Das redes ao WhatsApp: Dilma e Aécio investem na tecnologia
Entre erros e acertos, candidatos à presidência usaram e abusaram de inovações tecnológicas durante o processo eleitoral. Para analista, esta é uma tendência que "veio para ficar"
Na última semana, algumas pessoas que costumam se comunicar com amigos e familiares em grupos do WhatsApp se surpreenderam. No aplicativo de mensagens instantâneas para smartphones, começou a circular um vídeo em que Aécio Neves (PSDB) aparece falando diretamente com os eleitores e pedindo votos para o segundo turno da eleição presidencial. Simples, não é? Mas eficiente. Em poucos dias, a gravação viralizou.
Não é de hoje que as campanhas políticas se esforçam para acompanhar o ritmo das transformações do mercado e usam inovações tecnológicas para aproximar os candidatos do público. No processo eleitoral de 2014, no entanto, isso ficou mais evidente que nunca. É o que acredita Rosemary Segurado, professora do programa de pós-graduados de Ciências Sociais na PUC-SP e do programa de marketing político da USP.
“Essa é uma tendência que veio para ficar. O uso político da internet, por exemplo, é bem presente no Brasil desde a eleição de 2006, mas em 2010, quando tivemos pela primeira vez um debate presidencial online, para cá, ficou muito mais forte. Não só em relação aos candidatos, mas também aos próprios eleitores. Hoje vemos muitos internautas usando as redes sociais para se manifestar politicamente. Tivemos uma grande ampliação do debate político nessa esfera”, disse em entrevista ao Terra.
O uso de aplicativos de celular, como o Whatsapp, pelas campanhas é a inovação mais recente. Neste ano, além de o tucano - que já havia chamado atenção na web semanas atrás ao lançar o "Jogo da vida de Aécio", vídeo em que sua trajetória política foi transformada em game - se tornar o primeiro presidenciável a viralizar na ferramenta, alguns candidatos aos cargos de deputado estadual e federal começaram a usá-la para divulgar eventos e propostas.
A utilização das redes sociais, que já não é tão novidade assim, vem em seguida. Um caso recente aconteceu nesta quinta-feira (16), quando, após passar mal ao final do debate promovido pelo SBT, Dilma Rousseff (PT) compartilhou um vídeo em que tranquilizou os seguidores e afirmou que estava recuperada e iria "comer um feijãozinho com arroz".
“Meios de comunicação de massa como o rádio e a televisão revolucionaram a política significativamente. Eles deram mais visibilidade a ela. Nós a acompanhamos cotidianamente, mas antes dos anos 1930 e 1940 isso era restrito a uma pequena camada da população. Acontece que, com eles, há visibilidade, mas não há interatividade. É apenas um polo emissor e um receptor. Lógica que é diferente com a internet e os aplicativos, onde há mais vozes perceptíveis. As campanhas já perceberam isso, por isso investem tanto”, explicou a professora.
Não à toa, os concorrentes Aécio e Dilma possuem grandes equipes profissionalizadas por trás de seus perfis no YouTube, Facebook e Twitter. De vez em quando, em algumas publicações, dão a entender que são eles mesmos que estão escrevendo – com direito até a críticas e provocações de um a outro – e ganham ainda mais pontos com os eleitores. Da mesma forma, no primeiro turno, os candidatos “nanicos” também apostaram corretamente nos meios digitais. Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL), que promoveram uma série de discussões online com seus seguidores, são bons exemplos.
Os dados comprovam que essas ferramentas tem grande potencial entre o público brasileiro. Em agosto deste ano, a consultoria eMarketer divulgou uma pesquisa que mostra que o número de pessoas que usam o Facebook todos os meses no País é de 89 milhões. A cada dia, são 59 milhões na plataforma. O Whatsapp, de acordo com levantamento da própria marca feito no início deste ano, por sua vez, “abriga” 38 milhões de brasileiros.
Sites em transformação
A história dos sites é anterior à das redes e aplicativos. Mesmo assim, Rosemary acredita que as campanhas ainda não estão perfeitamente alinhadas aos novos modelos em relação a eles.
Vale aqui uma breve explicação. Nos últimos anos, alguns dos maiores portais do mundo têm modernizado seus sistemas e layouts para deixá-los mais personalizados e interativos (qualquer semelhança com o conceito de rede social não é mera coincidência). Analisando os sites não só de Dilma e Aécio, mas também de outros candidatos do primeiro turno, a professora enxerga que eles tiveram dificuldades nessa adaptação.
“Se o político souber usar as ferramentas da internet para dialogar com eleitor, o que ele poderá explorar será muito mais amplo. Mas acho que campanhas ainda não exploram tudo o que poderiam. Elas não sabem usar a linguagem e a estética online em toda sua potencialidade. Os sites dos três principais [Dilma, Aécio e Marina Silva, do PSB], por exemplo, são muito poluídos. Tentam, mas não convidam o internauta à interatividade. É como se colocassem vários panfletos em um mural. Site não é mural! Parece que você vai afogar naquele conjunto de informações, não navegar. É preciso criar mais navegabilidade”, finalizou.
O problema do marketing
O marketing político sempre foi (e provavelmente continuará sendo) decisivo nas campanhas eleitorais. Para que consigam transmitir o recado desejado, os candidatos precisam saber quais são as melhores maneiras de se comunicar com os eleitores no rádio, na televisão, na internet e em quaisquer outros meios – e, aqui, nada melhor que as instruções de um bom marqueteiro. Acontece que, como se diz popularmente, o tiro pode sair pela culatra.
“O marketing tem tido uma aplicação muito artificializada na política. Nesse segundo turno, a sensação do eleitorado de não discernir um candidato do outro, o que tem grande impacto no resultado eleitoral, é por conta disso. Não exclusivamente, mas é. Você ouve as pessoas, até mesmo jornalistas, dizendo que não existem diferenças significativas entre Dilma e Aécio, mas não é verdade. É claro que existem. Muito por conta dessa aplicação padronizada do marketing, elas não conseguem enxergar. É preciso ter cuidado, o marketing pode ajudar, mas também pode matar a política”, finalizou.