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Boulos monta força-tarefa para tentar virar votos na periferia e alinha agendas com Lula em SP

Candidato do PSOL rechaça ideia de que presidente tenha se ausentado da disputa na capital paulista e diz que mandatário estará presente em segundo turno; "agora não é mais tumulto ou confusão", afirma sobre reta final

7 out 2024 - 20h24
(atualizado às 20h42)
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Guilherme Boulos
Guilherme Boulos
Foto: Leandro Paiva/@leandropaivac

O candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) mobilizou políticos e lideranças de esquerda em uma força-tarefa para ganhar votos nas periferias. A estratégia inclui o apoio de vereadores recém-eleitos e líderes locais, visando conquistar votos em suas áreas de influência. Também estão sendo planejados eventos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fortalecer a campanha.

"Nós nos reunimos com parlamentares, vereadores eleitos e lideranças de movimentos sociais e de regiões importantes da cidade para organizar o segundo turno", disse Boulos, em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 7. Ele destacou que o segundo turno marca uma nova fase da disputa, com igualdade de tempo na rádio e TV. "Agora não é mais tumulto ou confusão. São dois lados: o da continuidade e o da mudança".

A declaração foi feita durante sua primeira agenda pública após o primeiro turno das eleições em um hotel, no Centro Histórico. Boulos obteve 29,48% dos votos válidos (1.776.127), terminando em segundo lugar, apenas 25 mil votos atrás do atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), que recebeu 29,84% (1.801.139 votos). O influenciador Pablo Marçal (PRTB) ficou em terceiro, com 28,14% (1.719.274).

O candidato do PSOL reuniu jornalistas e lideranças de esquerda para um pronunciamento sobre o segundo turno da eleição. No evento, ele criticou duramente a gestão do prefeito Ricardo Nunes, seu oponente, mas destacou que espera uma reta final sem tumultos. A primeira fase foi marcada por baixarias, agressões físicas e até um laudo médico falso que o associava ao uso de cocaína.

Boulos destacou com orgulho sua trajetória nas lutas sociais e alfinetou Nunes. "Acho que o meu adversário vai ter muita dificuldade de se orgulhar do que ele fez nos verões passados". Ele criticou a proximidade do prefeito com Jair Bolsonaro e a escolha do coronel PM Ricardo Mello Araújo como vice da chapa emedebista. A declaração sugere que Boulos continuará a estratégia de associar Nunes ao bolsonarismo, tentando replicar o cenário da eleição de 2022, quando Lula venceu Bolsonaro na cidade de São Paulo.

Lula deve entrar com mais força na campanha

Boulos rechaçou a ideia de que o presidente Lula tenha se ausentado da disputa de São Paulo, argumentando que o petista tem uma agenda de chefe de Estado para cumprir. Além disso, pontuou que foi o único candidato do País a receber o presidente em eventos de campanha. O candidato afirmou que nesta segunda-feira fará uma ligação ao presidente para acertar as agendas de campanha.

"O presidente Lula tem compromissos e só pode participar das campanhas nos fins de semana ou à noite durante a semana, devido à sua agenda em Brasília", disse Boulos. "Vamos conversar, combinamos de falar por telefone hoje para ajustar as agendas entre seus compromissos presidenciais. Tenho certeza de que, assim como no primeiro turno, ele estará conosco no segundo".

Uma maior participação de Lula na campanha é vista como estratégica para Boulos ampliar seus votos nas periferias. Regiões como São Miguel Paulista e Sapopemba, na zona leste, além de Grajaú e Cidade Ademar, na zona sul, foram conquistadas por seus adversários, apesar de historicamente serem redutos da esquerda. Além de Lula, Boulos espera contar com o apoio de políticos locais para reverter votos nessas áreas.

"Itaquera, pode ficar tranquila, o vereador Alessandro Guedes já me prometeu que vai garantir a virada lá. Para mim, isso já está check, Itaquera está resolvida. Assim como os deputados Alfredinho, Enio Tatto e Nilto Tatto também garantiram a virada no Grajaú", disse Boulos, ao ser questionado sobre sua estratégia para conquistar votos nas regiões periféricas, onde seus adversários tiveram maior apoio no primeiro turno.

Campanha enxerga potencial de crescimento

Um membro da campanha de Boulos acredita que Nunes buscou fortalecer sua imagem em áreas onde o PT, especialmente Lula, tem forte apoio, para conter o crescimento de Boulos. Em resposta, o PSOL realizou eventos nessas regiões, mas isso teve dois efeitos: abriu espaço na zona leste, aproveitado por Marçal, e limitou o avanço de Boulos entre os eleitores de Lula. A estratégia para o segundo turno é reverter esse cenário.

Em relação à zona leste, onde Marçal obteve a maioria dos votos, Boulos acredita ser possível dialogar com parte desse eleitorado. Questionado sobre sua rejeição nesse grupo, ele afirma que nem todos os eleitores são ideológicos e vê oportunidade de crescimento. Ele cita a eleição de 2012 como exemplo, na qual José Serra (PSDB) terminou o primeiro turno em primeiro lugar, mas foi derrotado por Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

"Na última eleição vencida pelo campo progressista nesta cidade, Haddad chegou atrás de Serra no primeiro turno, com (Celso) Russomanno em terceiro. Na época, muitas análises afirmavam que Haddad estava derrotado, pois o eleitor de Russomanno, de direita, rejeitava o PT e a esquerda. Somando os votos de Serra e Russomanno, a vitória parecia impossível para Haddad. No entanto, ele venceu a eleição".

Em comparação com a eleição anterior, Boulos apresentou um desempenho superior, aumentando sua votação de 20,25% no primeiro turno de 2020 para 29,48% agora, uma diferença de 695.391 votos. Ele também conquistou 20 das 57 zonas eleitorais da capital, um avanço em relação ao pleito passado, quando não venceu em nenhuma, sendo superado por Bruno Covas (PSDB) - que venceu em todas as zonas.

Apesar dos avanços, Boulos terá que superar desafios consideráveis para chegar ao Edifício Matarazzo. Sua taxa de rejeição é alta, atingindo 38% segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, enquanto Nunes apresenta índices de rejeição significativamente menores (25%). Além disso, pesquisas antes do primeiro turno também indicavam vantagem de Nunes em um possível confronto direto.

Outro desafio para Boulos será enfrentar a força da máquina municipal, geralmente favorável ao atual prefeito. Além disso, ele precisará conquistar o eleitorado de baixa renda nas periferias, onde Nunes teve melhor desempenho, conforme o mapa das zonas eleitorais. Nunes venceu na zona sul, enquanto Boulos se destacou no Centro, especialmente na Bela Vista. Marçal, por sua vez, teve seu melhor resultado na zona leste.

Estadão
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