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Bolsonaro diz ter 'exército' de apoiadores e que às vezes 'embrulha estômago' cumprir Constituição

Em ato do PL com forte tom eleitoral, presidente diz que sua luta é 'do bem contra o mal' e insiste em negar corrupção no governo, apesar da recente denúncia envolvendo 'gabinete paralelo' de pastores no MEC

27 mar 2022 - 13h54
(atualizado às 19h00)
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BRASÍLIA - Ao participar neste domingo, 27, de ato político do PL, o presidente Jair Bolsonaro disse que às vezes "embrulha o estômago" ter de cumprir a Constituição. Em discurso com tom eleitoreiro, o presidente afirmou, ainda, que tomará decisões "contra quem quer que seja" se tiver apoio de seu "exército" de apoiadores na disputa que chamou de "luta do bem contra o mal".

Bolsonaro fez referências indiretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal adversário político, e insinuou novamente que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e até a imprensa querem tirá-lo do poder. Foi ao dizer que não há corrupção no governo, mesmo após o Estadão ter revelado a intermediação de verbas por pastores no Ministério da Educação, com pedido de propina, que o presidente mencionou a Constituição.

"Para defender a liberdade e a nossa democracia, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E a certeza do sucesso é que eu tenho um exército ao meu lado, e esse exército é composto de cada um de vocês", destacou Bolsonaro. "Por vezes, me embrulha o estômago ter que jogar nas quatro linhas (da Constituição), mas eu jurei e não foi da boca para fora", completou ele, reforçando a tese de que seus rivais e até mesmo a Justiça descumprem a Carta.

O "inimigo" do País, na visão do presidente, é interno, e não externo. "Não é uma luta da esquerda contra a direita. É uma luta do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta", disse Bolsonaro no pronunciamento que arrancou poucos aplausos dos presentes. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em 2008 por tortura, na época da ditadura militar, foi chamado por ele de 'velho amigo'.

Público

Convocado para lançar a candidatura de Bolsonaro ao segundo mandato, o encontro do PL acabou se transformando em ato para filiação ao partido. Advogados que atendem a equipe do presidente alertaram que era melhor mudar o escopo do evento para evitar problemas com a Justiça Eleitoral. Pela lei, a campanha só é permitida a partir de 16 de agosto.

O ato ocorreu no mesmo dia em que o PL conseguiu liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir manifestações políticas no festival de música Lollapalooza, após as cantoras Pabllo Vittar e Marina criticarem o presidente. "Aqui não é local de fazer campanha para ninguém", discursou Bolsonaro, em clima de comício. Os organizadores estimaram o público presente em 7 mil pessoas. Havia, no entanto, muitos espaços vazios no Centro de Convenções Internacional do Brasil, onde foi realizado o encontro.

Embora não tenha mencionado diretamente a crise no MEC e a pressão para demitir o ministro da Educação, Milton Ribeiro, Bolsonaro afirmou que "buscam qualquer coisa, qualquer gota d'água para transformar em tsunami" no governo. Em outro momento, disse que todos conhecem o seu comportamento. "Acabou a farra com dinheiro público", declarou, sem mencionar o escândalo com os pastores.

Vários ministros compareceram ao ato, como Ciro Nogueira (Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tereza Cristina (Agricultura), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Bolsonaro fez questão de dar o microfone para Tereza Cristina, candidata ao Senado; Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), que vai se filiar ao Republicanos nesta segunda-feira, 28, e entrará na disputa ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo; e João Roma (Cidadania), ministro que deixou o Republicanos e se filiou ao PL para concorrer ao governo da Bahia.

O general Walter Braga Netto, ministro da Defesa e cotado para ser vice do presidente na chapa da reeleição, não compareceu ao ato. A ausência chamou a atenção e provocou dúvidas sobre a manutenção da candidatura do militar, que deve se filiar ao PL nos próximos dias. Já o general Augusto Heleno, outro militar que também pleiteava a vaga de vice, não só estava lá como fez questão de discursar e dizer que acredita no Brasil.

O Estadão apurou que Braga Netto não foi justamente para tentar desvincular o ato da roupagem de campanha. Dos 23 ministros de Bolsonaro, oito ou 9 devem deixar o cargo no fim desta semana para disputar eleições.

Na tentativa de se aproximar do público feminino -- segmento em que enfrenta rejeição --, Bolsonaro subiu ao palco com a primeira-dama, Michelle, que também tem aparecido mais em cerimônias no Palácio do Planalto. Além do ministro João Roma, filiaram-se neste domingo ao PL o titular de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (SE), que estava no MDB.

Estadão
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