Brasileiros 'japoneses' têm de votar sem conhecer candidatos
Muitos se mudaram para o Japão ainda muito cedo e não conhecem a realidade brasileira
Aos 21 anos, Mayara Mayumi Miyabe votará pela primeira vez no domingo. As medidas que serão tomadas pelo próximo presidente do Brasil, no entanto, dificilmente afetarão seu cotidiano. Filha de um casal de paranaenses, ela nasceu em Hamamatsu, no Japão e, apesar das origens, diz se considerar mais japonesa que brasileira.
"A maioria dos meus amigos são japoneses, e não pretendo morar no Brasil", diz a jovem, que aprendeu a falar português com os pais.
Mesmo tendo visitado o Brasil apenas duas vezes em sua vida, como tem um passaporte brasileiro, Mayara é obrigada a votar nas próximas eleições presidenciais.
À distância, no entanto, ela afirma conhecer muito pouco sobre os candidatos ao posto máximo do Executivo ou a respeito dos principais temas discutidos durante a campanha.
"Até me preocupo com os problemas do Brasil, mas não acompanhei os debates e nem sei os nomes de todos os candidatos", diz.
Questionada pela reportagem da BBC Brasil, ela só conseguiu lembrar-se dos nomes de duas presidenciáveis, a atual presidente Dilma Rousseff (PT) e a candidata Marina Silva (PSB).
"Se pudesse, não votaria em ninguém, mas me disseram que, se eu votar em branco ou nulo, vou favorecer o candidato que estiver ganhando", diz a jovem.
Obrigação
Assim como Mayara, outros jovens com cidadania brasileira que passaram a maior parte de suas vidas no exterior irão às urnas no próximo domingo para decidir quem será o próximo governante do Brasil.
No Japão, uma grande parte deste grupo está completemente imersa na cultura do país asiático. Muitos quase não falam português e não têm pretensões de voltar ao Brasil.
Embora sejam obrigados a votar, assim como os outros brasileiros, a distância faz com que muitos deles acabem desistindo de ir às urnas, mesmo estando sujeitos a penalidades, como multas e dificuldades para renovar passaportes.
B.A., de 18 anos, que prefere não se identificar, decidiu não ir às urnas no domingo.
"Acho que não tem sentido a participação de uma pessoa como eu, que não conhece e nem compreende nada sobre o Brasil."
O rapaz nasceu no Japão e só foi uma vez ao Brasil, quando era criança.
"Essa é a primeira vez que ouço falar de eleições, e não sabia que era obrigatório", confessa. "Apesar de ter nacionalidade brasileira, não entendo português e, mesmo que me obriguem a participar das eleições, não sei como é o processo e nem quem são os candidatos."
A mãe dele, D.S., de 46 anos, concorda com a decisão do filho e o apoia. "Também não votarei, primeiro porque não transferi o título e segundo porque acho que o voto deve ser um direito e não uma obrigação", diz.
"Acho que votar sem informação suficiente, estando aqui no Japão, é a mesma coisa que jogar os brasileiros que estão lá num buraco sem fundo, pois um voto pode fazer uma grande diferença no futuro de quem vive no Brasil."
Eleitores no Japão
Para auxiliar estes eleitores brasileiros que não falam ou entendem pouco do português, os consulados brasileiros terão mesários e voluntários que darão as orientações necessárias em japonês no próximo domingo.
"Vamos ajudar na localização das seções e explicaremos o máximo que for possível e permitido com relação à utilização das urnas eletrônicas", disse o cônsul-geral do Brasil em Tóquio, Marco Farani.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 354 mil brasileiros devem votar no exterior neste ano, o que representa 0,25% do eleitorado total. A maioria – cerca de 112 mil - vive nos Estados Unidos.
O Japão tem o segundo maior colégio eleitoral no exterior. Um total de 30,6 mil brasileiros, divididos em 93 seções eleitorais, são esperados nas eleições de domingo no país.
'Prefeito Lula'
O brasileiro Rodrigo Tanaka Porto, de 28 anos, nunca votou na vida e também já decidiu que não irá às urnas no próximo domingo.
O jovem deixou Campo Grande (MS) quando tinha quatro anos e, desde então, mora no Japão. "Título de eleitor? Acho que tenho sim", respondeu à BBC Brasil, depois de pensar um pouco.
Educado em escola japonesa, o português de Rodrigo flui com sotaque. "Aprendi a língua com meus amigos e em aulas na escola", conta o jovem, que confessa não saber quase nada da realidade brasileira.
A ligação mais forte que ele tem com o Brasil é o futebol de salão, sua paixão. Ele é árbitro oficial da associação japonesa na categoria amadora e sonha com a profissionalização. E quanto à política?
"Nem sei quem são os candidatos. Só o nome da Dilma e do 'ex-prefeito' (sic) do Brasil, o Lula", diz.