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Bolsonaro defende contagem paralela de votos pelas Forças Armadas

Presidente volta a levantar suspeita sobre lisura das eleições, ataca STF e diz que eventual prisão do filho Carlos seria 'grave'

27 abr 2022 - 19h26
(atualizado às 23h15)
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BRASÍLIA - Em cerimônia no Palácio do Planalto para defender o que chamou de "liberdade de expressão", o presidente Jair Bolsonaro pregou nesta quarta-feira, 27, uma contagem paralela de votos, controlada pelas Forças Armadas. Diante de uma plateia na qual estava o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a oito anos e nove meses de prisão e recebeu o perdão presidencial, Bolsonaro levantou novas suspeitas sobre as urnas eletrônicas.

O presidente transformou o Salão Nobre do Planalto em palco de ataques ao Supremo, à imprensa, e insistiu na retórica anti-TSE. Batizado de "ato cívico", o evento foi organizado pelas bancadas evangélica e de segurança pública.

"Não precisamos de voto impresso para garantir a lisura das eleições", afirmou Bolsonaro, ao destacar que as Forças Armadas apresentaram sugestões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Como os dados vêm pela internet para cá e tem um cabo que alimenta a sala secreta do TSE, uma das sugestões é que, nesse mesmo duto que alimenta a sala secreta, seja feita uma ramificação um pouquinho à direita para que tenhamos do lado um computador das Forças Armadas, para contar os votos no Brasil", emendou. Em seguida, estimulou a desconfiança no processo. "Dá para acreditar nisso, uma sala secreta onde meia dúzia de técnicos diz 'Olha, quem ganhou foi esse'?"

Daniel Silveira exibiu um quadro com o decreto do perdão concedido por Bolsonaro, emoldurado em verde-amarelo. Foi um presente do colega Coronel Tadeu (PL-SP). Silveira foi condenado por estimular atos antidemocráticos e agressões a ministros do STF. Questionado por jornalistas se sairia candidato neste ano, Silveira mais uma vez desafiou o STF: "Pela lei, nada me impede". Nesta terça-feira, 26, o ministro Alexandre de Moraes - relator do processo contra Silveira - disse que o deputado continua inelegível, apesar do indulto presidencial.

'Vai prender o filho do presidente por fake news?', pergunta Bolsonaro sobre Carlos

Bolsonaro disse ter sido informado de que seu filho Carlos, vereador no Rio pelo Republicanos, poderia ser preso no inquérito das fake news, nas mãos de Moraes. "O cerceamento da liberdade de expressão, o cerceamento das mídias sociais, não atinge apenas a mim. Quem foi meu marqueteiro? Foi o Carlos Bolsonaro. (...) Por várias vezes chegou para mim informes de ameaça de prisão por fake news", afirmou ele.

Sem esconder a contrariedade, Bolsonaro elevou o tom. "Vai prender o filho do presidente por fake news? É grave? É, como é grave prender qualquer um, brasileiro. Mais grave ainda é prender um parlamentar, que tem a liberdade para defender o que bem entender e usar da palavra como bem lhe aprouver também. Isso é liberdade", disse o chefe do Executivo, aplaudido pela plateia.

A cerimônia no Planalto durou quase duas horas. Vinte e dois deputados e um senador discursaram. "Não pensem que uma possível suspeição de uma eleição vai ser apenas no voto para presidente, vai entrar para o Senado, a Câmara, se tiver, obviamente, algo de anormal", insistiu Bolsonaro.

O presidente disse que os melhores quadros das Forças Armadas participam da comissão de transparência eleitoral e contestou os convites feitos pelo TSE a observadores internacionais, para que eles acompanhem as eleições no Brasil.

"Nós não seremos moldura, não iremos para lá para bater palmas. O pessoal quer dar ar de legalidade convidando observadores internacionais. Imagine chegar aqui americano, sueco... Vai fazer o quê? Vai ficar observando o cara apertar um botão? Com que segurança ele pode dizer que aconteceu (sic) aquelas eleições?"

Ao defender a presença dos militares na apuração dos votos, Bolsonaro recorreu a um discurso com acenos golpistas e, mais uma vez, atacou o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Ex-presidente do TSE, Barroso disse na semana passada a um grupo de estudantes brasileiros na Alemanha, por videoconferência, que é preciso ter atenção ao "retrocesso cucaracha", que, na sua visão, consiste em envolver o Exército com política.

"Agora o Barroso diz: (...) As Forças Armadas estão sendo orientadas a atacar o TSE. Que acusação é essa?", perguntou. "Isso não é o papel de alguém que é democrata, que luta por liberdade, que é o bem do seu povo." Nos últimos dias, o presidente tem repetido para apoiadores que "povo armado jamais será escravizado". COLABOROU FELIPE FRAZÃO

Estadão
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