Cidade no interior de Minas Gerais perde segundo turno por migração em massa
Governador Valadares precisa de 1.515 eleitores a mais para a marca mínima de 200 mil pessoas
Uma cidade no interior de Minas Gerais tem encolhido ao ponto de perder o segundo turno nas eleições de 2024. Governador Valadares ficou apenas 1.514 votos, número aquém da marca mínima de 200 mil eleitores exigida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a realização do segundo turno. Atualmente com 198.486 eleitores, a cidade enfrenta um desafio demográfico alarmante, resultado de uma migração em massa.
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A cidade, localizada a 322 km de Belo Horizonte, teve um crescimento inicial no número de eleitores após a pandemia de covid-19, atingindo 216.504 em julho de 2023. No entanto, essa melhora foi temporária, com a perda de, aproximadamente, 18 mil eleitores nos últimos meses. Em comparação, em julho de 2019, antes da pandemia, Governador Valadares contava com 203.769 eleitores, uma diferença de mais de 5.000 em relação ao cenário atual.
Conforme Duval Magalhães, professor especializado em demografia da PUC Minas, a diminuição da população tem relação direta com a emigração, um fenômeno que perdura na cidade por quase 60 anos.
Governador Valadares é um dos principais pontos de emigração brasileira, especialmente para os Estados Unidos. Esse fluxo migratório começou a se intensificar no final da década de 1970, impulsionado por crises financeiras que levaram muitos a buscar melhores oportunidades fora do país. "Tanto que, às vezes, é chamado de Valadólares, porque uma parte importante na economia local são as remessas que eles recebem dos imigrantes", explica o especialista.
No entanto, também há uma parcela que se muda para Portugal. “Como dizem os imigrantes: para ganhar dinheiro, Estados Unidos; para viver, Portugal”.
O perfil das pessoas que se mudam de Governador Valadares é predominantemente composto por jovens adultos, especialmente aqueles entre 20 e 40 anos. Segundo um levantamento amostral realizado em 2005, cerca de 58% dos que migram pertencem a essa faixa etária.
Magalhães explica que esse público busca o "sonho americano", onde esperam encontrar melhores oportunidades de trabalho e qualidade de vida, seja em família ou sozinhos.
Impactos
Para além da perda do segundo turno, a emigração tem gerado impactos profundos na estrutura social e econômica de Governador Valadares. A cidade enfrenta uma queda nas matrículas escolares, especialmente no ensino médio, onde a redução do número de alunos é acentuada.
“Quando as pessoas vão para o terceiro ano do segundo grau, que alguns fazem 18 anos, as turmas se reduzem muito em comparação com as turmas de segundo ano, porque é um momento que vão para os Estados Unidos”, explica Magalhães.
Esse fenômeno não apenas fragmenta famílias, mas também gera desafios significativos para a administração pública local, com impactos na arrecadação e na oferta de serviços essenciais. “Nas cidades ao redor, menores, impacta na arrecadação da prefeitura”, aponta.
Existe retorno?
Os emigrantes costumam ter uma ligação forte com suas raízes, e muitos sonham em retornar ao Brasil após acumular recursos. No entanto, a realidade é complexa, e muitos acabam se estabelecendo definitivamente no exterior.
“Os projetos vão mudando. Você consegue uma coisa aqui, outra ali. Antes o projeto era construir uma casa, agora é comprar mais um terreno, construir outra casa, comprar uma fazenda. Mas o retorno está sempre presente na ideia dos imigrantes”, observa Magalhães.
Conforme pontua o especialista, não existem ações para incentivar a permanência de moradores. “Para cada um imigrante no Brasil, tem quatro brasileiros lá fora. Na Conferência Nacional Migrações, que vai acontecer em novembro, se olhar a pauta, não se fala de brasileiros retornados”.