muito sujo. Como ele não tem proposta e tem esse histórico de agressividade, de invasão, de inexperiência, ele quer jogar uma cortina de fumaça", avaliou o prefeito em coletiva de imprensa.
O primeiro evento de campanha de Ricardo Nunes (MDB), após a conclusão do primeiro turno das eleições municipais, foi um Encontro com Mulheres, no salão do edifício Joelma, no centro da capital paulista.
O clima geral era de festa. Apoiadores e funcionários da campanha do emedebista circulavam sorridentes pelo salão enquanto o prefeito não chegava. A música alta abafava o som das conversas. Nunes foi recebido ao som Nunestar, jingle da campanha que usa o hit Gangnam Style, sucesso em 2012 do sul-coreano Psy.
A escolha do público feminino não é aleatória, as mulheres representam 54% do eleitorado da cidade. "Eu conto muito com vocês", disse Nunes, que aproveitou o evento também para fazer uma espécie de 'balanço' da sua gestão e solicitar ao grupo presente que 'espalhassem' as suas ações de governo.
Nunes também deu indícios sobre o tom da campanha contra Boulos, candidato que ele definiu como de "extrema esquerda" e "inexperiente". "A cidade agora vai definir o seu futuro entre a experiência e a inexperiência. Eu fui presidente de entidades, empresário, vereador...Ele [Boulos] não tem experiência em fazer gestão", afirmou.
O evento, que também contou com a participação de Cris Monteiro (Novo), Janaína Lima (PP) e da candidata Marina Helena (Novo), anunciou novos apoiadores à reeleição de Nunes: o apoio do Partido Novo e do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
“A gente precisa garantir que o Boulos não vai chegar lá”, afirmou Marina, que também desejou que o atual prefeito tenha um segundo mandato de excelência, caso seja eleito. Além disso, ela se colocou à disposição para ajudar o candidato no que for preciso, para que ele supere Boulos no segundo turno, que acontece no dia 27. “É um grande prazer. E, como mãe lactante, peço um grande favor: cuide das nossas crianças”, acrescentou Marina, em meio a aplausos da plateia.
Já sobre um possível apoio de Pablo Marçal (PRTB), Nunes foi taxativo: "Não vou procurar [Marçal]. Se for procurado, eu vou dizer a ele que espero que tenha aprendido com os erros, que ele possa fazer uma boa reflexão de tudo aquilo que cometeu, que ele siga o caminho dele e eu o meu".
O descarte de um possível apoio do ex-coach, no entanto, não representa desinteresse pelos seus eleitores. Nunes reconheceu a relevância do eleitorado do candidato do PRTB, ainda mais em um cenário tão acirrado como o consolidado no primeiro turno.
"Eu preciso que os eleitores do Pablo Marçal entendam que estamos em uma batalha contra extrema-esquerda. É um eleitor de direita. O meu campo representa o centro e a direita. As questões que o Marçal fala, como curso profissionalizante e de educação financeira, são coisas que já estamos fazendo", explicou. A menção às propostas de Marçal é uma resposta às condições citadas por ele para endossar Nunes.
"Vai depender do que ele [Nunes] falar sobre as propostas. Ele pegou muito pesado com a minha pessoa, foi muito injusto comigo [...] Tomara que o Ricardo leve em consideração algumas das nossas propostas, porque afinal de contas o eleitorado ele é exatamente o tamanho do meu eleitorado aqui em São Paulo, então, espero que ele leve em consideração", disse Marçal em seu primeiro discurso após a derrota, na noite de domingo, 6.
Primeiro turno mais acirrado da história em SP
Ricardo Nunes, Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal protagonizaram o primeiro turno mais acirrado da eleição municipal de São Paulo desde a redemocratização, em 1985. O ex-coach e terceiro colocado, por exemplo, ficou de fora do segundo turno por 56.854 votos.
A quantidade de votos, superior ao número total de eleitores de muitas cidades do interior do Brasil, representa 0,93 ponto percentual do maior colégio eleitoral do Brasil --pontuação que deixou Marçal, com 28,14% (1.719.274 votos), atrás de Boulos, 2º colocado com 29,07% (1.776.127 votos).
Entre Nunes e Boulos, que disputam o segundo turno, a diferença foi ainda menor. O atual prefeito teve 29,48% (1.801.139 votos) contra 29,07% (1.776.127 votos) do psolista, 0,41 ponto percentual (25.012 votos).
A diferença entre Nunes e Marçal, primeiro e terceiro colocados no pleito de 2024, também foi a menor desde 1985, 1,34% dos votos válidos (81.865 votos).