Campanha de Nunes avalia que apagão tem efeito eleitoral limitado apesar de ofensiva de Boulos
Entendimento é que prefeito conseguiu emplacar argumento de que concessão é responsabilidade federal diante dos ataques do adversário do PSOL, que critica resposta da Prefeitura ao episódio
Pesquisas internas da campanha de Ricardo Nunes (MDB) mostram uma oscilação negativa na intenção de voto do prefeito após o apagão que atingiu a capital paulista na última sexta-feira, 11. Interlocutores do prefeito, no entanto, veem efeito eleitoral limitado e não acreditam que o fato possa mudar o rumo do segundo turno. Eles alegam que a oscilação negativa do emedebista não se traduziu em alta de Guilherme Boulos (PSOL).
O psolista passou a apostar as fichas na tragédia e no desgaste do prefeito, apontando que Nunes é responsável por manter a ordem urbana com ações como poda de árvores e retirada das que caíram após a chuva, além da manutenção de semáforos que pararam de funcionar. O assunto dominou o primeiro bloco do debate realizado pela Band na segunda-feira, 14.
Já Nunes afirma que Boulos poderia ter agido como deputado para propor mudanças na legislação federal e empoderar as prefeituras na fiscalização das concessionárias de energia, inclusive com a possibilidade de multar as empresas.
O prefeito responde às críticas com o argumento de que pediu ao governo federal e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o rompimento do contrato com a Enel desde os apagões do ano passado, mas que nada foi feito — o Ministério de Minas e Energia anunciou na segunda-feira abertura de processo disciplinar contra a empresa, mas precisa que a Aneel recomende a ruptura do contrato para tomar medidas mais drásticas.
"A única coisa que eu peço é que o presidente Lula e que o ministro de Minas e Energia entendam o sofrimento de São Paulo. Está na mão deles a questão da Enel, é federal. Está no contrato que é o presidente que pode decretar a intervenção (na empresa) e que é a Aneel que pode fazer o processo de caducidade. O Tarcísio (de Freitas) disse bem: a gente precisa mostrar para sociedade quem é o responsável, porque, se a gente não fizer isso, eles não vão fazer nada", disse Nunes na manhã desta terça-feira.
O prefeito diminuiu o ritmo da campanha e não teve compromissos eleitorais no sábado e no domingo para focar na resposta da Prefeitura ao apagão. Ele tem utilizado as redes sociais para se comunicar diretamente com a população. Após o debate da Band, publicou um vídeo à 1h51 da madrugada desta terça no qual afirma que ainda havia 101 semáforos sem funcionar por falta de energia elétrica e que a Prefeitura aguardava a Enel desligar a rede elétrica para efetuar a retirada de 49 árvores. A empresa informou que ainda há 214 mil imóveis sem luz na Grande São Paulo.
"Do ponto de vista do Ricardo Nunes, o apagão só vai mostrar a sua capacidade de trabalhar incansavelmente, de servir à cidade, de ser um prefeito eficiente. Se tiver algum efeito eleitoral, será em relação ao adversário, pois a população está vendo que não faz nada, só critica e usa uma tragédia da natureza unicamente para tentar obter vantagem política", disse Enrico Misasi, presidente do MDB de São Paulo.
Baleia Rossi, presidente do MDB nacional e coordenador da campanha, avalia que Nunes conseguiu demonstrar que apenas o governo federal tem poder para interferir na concessão com a Enel. "Estamos monitorando e não haverá mudança eleitoral na escolha do voto", disse o parlamentar. Pesquisa Real Time Big Data divulgada na terça mostra Nunes com 53% contra 39% de Boulos. A margem de erro é de três pontos porcentuais.
Encontro com Bolsonaro
A previsão da campanha é que o prefeito retome a agenda como candidato à medida em que a situação se normalizar na capital. Nunes tem encontrado marcado na próxima terça-feira, 22, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A expectativa, segundo aliados, é que eles almocem em um restaurante no Morumbi, na zona sul paulistana, com centenas de aliados e depois participem de um podcast junto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mais tarde, o trio deve participar de um culto em uma igreja evangélica.
O martelo ainda não foi batido e os últimos detalhes ainda estão em discussão. Outra possibilidade discutida é uma visita à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que foi presidida no governo Bolsonaro pelo coronel Ricardo de Mello Araújo (PL), vice na chapa de Nunes, e uma gravação no Campo de Marte. Um acordo feito por Nunes e Bolsonaro em 2021 abateu a dívida da Prefeitura com a União, estimada em R$ 25 bilhões, em troca da cessão da área para a Aeronáutica.