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Campanha de Bolsonaro quer responder a facada com militantes na rua e 'fofura' nas redes

Campanha usará candidatos do partido para tentar reforçar presença nas ruas. Nas redes sociais, candidato tem tentado suavizar a própria imagem.

10 set 2018 - 17h03
(atualizado às 17h24)
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"Oi Jair, vim te mandar um recado da nossa nação (...). Olha, sei que o dia foi bem cansativo para você. Sei que o medo e o desespero veio te abater, mas Deus está com você". Na manhã deste domingo, a página do candidato à Presidência pelo PSL Jair Bolsonaro publicou o vídeo de uma jovem apoiadora, Débora Maciel, cantando os versos acima ao violão. Em menos de seis horas, a publicação foi vista por mais de 100 mil pessoas.

A ternura na voz de Débora pode parecer desconectada da imagem tradicional de Bolsonaro. O deputado federal pelo Rio notabilizou-se ao longo dos anos por discursos agressivos. Desde o atentado a faca, na última quinta-feira, em Minas Gerais, esta tem sido a tônica nas redes sociais oficiais do deputado: evitar ataques diretos a adversários, expondo o lado humano do candidato.

Para Jair Bolsonaro, o desafio é manter a liderança nas eleições para Presidência sem estar fisicamente nas ruas
Para Jair Bolsonaro, o desafio é manter a liderança nas eleições para Presidência sem estar fisicamente nas ruas
Foto: EPA / BBC News Brasil

Bolsonaro tem aparecido em posts em sua rotina hospitalar, com a fragilidade inerente a esse tipo de situação, mas sempre destacando sua evolução e até mesmo fazendo gestos de armas com as mãos, para não destoar da imagem de força que seu eleitorado aprecia e está acostumado a ver.

Ao mesmo tempo, apoiadores e correligionários do ex-capitão do Exército planejam aumentar a presença e a frequência de atos de rua. Esta seria uma forma de compensar a ausência física de Bolsonaro na campanha - pessoas mais próximas admitem que dificilmente ele poderá voltar ao ritmo normal antes da votação no primeiro turno. Tem cabido ainda a esses aliados reforçar a noção de que Bolsonaro é o "anti-PT".

Para tanto, figuras como o candidato a vice, general Hamilton Mourão, têm se valido do atentado para acusar o partido de esquerda, embora não haja qualquer indício de que petistas estejam envolvidos no episódio. "Eu não acho, eu tenho certeza: o autor do atentado é do PT", afirmou Mourão após o ataque. O general da reserva Augusto Heleno, um dos principais conselheiros do presidenciável, afirmou sobre o caso que "a esquerda não admite a alternância de poder".

Na TV, o PSL teve tempo para alterar o vídeo que foi ao ar neste sábado - com apenas 8 segundos, a peça mostra imagens de Bolsonaro em campanha enquanto um narrador diz que "o povo brasileiro caminha unido em oração pela vida do nosso Jair Messias Bolsonaro".

A partir desta segunda-feira, a campanha começará a exibir na internet e na TV vídeos gravados antes do atentado pelo próprio Bolsonaro, nos quais ele apresenta propostas de governo. Dentro da campanha bolsonarista, a divulgação dos vídeos é território do presidente do PSL, o advogado Gustavo Bebbiano.

O primeiro teste do possível impacto eleitoral da facada no ventre do candidato virá na mesma noite, quando o instituto Datafolha divulgará a primeira pesquisa de intenção de voto pós-atentado. As resposta serão colhidas ao longo do dia.

Para Bolsonaro, o desafio é manter-se na liderança da corrida eleitoral pelo próximo mês, sem estar fisicamente nas ruas: a pesquisa mais recente do Ibope, divulgada na quarta-feira (05), mostra o candidato com 22% das intenções de voto, ante 12% de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), empatados no segundo lugar.

'Mobilização para ganhar no primeiro turno'

Pesquisa Ibope da semana passada mostou que Jair Bolsonaro é rejeitado por 44% dos eleitores
Pesquisa Ibope da semana passada mostou que Jair Bolsonaro é rejeitado por 44% dos eleitores
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"A nossa mobilização, para compensar a ausência dele, vai ser muito mais intensa. Em São Paulo, por exemplo, a campanha parou durante os últimos dias, quando tivemos a vigília (em frente ao hospital Albert Einstein). Agora, eu e os outros 220 candidatos do PSL em São Paulo vamos intensificar nossa presença nas ruas", disse à BBC News Brasil o deputado e candidato ao Senado Major Olímpio (PSL-SP), um dos principais aliados de Bolsonaro.

Dos três filhos de Bolsonaro que são políticos, é o mais velho, Eduardo, que se dedica prioritariamente a fazer campanha de rua - enquanto Flávio e Carlos são mais ativos nas redes sociais e postam nas contas oficiais do pai. Segundo Olímpio, Eduardo já está atuando "no limite, rodando 16 horas por dia" em aparições públicas.

"No dia 30 (de setembro), vamos fazer uma mobilização na avenida Paulista. Queremos encher o lugar como na época das manifestações pró-impeachment (da petista Dilma Rousseff, em 2016). Nosso objetivo é ter uma vitória no primeiro turno", disse ele à reportagem.

A avaliação é de que o atentado pode oferecer condições de vitória já em outubro por criar uma possibilidade para diminuição da rejeição ao candidato. Segundo o último levantamento do Ibope, de quarta-feira passada, Bolsonaro é rejeitado por 44% do eleitorado, o pior índice entre os presidenciáveis, e perderia em quase todos os cenários de segundo turno testados - contra Fernando Haddad (PT), ele empata dentro da margem de erro (36% para o petista e 37% para o candidato do PSL).

"O Jair já fez tudo que tinha que fazer. Bolsonaro deu seu sangue pelo Brasil. Agora quem vai para a rua somos nós. Apoiadores, parlamentares, todos aqueles que querem ver o Brasil mudar, nós é que vamos para a rua. O capitão já fez a parte dele. Agora é conosco. E essa turma que criou isto que está aí, que colocou ele aqui (no hospital), pode esperar. Nós vamos devolver na urna, com uma vitória em primeiro turno", disse a jornalistas o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos principais articuladores políticos do candidato do PSL.

Este domingo marcou a volta da campanha do PSL às ruas. No Rio, Flávio Bolsonaro comandou um ato público na praia de Copacabana, pela vida do pai. Em Brasília houve uma caminhada no Eixo Rodoviário, o eixão, que aos domingos fica fechado ao trânsito, comandado pelo general Heleno. Em São Paulo, os militantes pró-Bolsonaro inflaram um boneco gigante representando o candidato na Avenida Paulista, em frente à sede da TV Gazeta, onde ocorria um debate com os demais presidenciáveis.

'Melhor Jair se recuperando'

Um dos filhos de Jair, Eduardo Bolsonaro afirmou à BBC News Brasil que campanha trabalha com vitória no primeiro turno
Um dos filhos de Jair, Eduardo Bolsonaro afirmou à BBC News Brasil que campanha trabalha com vitória no primeiro turno
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Melhor Jair se recuperando. Você tem um país para governar". A frase brinca com um trocadilho comum ("melhor Jair se acostumando"), e foi publicada num comentário na página oficial de Bolsonaro no Facebook, por um apoiador. Desde o atentado em Juiz de Fora (MG), esse tem sido o tom das postagens nas redes de Bolsonaro: os perfis oficiais no Twitter e no Facebook publicam mensagens sobre o estado de saúde do candidato e agradecem o apoio de familiares, médicos e apoiadores.

"Novamente, gostaria de agradecer as orações e votos de apoio, carinho e consideração. O momento nos une e fortalece. Estamos em boas mãos", diz uma mensagem publicada no perfil do candidato no Facebook no sábado.

A campanha de Bolsonaro nas redes sociais também viralizou rapidamente o vídeo com a canção da jovem Débora Maciel - ela mora na cidade de Escada (PE), próxima do Recife, e é evangélica da Assembleia de Deus. "Escrevi essa carta com palavras cantadas não por ibope ou fanatismo, mas sim para devotar meu apoio e mostrar os sentimentos de um ser humano que sofre por outro", escreveu ela em suas redes sociais.

"Muitas pessoas que eram contrárias ao Bolsonaro se penalizaram, por não aceitar (o atentado sofrido por ele). E pessoas que tinham dúvidas, agora não tem mais", avalia Major Olímpio.

Enquanto isso, as postagens mais explícitas relacionadas ao atentado ficam por conta de aliados do deputado. O senador Magno Malta (PR-ES), candidato à reeleição, postou uma foto que mostra o abdômen do candidato costurado após a cirurgia - o corte vai da altura da boca do estômago até abaixo do umbigo. Em São Paulo, Malta disse a jornalistas que as imagens pós-atentado seriam as últimas do candidato antes do primeiro turno, já que ele não conseguiria voltar às ruas antes do dia 07 de outubro.

Veja também:

Veja o segundo suspeito que foi detido no ataque a Bolsonaro:
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