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Conheça a história do PSOL, protagonista nas eleições 2020

Partido de Guilherme Boulos, candidato à Prefeitura de São Paulo, nasceu em 2004 e disputou a sua primeira eleição dois anos depois

26 nov 2020 - 13h24
(atualizado às 13h27)
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O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) é um dos 33 partidos políticos brasileiros em atividade. Foi criado em 2004 a partir da união de dissidentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e se autodeclara como uma organização de esquerda. Só veio a disputar uma eleição dois anos depois, em 2006.

Campanha do Candidato Guilherme Boulos (PSOL) no Pátio do Colégio, região central de São Paulo (SP), nesta sexta-feira (13)
Campanha do Candidato Guilherme Boulos (PSOL) no Pátio do Colégio, região central de São Paulo (SP), nesta sexta-feira (13)
Foto: Willian Moreira / Futura Press

Guilherme Boulos é o nome do PSOL na atual disputa pela Prefeitura de São Paulo. O candidato já havia disputado, em 2018, a Presidência da República. Antes dele, já haviam tentado a cadeira outros dois membros do partido, também sem sucesso.

Para Tiago Daher, cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o partido se destaca principalmente no que diz respeito à eleição de mulheres, negros e novas formas de mandato, como os coletivos. "A democracia é a lógica do possível. Podem existir grupos mais radicais no PSOL, mas a democracia força os partidos ao diálogo, à divisão de poderes", explica.

Veja, a seguir, como surgiu o PSOL, as principais diretrizes do partido e o histórico em eleições.

Como surgiu o PSOL

Em 14 de dezembro de 2003, no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quatro membros do PT foram expulsos após votarem contra a aprovação da reforma da Previdência: a senadora Heloísa Helena e os deputados João Fontes, João Batista Araújo, o "Babá", e Luciana Genro. Havia um desgaste entre esses membros e a cúpula; eles discordavam, por exemplo, da postura mais ao centro que o partido estava tomando após assumir a Presidência, de acordo com matéria do Estadão publicada naquele dia.

Cerca de 67% dos membros do Diretório Nacional do partido que compareceram à reunião votaram pela expulsão. A saída foi conturbada. Durante a votação, outros membros do partido vaiavam os quatro e chamavam o grupo de "stalinista". Na sua fala, Luciana Genro disse que ela, Babá e Fontes já haviam recolhido 7 mil assinaturas para a criação de um novo partido. Heloísa se juntaria ao grupo depois.

O evento que oficializou o nome do PSOL aconteceu somente em 6 de junho de 2004. "O PT mudou de lado, mas não conseguiu liquidar bandeiras históricas da classe trabalhadora", defendeu Heloísa na ocasião. A oficialização só aconteceria um ano depois, em 15 de setembro de 2005, quando as 438 mil assinaturas necessárias para a criação foram acatadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O partido estreou nas eleições em 2006. Naquela ocasião, Heloísa Helena concorreu à Presidência da República, terminando a votação em terceiro lugar. O PSOL três deputados federais na Câmara, três deputados estaduais e um senador.

Quem participou da fundação e outros membros ilustres

Os primeiros membros do PSOL foram justamente os políticos expulsos do PT no ano anterior:

  • Heloísa Helena, então senadora pelo Alagoas, hoje filiada à Rede Sustentabilidade;
  • João Fontes, então deputado federal por Sergipe;
  • Babá, então deputado federal pelo Pará;
  • Luciana Genro, então deputada federal pelo Rio Grande do Sul.

Após a oficialização do partido, que ocorreu em 2005, outros políticos migraram para a sua base, como:

  • Ivan Valente, deputado federal por São Paulo;
  • Chico Alencar, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro;
  • Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo e agora deputada federal e candidata à vice-prefeitura;
  • Guilherme Boulos, atual candidato à Prefeitura de São Paulo;
  • Marielle Franco, ex-vereadora no Rio de Janeiro, assassinada em 2018;
  • Sônia Guajajara, liderança indígena, concorreu à Vice-Presidência em 2018;
  • Plínio de Arruda Sampaio, ex-deputado federal por São Paulo;
  • Randolfe Rodrigues, hoje senador pelo Amapá e filiado à Rede Sustentabilidade;
  • Marcelo Freixo, hojedeputado federal pelo Rio de Janeiro;
  • Jean Wyllys, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro;
  • Erika Hilton, vereadora eleita em São Paulo.

Símbolo do PSOL

O partido é representado pelas cores vermelha e amarela. O seu símbolo é um sol com olhos e sorriso, que foi desenhado pelo cartunista Ziraldo durante a festa de lançamento do partido, em 2006. De acordo com reportagem publicada no Estadão na data, o artista desenhou a logomarca na frente de todos os presentes.

Programa do partido

Em seu estatuto, documento que consolida o regimento interno e o princípios da agremiação, o PSOL define como seus objetivos o desenvolvimento de ações para, "junto com os trabalhadores do campo e da cidade, de todos os setores explorados, excluídos e oprimidos, bem como os estudantes, os pequenos produtores rurais e urbanos", organizar a "necessidade histórica da construção de uma sociedade socialista".

Além disso, o partido destaca que é "solidário" às lutas de trabalhadores que procuram construir uma "sociedade justa, fraterna e igualitária".

Quantos filiados tem o PSOL

O PSOL tinha, em outubro de 2020, 184.224 membros registrados no Brasil, de acordo com o TSE. Era o 23º partido em número de filiados.

De quantas eleições o PSOL participou em São Paulo?

Antes de 2020, o PSOL nunca havia chegado ao segundo turno das eleições em São Paulo. Porém, desde a sua criação, lançou candidaturas próprias:

  • 2008: Ivan Valente (sexto colocado)
  • 2012: Carlos Giannazi (sexto colocado)
  • 2016: Luiza Erundina (quinta colocada)
  • 2020: Guilherme Boulos (disputa o segundo turno no dia 29)

No mandato de 2021-2024, o partido terá uma bancada na Câmara Municipal com seis membros.

A relação do PSOL com o PT

Durante o processo de expulsão do PT, os membros originais do PSOL não baixaram a guarda diante das críticas dos novos adversários. Em sua defesa no encontro, Heloísa Helena disse: "Não peço desculpas. Não quero perdão".

De acordo com o cientista político Tiago Daher, da UFSC, o partido se colocou "à esquerda" do PT na sua fundação. Em 2010 e em 2014, por exemplo, o partido declarou "apoio crítico" à então candidata petista Dilma Rousseff nos segundos turnos das votações, que disputou com José Serra (PSDB) e Aécio Neves (PSDB).

Já hoje se vê uma aproximação entre os partidos, ainda que com limites, explica Daher. Ele exemplifica destacando que o PT, por exemplo, não abriu mão de lançar Jilmar Tatto como candidato no primeiro turno em São Paulo. Do mesmo jeito, Boulos já começa a adotar um discurso mais moderado para marcar a sua posição no campo da esquerda. "Mesmo as figuras mais belicosas do passado, como Paulo Maluf, passaram por esse processo: ele teve de ir para o 'centro' para ser prefeito. Os candidatos (que buscam a eleição) costumam caminhar para uma posição intermediária", exemplifica.

Neste segundo turno em São Paulo, Boulos é apoiado pelo PT.

Participação em momentos históricos e posicionamento político

O partido se manteve na oposição na Câmara mesmo durante os governos do PT, e segue na atual legislatura. Veja alguns posicionamentos do partido no passado:

  • CPI das Milícias: Comissão Parlamentar de Inquérito instalada na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 2008, cujo objetivo era averiguar a suposta relação entre vereadores e milicianos. Marcelo Freixo, então vereador, presidiu a investigação;
  • CPI da dívida pública: mais uma CPI instalada depois do pedido de um membro do partido, neste caso Ivan Valente na Câmara dos Deputados. O partido alegava que a dívida externa brasileira tinha sido transformada em dívida interna;
  • Afastamento de Eduardo Cunha: o partido foi o responsável por protocolar do pedido que levou ao afastamento do então deputado federal Eduardo Cunha;
  • Impeachment de Dilma Rousseff: o PSOL foi um dos partidos a se posicionar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016;
  • Pacote anticrime: a única bancada da Câmara a votar contra a tramitação urgente do pacote anticrime, proposto pelo então ministro Sérgio Moro.
Estadão
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