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Bolsonaro dobra aposta em Carlos para campanha nas redes

Filho do presidente vai continuar comandando 'guerra virtual', mas PL defende a contratação de marqueteiro indicado por Valdemar Costa Neto

23 jan 2022 - 05h10
(atualizado às 09h24)
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Vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto
16/01/2019
REUTERS/Ueslei Marcelino
Vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto 16/01/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

A intenção de profissionalizar o marketing da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro esbarrou no vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Ao filho "zero dois" é atribuída a estratégia para as redes sociais da campanha vitoriosa do presidente em 2018. Por influência da ala política do governo, no entanto, Bolsonaro avalia e conversa com marqueteiros sugeridos por ministros e por Valdemar Costa Neto, mandachuva do PL. Um dos cotados para assinar os programas do presidente é o publicitário Duda Lima, homem da confiança de Costa Neto.

Mesmo assim, Bolsonaro já deixou claro que Carlos vai manter a comunicação digital sob seu controle. Enquanto políticos do Centrão que participam do núcleo da campanha defendem contratar um marqueteiro do ramo, os bolsonaristas mais ligados à "direita raiz" e o próprio presidente confiam no tino de Carlos, a quem já respondiam os integrantes do grupo conhecido no Palácio do Planalto como "gabinete do ódio".

Ministros palacianos dão como certo que, mesmo com um profissional de publicidade do agrado de Bolsonaro, o comando da comunicação será compartilhado com Carlos. A ideia é que o vereador continue desempenhando papel central nas redes sociais do presidente, estimulando a guerra virtual para atacar opositores e desafetos do governo.

Bolsonaro tem 43 milhões de seguidores em perfis e contas oficiais no Facebook, Instagram, YouTube, Twitter, Tik Tok e Telegram. Conta, ainda, com um emaranhado de páginas apoiadoras, batizadas internamente de "satélites", além de grupos de aplicativos de mensagens no WhatsApp e redes mais recentes adotadas pela direita, como o Gettr, e a Bolsonaro TV.

Com frequência, o monitoramento de adversários políticos e empresas do ramo identifica o uso de contas automatizadas pró-Bolsonaro, os robôs, com disparos de mensagens favoráveis ao presidente ou de conteúdo difamatório contra rivais a partir de países da Ásia ou do Leste Europeu. Essa rede digital chegou a ser alvo de apurações no Supremo Tribunal Federal, na CPMI das Fake News e também no Tribunal Superior Eleitoral.

Mambembe

O presidente resiste a dar poder a um marqueteiro que não seja próximo de seu círculo mais íntimo. Nas conversas com aliados, ele sempre repete que conseguiu chegar ao Planalto, em 2018, a partir de uma estratégia "amadora". À época, tudo deixava transparecer ações de improviso e estética mambembe. Para Bolsonaro, isso pode dar certo novamente.

Em dezembro, o presidente garantiu que não pretendia contratar um marqueteiro experimentado. "Não vou contratar marqueteiro, não é essa a intenção. Devo ter produtores de imagens. Nós temos imagens para mostrar armazenadas das minhas viagens pelo Brasil todo", argumentou ele.

A cúpula da campanha bolsonarista, no entanto, deu sinais de que o presidente vai ceder à contratação de um profissional, algo de que seus principais adversários não abrem mão. Além de Costa Neto, insistem nessa tese os ministros Fabio Faria (Comunicações) e Ciro Nogueira (Casa Civil).

A principal justificativa para que um marqueteiro de renome seja chamado é a demanda de produção de programas eleitorais e inserções para rádio e TV. Há agora a previsão de uma aliança com partidos do Centrão, e não mais os 8 segundos da época em que Bolsonaro era filiado ao PSL.

A exposição aumentará ainda mais se o chefe do Executivo disputar o segundo turno. "Vai ter, sim, uma coordenação profissional. O presidente Valdemar tem estudado bastante isso e trabalhado", disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao canal CNN, citando o presidente do PL.

Assim como Costa Neto, Duda Lima é de Mogi das Cruzes, mantém duas agências na cidade (RP Propaganda e F.A.R.O.) e tem parentes no PL. Costuma dar cursos e orientar candidatos do partido a cargos no Legislativo e já trabalhou em campanhas para prefeituras paulistas. Em 2016, ele foi marqueteiro do deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP), então candidato a prefeito de São Paulo.

Ao Estadão, Duda disse que ainda não foi procurado para tratar da campanha do presidente. "Ninguém do partido falou comigo. Faço trabalhos pontuais para o PL há bastante tempo", afirmou ele.

Na semana passada, Bolsonaro conversou com o estrategista pernambucano Paulo Moura, da Exata Inteligência Política, levado pelo ministro do Turismo, Gilson Machado. As conversas, porém, não deslancharam. Moura disse ao Estadão que não recebeu nenhuma proposta após o encontro com o presidente.

Sérgio Lima, publicitário da agência S8.Wow, também é lembrado para a função. Lima atuou no projeto do Aliança pelo Brasil, partido que não saiu do papel, mas ainda não teve conversas com Bolsonaro e Costa Neto.

Rivais

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem no comando de comunicação da campanha o jornalista e ex-ministro Franklin Martins, mas o PT ainda negocia a contratação dos publicitários Raul Rabelo ou Sidônio Palmeira, ambos baianos.

O nome de maior cacife e experiência no páreo presidencial é o de João Santana, marqueteiro contratado por Ciro Gomes (PDT). Santana assinou campanhas petistas no passado, como as de Lula e Dilma Rousseff. Após ser preso, virou colaborador da Lava Jato.

Já o governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato do PSDB, é orientado pelo marqueteiro Daniel Braga. O publicitário Fernando Vieira, que atende o Podemos, colabora com a campanha de Sérgio Moro. Nada, porém, está fechado, tanto que Moro ainda avalia contratar outro profissional.

Estadão
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