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Debate da CNBB: favoritos escapam de aborto e casamento gay

Dilma, Marina e Aécio se livraram de temas polêmicos na cúpula da Igreja Católica em debate realizado em Aparecida; nanicos acabaram respondendo, graças a sorteio

17 set 2014 - 07h27
(atualizado em 18/9/2014 às 11h19)
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Assuntos caros para a fé católica, o casamento homoafetivo, o direito ao aborto e a política pública sobre drogas passaram longe dos principais candidatos à Presidência da República, nessa terça-feira, durante o debate promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida, no Vale do Paraíba, com oito dos presidenciáveis.

O evento aconteceu em um centro de eventos do Santuário Nacional minutos depois de ser divulgada nova pesquisa Ibope apontando segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB)– com vantagem de três pontos percentuais (43% a 40%) da ex-senadora sobre a petista. Aécio apareceu no levantamento com 19% no primeiro turno, diante de 30% da pessebista e 36% da petista.

Com perguntas carregadas de preceitos defendidos pela CNBB, o modelo do debate prejudicou confrontos diretos entre os três primeiros colocados e também não favoreceu a distribuição dos assuntos polêmicos aos três principais candidatos. As questões, por sinal, foram feitas por bispos da Igreja e jornalistas de veículos católicos e distribuídas sempre por sorteio, inclusive na ordem dos embates diretos.

Sobre aborto, por exemplo, cuja liberação é tema ao qual a CNBB se opõe explicitamente, a pergunta acabou respondida por Eduardo Jorge (PV), que é declaradamente a favor da proposta.

“Você não pode deixar abandonadas 800 mil mulheres que fazem interrupção de gravidez todo ano no Brasil, em condições precárias”, afirmou. “Minha posição é pela revogação dessa lei (que proíbe o aborto) cruel, machista, que considera criminosas essas 800 mil mulheres - a maioria delas católicas e evangélicas”, ponderou Jorge, que destacou, por outro lado, ser “médico e autor da lei de planejamento familiar no Brasil”.

Foto: Marcos Bezerra/Futura Press / Arte Terra

 

Luciana Genro reage a "Estado laico"

Já a pergunta sobre o Estado laico – previsto na Constituição e definidor de separação entre religião e Estado – coube a Luciana Genro (PSOL), por sorteio, não sem antes um preâmbulo que classificou o debate sobre o tema, entre “muitos formadores de opinião”, como “rejeição a qualquer participação das igrejas no processo de debate e discussão de temas políticos”.

A candidata, que se definiu como pessoa “não religiosa”, aproveitou para cutucar os adversários. “Não vou me converter ao sabor de uma necessidade eleitoral, como muitos candidatos fazem”, afirmou. “A liberdade de religião não pode sofrer nenhuma restrição, mas as políticas públicas não podem estar subordinadas a nenhuma religião, a nenhuma crença”, definiu.

Levy, a mídia e a união homoafetiva

Ainda entre os nanicos, coube a Levy Fidelix (PRTB) responder, ainda que não diretamente, sobre união homoafetiva: o tema principal era “família”, destacada na pergunta de um bispo como, segundo as ciência humanas, “constituída por um homem, mulher e filhos”. O candidato, que se declarou católico e frequentador “assíduo” de missas, atacou – a exemplo do que fizera em debates passados – os meios de comunicação: “Estão destruindo as famílias, os maus exemplos dessa questão também crucial, permitida em lei, da união homoafetiva, destroem, sim, a família. Isso é terrível!”, esbravejou.

Foto: Janaína Garcia / Arte Terra

Eymael: "Frontalmente contra" legalização da maconha

Outro tema que não é bem visto entre a cúpula católica, a legalização de drogas como a maconha entrou em pergunta sorteada ao candidato José Maria Eymael (PSDC) – que se disse “frontalmente contra" a proposta. Para o candidato, a juventude brasileira “é assassinada pelas armas e pelas drogas que entram pelas fronteiras do nosso País".

Já aos candidatos principais restaram temas de menor potencial de polêmica dentro da Igreja. Aécio Neves (PSDB), por exemplo, se declarou favorável ao projeto de lei 122, que criminaliza a homofobia. “O que precisamos é definir se esse é o instrumento adequado, este que está hoje à disposição e à discussão do Congresso Nacional”, disse.

Foto: Marcos Bezerra/Futura Press / Arte Terra

Dilma, Marina e Aécio

Dilma foi questionada sobre desigualdade social – justamente o tema que rende à campanha da petista suas bandeiras mais permanentes, graças ao Bolsa Família. Sobre a “prioridade máxima” para reduzir o problema, a candidata à reeleição citou relatório da ONU, divulgado nessa terça, apontando queda de 50% na quantidade de pessoas que passam fome. “Meu compromisso é fundamentalmente com a inclusão social e a redução da desigualdade”, enfatizou.

Outro tema nevrálgico ao governo federal, mas longe de ser alvo de polêmica aos católicos, a falta de saneamento básico a mais de 34 milhões de brasileiros ficou com Marina – que defendeu a responsabilidade do governo federal perante o problema, mas sugeriu parcerias “junto aos prefeitos”. “O não tratamento do esgoto de forma correta prejudica em todos os níveis, inclusive o abastecimento de água, como acontece no Estado de São Paulo”, constatou.

Os embates diretos entre os presidenciáveis, também definidos por sorteio, não tiveram perguntas entre os candidatos principais. Exemplos disso foram as dobradinhas Marina e Eymael – que perguntaram um ao outro -, Aécio a Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV) a Dilma, e Dilma a Levy Fidélix (PRTB), além de Luciana Genro a Jorge e Aécio a Luciana. Nesse ponto, indagada sobre educação, a candidata do PSOL fez ataques às gestões tucanas e ouviu de Aécio que ela seria uma espécie de “linha auxiliar do PT”. “Com todo respeito, ‘linha auxiliar do PT’ uma ova, candidato Aécio”, devolveu a gaúcha.

Foto: Coligação Muda Brasil/Divulgação / Arte Terra

Foto: Marcos Bezerra/Futura Press / Arte Terra

Reforma política

Ao final do debate, o presidente da CNBB, o cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, afirmou ter entregado a cada candidato cópia de um projeto de iniciativa popular para que seja votada a reforma politica da Constituição. Além da CNBB, outras cerca de 100 entidades da sociedade civil organizada, conforme o religioso, endossam a proposta. “Esperamos atingir 1,5 milhão de assinaturas para levar esse projeto iniciativa popular”, finalizou.

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Fonte: Terra
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