Candidatos à prefeitura citam mais Lula e Bolsonaro do que problemas do RJ em 1º debate
Debate da Band entre os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro foi realizado nesta quinta-feira, 8
Nesta quinta-feira, 8, foram realizados os primeiros debates entre os candidatos às eleições municipais na TV Band. No Rio de Janeiro, estiveram presentes Alexandre Ramagem (PL), Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição, Marcelo Queiroz (PP), Rodrigo Amorim (União Brasil) e Tarcísio Motta (PSOL). Nenhuma mulher compareceu.
- Terra, Estadão e Faap promoverão debate entre concorrentes à Prefeitura de São Paulo em 14 de agosto, a partir das 10h. Programe-se e acompanhe o evento aqui no Terra.
Mediado pelo jornalista JP Vergueiro, o debate foi marcado por embates com o prefeito Eduardo Paes, acusações, direitos de resposta e o uso da polarização política em argumentos, com citações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Embates diretos
No primeiro bloco, os candidatos deveriam escolher outro postulante ao cargo para responder perguntas sobre saúde, segurança pública, infraestrutura, transporte e educação. Entre os questionamentos, temas polêmicos foram levantados, como a legalização do aborto e das drogas.
Alexandre Ramagem decidiu perguntar para Eduardo Paes sobre o plano de segurança pública da capital fluminense. Chamando o prefeito de 'soldado de Lula', assim como Amorim, o deputado federal disse que o gestor do município teria gasto recurso federal sem conseguir implementá-lo.
Na resposta, Paes destacou que o trabalho da prefeitura na segurança é "complementar" ao do Estado e citou o governador do Rio, Cláudio Castro (PL). "O que a gente vê é uma politização da segurança pública. Os comandantes de batalhão e chefes da polícia civil são indicados por partidos políticos e deputados estaduais (...) O governador, padrinho de Ramagem, que não cumpre seu papel e deixou o Rio neste estado", criticou.
Na sua vez, Paes escolheu Marcelo Queiroz para questionar sobre educação, citando os Ginásios Educacionais Tecnológicos (Get) do município. Em resposta, Queiroz decidiu focar nos servidores e criticar o prefeito.
"Hoje o que você vê são servidores insatisfeitos. Fui teu secretário de administração e fiz um bom trabalho, mas o que me fez estar aqui hoje foi que você tem mais de 30 secretarias e extingiu a de administração, que cuida do servidor público. A prefeitura, que antes pensava o Rio de Janeiro, pensa hoje só em política", atacou. "Quem acabou com a secretaria foi o prefeito [Marcelo] Crivella", rebateu Paes.
Após o embate, Marcelo Queiroz resolveu questionar Tarcísio Motta sobre os problemas de infraestrutura e urbanismo na cidade. O momento esquentou quando Queiroz destacou a falta de apoio do presidente Lula à candidatura do psolista. Para a eleição municipal do Rio, o PT decidiu apoiar Eduardo Paes.
Tarcísio riu da afirmação e disse: "Aquele eleitor que votou no Lula vai perceber que a gente não vai escondê-lo da nossa campanha, como outros candidatos tentarão [se referindo à Paes]. O programa que ele defendeu em 2022 vai se identificar no nosso programa", enfatizou, sublinhando que lideranças do PT apoiam sua eleição.
Na sua rodada, o psolista endereçou a Rodrigo Amorim uma pergunta sobre saúde pública. Tarcísio Motta o questionou sobre o aumento dos casos de tuberculose na capital e recebeu uma resposta sobre outro tema. Amorim preferiu usar o tempo para trazer 'pautas ideológicas' para o debate, como a descriminalização das drogas.
"Seu partido faz parte do que chamo de 'bancada da droga'. Afinal de contas, vocês defendem a liberação e chegam a defender o controlado de crack. Ainda se deixam fotografar ao lado dos piores fascínoras, criminosos e traficantes de drogas nesta cidade. Até a questão do canabidiol vocês inventaram outro nome, 'maconha medicinal'", atacou.
"Nós temos 9.813 ocorrências de tuberculose no último ano e vem candidato para cá que só quer ficar falando da gente. É uma obsessão enorme, no lugar de resolver problemas reais", rebateu Tarcísio.
A última rodada de perguntas diretas ficou a cargo de Rodrigo Amorim e Alexandre Ramagem. Em um tom amistoso, Amorim chamou o delegado de "amigo" e citou o engarramento na Avenida Brasil ao dizer que o "nervosinho", se referindo à Paes, não teria resolvido a situação. Ele ainda aproveitou o tempo para dar mais adjetivos ao atual prefeito, como "filho ingrato de [Sérgio] Cabral e "o pai da mentira".
O candidato à reeleição pediu direito de resposta após as acusações, e foi aí que o clima esquentou ainda mais. Rindo, Amorim argumentou que não tinha citado o nome do prefeito e que "a carapuça serviu". Com o direito de resposta concedido pela Band, Eduardo Paes acusou Amorim e Ramagem de estarem fazendo 'dobradinhas' no debate.
'Padre Kelmon carioca' e 'Tebet carioca'
No segundo bloco, jornalistas da Band fizeram as perguntas. A cada questionamento, um candidato era sorteado na urna. O primeiro a responder foi Marcelo Queiroz, que argumentou sobre o problema das construções irregulares na cidade do Rio.
Próximo da rodada, Tarcísio Motta foi questionado sobre a municipalização dos hospitais federais. O candidato do PSOL resolveu usar parte de seus minutos de resposta para rebater as acusações de Amorim de que o partido faria parte de uma "bancada das drogas", citada no primeiro bloco.
A terceira pergunta dos jornalistas foi sobre o destino da Ciclovia Tim Maia, que liga os bairros de São Conrado e Leblon, na zona sul carioca. Em 2016, a estrutura desabou e matou duas pessoas. Sorteado, Alexandre Ramagem criticou a construção, a qual chamou de "modelo que demonstra a ineficiência do planejamento de Eduardo Paes".
O delegado seguiu usando o tom combativo contra o atual prefeito e chegou a afirmar que "a prefeitura do Paes só faz maquiagem".
Depois da resposta de Ramagem, o clima esquentou no estúdio da Band. Isso porque a próxima pergunta foi sobre a internação compulsória de usuários de droga. Quem ficou responsável por responder foi Rodrigo Amorim, que usou o espaço para atacar Eduardo Paes e Tarcísio Motta mais uma vez.
"A gente está diante do soldado do Lula, com o projeto de transformar a cidade em um bunker da esquerda", disse sobre o atual prefeito. "O outro [Tarcísio] é farinha do mesmo saco. É impressionante que a esquerda tenha essa postura", atacou Amorim, que ainda disse que o psolista fugiu da discussão sobre as drogas.
O questionamento sobre o armamento da guarda municipal ficou para Eduardo Paes, que se mostrou favorável à pauta. "Acho que isso deve ser de forma restrita, com um grupo de elite, treinado", explicou. O prefeito aproveitou para voltar a criticar a gestão estadual e disse: "O que a gente precisa é que o governador estenda a mão para os prefeitos".
Após a rodada, aconteceu mais um embate direto entre os candidatos. Desta vez, o tom entre os políticos subiu ainda mais, e os nomes de Lula e Jair Bolsonaro foram citados para credibilizar e descredibilizar argumentos de todos os lados.
Em um determinado momento, Tarcísio Motta chegou a chamar Rodrigo Amorim de "Padre Kelmon carioca", ao dizer que o político estaria "cumprindo tabela" e fazendo uma "dobradinha" com Ramagem. Em resposta, Amorim citou a ministra do Planejamento: "Prefiro ser o Padre Kelmon do que a Simone Tebet, como você".
Ao final do debate, Eduardo Paes voltou a garantir que, se reeleito, cumprirá os quatro anos de mandato e não deixará o cargo para se candidatar ao governo do Estado.
Falta de participação feminina
O que também chamou atenção foi a ausência de mulheres entre os candidatos que participaram do debate. A última vez que isso aconteceu foi em 1996, quando Luiz Paulo Conde recebeu a maioria dos votos e assumiu o cargo.
Na eleição seguinte, pelo menos uma mulher passou a marcar presença nos debates municipais. Em 2000, a deputada Benedita da Silva (PT) foi a única mulher que esteve entre os postulantes.
Ela também esteve nos debates do primeiro turno da última eleição municipal, em 2020. Junto à deputada, estavam outras três mulheres: Martha Rocha (PDT), Renata Souza (PSOL) e Clarissa Garotinho (que se candidatou pelo Pros).
Para este ano, a advogada Carol Sponza (Novo) não conseguiu a vaga para participar de debates em primeiro turno. Isso porque a legislação obriga as emissoras a convidar apenas candidatos de partidos ou federações com ao menos cinco parlamentares no Congresso Nacional.
Além de Sponza, a educadora Juliete Pantoja (UP) também é candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro. O partido dela, no entanto, não tem representação no Congresso.
Pesquisa indica reeleição a Paes
Eduardo Paes (PSD) lidera a intenção de voto dos cariocas, segundo pesquisa Datafolha para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Divulgado nesta quinta-feira, 8, o levantamento mostra o atual prefeito disparado, com 53% das intenções de voto.
Em segundo lugar, aparecem Tarcísio Motta (PSOL), com 9%, e Alexandre Ramagem (PL), com 7%. Ambos estão empatados tecnicamente, dentro da margem de erro. Logo atrás, estão: Juliete Pantoja (UP), com 3%, Cyro Garcia (PSTU), com 3%, Rodrigo Amorim (UB), com 2%, Marcelo Queiroz (PP), também com 2%, e Dani Balbi (PC do B), com 1%. Carol Sponza (Novo) não alcançou 1%. Brancos ou nulos são 14% e indecisos, 5%.
O Datafolha ouviu 840 pessoas entre 2 e 4 de julho. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.