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Como Aécio virou o jogo e chegou ao 2º turno

5 out 2014 - 20h14
(atualizado às 21h32)
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"Há um mês, meu telefone quase não tocava mais. Agora estou andando com três celulares". A frase, dita há poucos dias por Aécio Neves ao jornal Folha de S. Paulo, refletia a guinada do candidato do PSDB na reta final da corrida presidencial que, neste domingo, foi confirmado como o adversário da presidente Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições brasileiras.

<p>Aécio Neves e Marina Silva antes do debate da Globo</p>
Aécio Neves e Marina Silva antes do debate da Globo
Foto: Ale Silva / Futura Press

O tucano superou a ex-senadora Marina Silva (PSB), que chegou a ser favorita para enfrentar a petista após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Com cerca de 94% dos votos apurados, Dilma aparecia com aproximadamente 41% dos votos, Aécio, com 34%, e Marina, com 21%.

O resultado das urnas reproduziu as últimas pesquisas de intenção de voto, que indicavam a ascensão de Aécio simultânea à queda de Marina. No último sábado, as duas principais sondagens do Brasil, Datafolha e Ibope, apontavam uma vitória do tucano sobre a ex-senadora, franqueando-lhe um lugar no segundo turno da corrida presidencial.

Segundo o Ibope, no primeiro turno, Dilma aparecia com 46% dos votos válidos, Aécio, com 27% e Marina, com 24%. Já o Datafolha mostrava Dilma com 44% dos votos válidos, seguida de Aécio, com 26%, e Marina, com 24%.

A guinada do tucano se deu no último mês, quando o candidato do PSDB passou a crescer gradativamente na preferência do eleitorado, ao passo que a ex-senadora sofria o início de seu ocaso.

Mas o que permitiu a virada de Aécio na reta final da corrida presidencial?

A BBC Brasil ouviu uma dezena de especialistas, entre cientistas políticos e fundadores do PSDB. Apesar de divergências pontuais, o consenso entre eles é de que a guinada do tucano pode ser atribuída, em menor parte, a uma mudança de estratégia de sua campanha, e, em grande parte, à irreparável sangria de votos que acometeu Marina – reflexo, principalmente, dos ataques contra ela.

Erosão eleitoral

"Marina perdeu, pouco a pouco, a confiabilidade do eleitorado. Se antes despontava como a principal oponente de Dilma Rousseff no segundo turno, com chances reais de chegar à presidência, a ex-senadora viu seu eleitorado começar a rarear depois de uma série de problemas durante sua campanha", afirmou à BBC Brasil o cientista político Antônio Carlos Mazzeo, da Unesp de Marília (SP).

"Marina havia ganhado eleitores de Aécio e de Dilma, mas era com o tucano que ela disputava o voto dos conservadores. Ela não conseguiu sustentar por muito tempo essa disputa", acrescentou Mazzeo.

Segundo os especialistas, pesou principalmente contra Marina os ataques feitos à sua candidatura pelo PT, mas também pelo PSDB.

"Houve uma 'desidratação' eleitoral de Marina Silva, orquestrada, principalmente, pela campanha da presidente Dilma Rousseff. Dilma é a grande vitoriosa desse embate. Foi uma estratégia muito acertada", disse à BBC Brasil o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Aécio também mudou sua estratégia. Sabia que estava perdendo votos para Marina, considerada favorita em um eventual segundo turno com Dilma. A partir daí, o tucano partiu para o ataque contra a ex-senadora, vinculando-a com a petista e explorando suas inconsistências”, acrescentou.

O desempenho de Marina no último debate – realizado na quinta-feira pela TV Globo – pode ter reforçado o cenário de enfraquecimento de Marina e fortalecimento de Aécio.

Para o especialista em expressão corporal Paulo Sérgio de Camargo, autor do livro Linguagem Corporal (Editora Summus, 2010), no debate Aécio "falou com convicção da primeira à última fala. Falou com muita clareza, com voz incisiva, não vacilou em momento algum".

Já Marina "estava cansada. Acho que a campanha tirou muita energia dela, e nesse último debate ela sentiu esse peso", disse o Camargo.

Velha guarda

Lideranças do PSDB, por sua vez, concordam que os ataques contra Marina, explorando suas aparentes contradições, foram um fator crucial para a sua derrota. Outros fator, porém, seria o fato de os eleitores passarem a conhecer melhor o candidato tucano.

Para o deputado Carlos Mosconi (PSDB-MG), um dos fundadores do PSDB, a candidatura de Marina Silva foi "impulsionada pela morte de Eduardo Campos". "Aos poucos os eleitores enxergaram que Aécio, apesar de jovem (o tucano tem 54 anos), não é um aventureiro e tem propostas mais consistentes do que Marina. As críticas que ele faz nas áreas da educação, segurança e economia são muito relevantes. Aécio é o candidato mais preparado para se contrapor à política do PT", disse Mosconi à BBC Brasil.

"Por outro lado, Marina foi corroída por suas incoerências. Ela diz querer uma nova política, mas faz concessão para grupos religiosos, ambientalistas, entre outros. Como uma pessoa assim quer se tornar presidente da República? Ela não tem credibilidade", critica o deputado.

Na avaliação de Euclides Scalco, outro fundador do PSDB e também ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República durante o governo Fernando Henrique, Aécio cresceu na medida em que o PT "iniciou uma campanha de desconstrução de Marina."

"Nunca houve no Brasil uma campanha tão agressiva contra um candidato, como a que o PT fez contra Marina", disse Scalco à BBC Brasil.

"Só na reta final das eleições Aécio conseguiu ultrapassar Marina em Minas Gerais, seu reduto eleitoral. (…) As últimas semanas das eleições são sempre decisivas", concluiu.

Biografia

BEconomista, Aécio Neves tem 54 anos, grande parte dos quais imersos na política. Neto de Tancredo Neves, que morreu em 1985 antes de tomar posse como Presidente, o tucano foi deputado federal por Minas Gerais de 1987 a 2003, presidiu a Câmara dos deputados em 2001 e 2002. Ele foi governador de Minas de 2003 a 2010 e é senador desde 2011. É presidente nacional do PSDB desde 2013.

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