Bolsonaro e Lula apagaram tuítes em que trocam ataques e repetem desinformação
Nesta semana, apoiadores de Bolsonaro usaram a visita do petista ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para associá-lo a facção
Os dois candidatos à Presidência que disputam o segundo turno tentaram esconder dos eleitores publicações de suas redes sociais em que atacaram adversários ou exageraram dados desde o início da campanha eleitoral, em 16 de agosto.
- Juntos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) apagaram 65 tuítes, dos quais metade (32) continha ofensas ou informações enganosas;
- O candidato à reeleição tirou 30 postagens do ar, das quais 11 faziam ataques a opositores e 12 reproduziam desinformação;
- Entre os tuítes deletados por Bolsonaro, cinco associavam Lula ao crime organizado. Em outros seis, o presidente acusou a esquerda de defender criminosos ou perseguir religiosos;
- Já o petista apagou 35 postagens, das quais 8 com ataques a Bolsonaro;
- Lula disseminava desinformação em apenas uma postagem apagada. O tuíte tratava do desmatamento em seu governo, reproduzindo fala dita durante debate na Globo.
Os tuítes de Bolsonaro que associavam Lula a facções criminosas foram apagados após decisões da Justiça Eleitoral.
No final de semana do primeiro turno, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, mandou o presidente e outros políticos e influenciadores apagarem posts que tiravam de contexto suposto áudio de integrante do PCC para afirmar que a facção pedia voto em Lula. Ainda em junho, o magistrado havia mandado excluir outras postagens que faziam falsa associação entre a facção e o PT.
Apesar das decisões, Bolsonaro voltou a tuitar sobre o tema na semana seguinte ao primeiro turno. "É preciso estar atento aos sinais. O apoio maciço de presos e de chefe de facção ao Lula não é mera admiração", escreveu no sábado (8), em referência ao áudio enganoso. A publicação ficou menos de 24 horas no ar.
A narrativa de associação de Lula e o PT ao crime foi uma das principais desinformações dessas eleições, conforme mostrou reportagem do Aos Fatos. Nesta semana, apoiadores de Bolsonaro usaram a visita do petista ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para voltar a associá-lo falsamente a facções criminosas.
O presidente também acatou decisões judiciais ao excluir sete postagens que usavam imagens dos atos de sete de setembro e duas com trechos de seu discurso na ONU. Em ambas as ocasiões, Bolsonaro mentiu sobre casos de corrupção e inflou ações no desenvolvimento de políticas de infraestrutura e de políticas sociais no seu governo.
O TSE havia mandado apagar as publicações por considerar que o presidente estava fazendo uso eleitoral dos eventos oficiais.
Outras postagens que mostravam Bolsonaro em encontros com apoiadores também foram apagadas. Não estão mais disponíveis tuítes do presidente com trechos da festa de Barretos (SP) que participou — alvo de ação movida pelo PDT, mas rejeitada pelo TSE — nem de motociatas realizadas em Prudentópolis (PR) e Imperatriz (MA).
Já o petista excluiu uma publicação com link para live realizada com artistas no dia 26 de setembro, que foi alvo de ação por parte da campanha de Jair Bolsonaro, que o acusou de fazer showmício, o que é proibido pela Lei Eleitoral. O vídeo também foi removido do YouTube.
Vídeos excluídos. Além de tuítes, também foram tirados do ar 23 vídeos dos candidatos à Presidência desde o início da campanha. A maioria (17) foi removida pela plataforma por violação de direitos autorais de empresas privadas. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, havia publicado no YouTube a íntegra de sua entrevista ao Jornal Nacional, conteúdo que pertence à Globo.
Quatro vídeos, no entanto, foram ocultados pelos próprios candidatos. Bolsonaro tornou privada a íntegra de seu discurso na ONU, e propaganda eleitoral que usava trechos de atos do 7 de Setembro, também acatando decisão judicial.
No canal de Lula foi excluída propaganda eleitoral que usava trecho de entrevista do Jornal Nacional, da Globo, para atestar sua inocência. A emissora pediu à campanha que o vídeo fosse retirado do ar.
A campanha petista também optou por retirar do ar um vídeo de 2019 com o título "URGENTE: Polícia Federal invade cela de Lula às 6 horas da manhã". Na legenda, o canal se referia à Lava Jato como uma "quadrilha".
O Radar Aos Fatos procurou as candidaturas para saber os motivos das exclusões, mas não teve resposta até a publicação da reportagem.
METODOLOGIA
O Radar Aos Fatos mantém um monitoramento de todos as publicações dos candidatos à presidência. A reportagem comparou as publicações coletadas com as que ainda estão disponíveis nos perfis de Lula e Bolsonaro no Twitter e YouTube, separando aqueles que não estavam mais no ar. Então, esses conteúdos foram analisados pela presença ou não de desinformação ou ataque e suas temáticas.