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Eleições 2018: Haddad e Bolsonaro avançam, mas sombra da rejeição aumenta

A BBC News Brasil analisou os detalhes das últimas pesquisas Ibope e Datafolha e destaca alguns dos aspectos mais interessantes. Entre eles, Bolsonaro e Haddad disputam de perto eleitorado feminino e rejeição a Haddad sobe tanto quanto sua intenção de voto.

20 set 2018 - 17h07
(atualizado em 21/9/2018 às 09h38)
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Números apontam para uma nova polarização entre Bolsonaro e o PT
Números apontam para uma nova polarização entre Bolsonaro e o PT
Foto: EPA / BBC News Brasil

As pesquisas de intenção de voto Ibope e Datafolha divulgadas esta semana apontam para uma nova polarização nas eleições entre Jair Bolsonaro (PSL) e o PT, agora na figura de Fernando Haddad - quando Luiz Inácio Lula da Silva ainda era candidato, o cenário eleitoral também estava dividido entre ele e o ex-capitão do Exército.

Os perfis de eleitores dos dois candidatos são opostos. Bolsonaro lidera entre maior renda, maior escolaridade, Sudeste e Sul. Haddad está à frente entre mais pobres, de baixa escolaridade, no Nordeste. Por um lado, os candidatos têm os eleitores mais convictos. Por outro, são os mais rejeitados.

Tanto Bolsonaro quanto Haddad cresceram nas últimas semanas, ao contrário dos demais concorrentes mais próximos. Bolsonaro oscilou para cima, dentro da margem de erro, e permanece isolado na primeira posição. O candidato está impossibilitado de fazer campanha, se recuperando do atentado que sofreu em 6 de setembro.

Já Haddad cresceu e alcançou a segunda colocação, se afastando de um embolado segundo pelotão. Há dez dias, quatro candidatos estavam em empate técnico no segundo lugar - além de Haddad, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede).

Uma das principais diferenças entre Ibope e Datafolha é o tamanho da distância entre Haddad e Ciro. No Ibope, o petista está 8 pontos à frente. Já no Datafolha, são 3 pontos a mais que Ciro - considerado empate técnico, enquanto antes os candidatos estavam em empate numérico, com exatamente o mesmo percentual.

"O mais provável é Bolsonaro e Haddad no segundo turno. Mas ainda não está decidido. Essa eleição é muito diferente, tem um grau de imprevisibilidade muito alto. Ainda pode acontecer alguma coisa que mude os dois candidatos do primeiro turno", opina Andréa Marcondes de Freitas, professora de ciência política da Unicamp. Faltam menos de 20 dias para o primeiro turno das eleições.

No Ibope, divulgado na terça-feira à noite, Bolsonaro tem 28%, Haddad 19%, Ciro 11%, Alckmin 7%, Marina 6%, branco/nulo/nenhum 21%. Já no Datafolha, publicado na madrugada desta quinta-feira, Bolsonaro tem 28%, Haddad 16%, Ciro 13%, Alckmin 9%, Marina 7%, branco/nulo/nenhum 12%.

A BBC News Brasil analisou os detalhes das pesquisas e destaca abaixo alguns dos aspectos mais interessantes.

1) Bolsonaro e Haddad disputam de perto eleitorado feminino

São os homens que colocam Bolsonaro isolado no primeiro lugar nas intenções de voto. Segundo o Ibope, o candidato tem 36% no eleitorado masculino. Haddad aparece a seguir, com a metade, 18%.

Já no eleitorado feminino, a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad desaparece, ainda segundo o Ibope: o candidato do PSL tem 20%, enquanto o petista marca 19%. Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, os candidatos estão em empate técnico (o Datafolha, por outro lado, mostra Bolsonaro 5 pontos percentuais à frente de Haddad mesmo entre as mulheres, e 19 pontos a frente entre os homens).

Os dados também apontam que a rejeição de Bolsonaro é maior entre as mulheres. Metade delas diz não votar no candidato de jeito nenhum. Entre eles, um terço.

"O discurso de Bolsonaro não é atrativo para as mulheres no geral. Seja por ter uma postura agressiva e competitiva, seja pelas respostas que ele dá a questões de gênero - a respeito de trabalho, salário, família e violência", afirma Andréa, da Unicamp.

Em um possível segundo turno, Bolsonaro pode ser prejudicado pelo baixo desempenho entre as mulheres. "As mulheres, mães, avós, são a maioria do eleitorado. Se Bolsonaro conseguir 30% dos votos das mulheres, ele vai precisar de 70% dos votos dos homens para vencer. Fica difícil", explica o cientista político Bruno Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Bolsonaro está impossibilitado de fazer campanha, se recuperando do atentado a faca que sofreu em 6 de setembro
Bolsonaro está impossibilitado de fazer campanha, se recuperando do atentado a faca que sofreu em 6 de setembro
Foto: Reprodução Twitter Flávio Bolsonaro / BBC News Brasil

2) Haddad dispara no Nordeste; Bolsonaro decola no Sul

As pesquisas mostram um abismo entre o Nordeste e o Sul. O Nordeste é a região onde Haddad se sai melhor e onde mais cresceu. Por outro lado, é onde Bolsonaro vai pior. Já o Sul é o exatamente o contrário.

No Nordeste, Haddad passou de 5% para 31% da intenção de voto em apenas um mês, segundo o Ibope. O petista foi confirmado candidato em 11 de setembro.

Além disso, o Ibope indica que há espaço para Haddad crescer mais no Nordeste: 42% dizem que votariam com certeza no candidato indicado por Lula - bem acima dos 25% registrados no país como um todo.

A explicação para isso é a boa votação do PT na região e o apoio a Lula. Em agosto, o Ibope mediu que Lula teria 71% dos votos válidos nordestinos. De olho nesse apoio, a campanha petista investiu no discurso de que "Lula é Haddad, Haddad é Lula", para transferir os votos de um para outro.

Já Bolsonaro subiu de 23% para 38% na região Sul, no mesmo período de um mês. O aumento ocorreu logo na sequência do atentado a faca contra o ex-capitão do Exército, durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG).

"A região Sul já vinha apresentando um sentimento mais antipetista. Até 2014, isso se canalizava no candidato do PSDB. Dessa vez, se direcionou ao Bolsonaro. Além disso, outra possível explicação é que o Sul foi o reduto contrário ao desarmamento - também combatido por Bolsonaro", diz Wanderley Reis.

Os dados apontam ainda que o Sul é a região que mais se opõe a um candidato apoiado por Lula. Quando questionados se votariam em Haddad caso Lula manifestasse apoio a ele, 57% dos entrevistados no Sul responderam "de jeito nenhum". Sinal de que a rejeição a Haddad pode aumentar.

Haddad é o candidato que mais cresceu, mas sua rejeição aumentou tanto quanto
Haddad é o candidato que mais cresceu, mas sua rejeição aumentou tanto quanto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

3) Rejeição a Haddad sobe tanto quanto sua intenção de voto

Haddad é o candidato que mais cresceu nas últimas pesquisas. No Ibope, o petista subiu 15 pontos em um mês. Por outro lado, a rejeição a Haddad aumentou em 13 pontos no mesmo período, de 16% para 29%. A tendência é que os números do petista, tanto apoio como rejeição, subam ainda mais.

"O Haddad ainda está em processo de crescimento. Não há nenhuma razão para apostar que ele pare onde está", afirma Wanderley Reis, da UFMG.

"A estratégia do PT deu certo. O partido teve muito sangue frio. Levou a candidatura de Lula até o último dia que era possível. Deixou os eleitores convictos antes de transferir os votos. Além disso, escondeu a vidraça - deu menos tempo para Haddad ser atacado por adversários", continua.

Com relação à oposição a Haddad, o Ibope traz um dado interessante. O instituto perguntou: "O candidato do PT, Lula, foi impedido de disputar a eleição. Caso Lula declare seu apoio a Fernando Haddad", o que você faria? Na resposta, 49% disseram que não votariam em Haddad de jeito nenhum.

4) 8% dos eleitores ainda dizem que vão votar em Lula

Quando um entrevistador do Ibope ou Datafolha aborda um eleitor, a primeira pergunta feita sobre as eleições é 'em quem você pretende votar para presidente?'. Depois de lançar a questão, o entrevistador aguarda pela resposta espontânea. Só na pergunta seguinte, ele mostra um cartão com os nomes dos candidatos.

Assim, essa primeira pergunta capta o desejo espontâneo do eleitor.

O resultado do último Ibope mostra que 8% dos entrevistados ainda apontam espontaneamente o nome de Lula, cuja candidatura foi barrada em 31 de agosto. Entre os mais pobres, o apoio espontâneo a Lula é ainda maior de 16% - acima do registrado por Haddad, 14%.

A persistência do nome de Lula pode indicar que parte dos eleitores ainda não sabe quem é seu substituto. Ou que insistem em manifestar apoio ao candidato, preso desde abril, em Curitiba.

Marina Silva estava na segunda colocação; em um mês, despencou para a quinta.
Marina Silva estava na segunda colocação; em um mês, despencou para a quinta.
Foto: Divulgação/Marina Silva / BBC News Brasil

5) Intenção de votos em Marina cai pela metade em um mês

No último mês, Marina Silva caiu pesquisa após pesquisa. No Datafolha do final de agosto, ela tinha 16%. Agora, tem 7%. Estava na segunda colocação, despencou para a quinta. Ninguém caiu tanto quanto ela.

É um movimento parecido com o de 2014. Em pesquisa Datafolha do começo de setembro 2014, Marina marcava 34%, empatada com Dilma Rousseff, com 35%. Um mês depois, Marina tinha caído para 24%, contra 40% de Dilma, mas ainda estava acima do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB). Nas urnas, porém, Marina teve 21% dos votos, menos que o tucano, e ficou fora do segundo turno.

Em 2018, outro indicador negativo para a candidata da Rede é a sua taxa de rejeição. Apenas Bolsonaro é mais rejeitado que ela.

"Marina é um fenômeno na rejeição. É raro um candidato que tenha rejeição alta sem ter intenção de voto alta. Ainda que as pessoas considerem Marina uma segunda opção, não depositam toda sua confiança nela", avalia Andréa, da Unicamp.

6) 7 de cada 10 eleitores de Ciro Gomes não sabe o número do candidato

As pesquisas mostram Ciro em terceiro lugar. Para ir ao segundo turno, além de crescer, o candidato tem outro desafio: tornar seu número conhecido.

De cada 10 pessoas que dizem votar em Ciro, 7 não sabem que número teriam de digitar na urna eletrônica, segundo o Datafolha.

É a situação inversa dos candidatos que estão à sua frente. No caso dos eleitores de Bolsonaro, 7 de cada 10 sabem o número. Entre quem diz votar em Haddad, 8 entre 10 conhecem o número do PT.

Os números de Alckmin e Marina, que estão em empate técnico na quarta colocação, também são desconhecidos dos seus eleitores.

Alckmin durante campanha em São Paulo - candidato perde para Bolsonaro no seu próprio reduto
Alckmin durante campanha em São Paulo - candidato perde para Bolsonaro no seu próprio reduto
Foto: EPA / BBC News Brasil

7) Em São Paulo, Alckmin vai melhor, mas está atrás de Bolsonaro

O Datafolha também divulgou os resultados para quatro Estados e o Distrito Federal. Em São Paulo, reduto de Geraldo Alckmin (PSDB), o tucano chega a 16% da intenção de votos, enquanto na média do país tem 9%. É o seu melhor desempenho entre as regiões pesquisadas.

Mas, mesmo em São Paulo, o tucano está bem atrás de Bolsonaro, que marca 27%. "O índice de pessoas que dizem votar no Alckmin é baixíssimo, mas isso não pode ser atribuído só ao Alckmin. Há também um desgaste do PSDB. De outro lado, estamos em um momento de grande polarização. E o Alckmin não consegue fazer um discurso forte no mesmo grau do Bolsonaro", explica Andréa, da Unicamp.

Em terceiro lugar no Estado de São Paulo, está Fernando Haddad, com 13% - menos do que sua pontuação nacional. O petista foi prefeito de São Paulo de 2013 a 2016, disputou a reeleição e foi derrotado em primeiro turno por João Doria (PSDB).

8) 1 de cada 5 eleitores não tem candidato

Em agosto, 2 de cada 5 eleitores diziam votar branco ou nulo ou ainda não sabiam, segundo o Ibope. Em um mês, a quantidade caiu pela metade, 1 de 5. As mulheres são as mais indecisas.

"É uma taxa similar a outras eleições, não tão maior do que poderíamos esperar, devido ao cenário de crise que estamos vivendo", explica Andréa de Freitas.

"De outro lado, os números mostram uma diminuição rápida dos indecisos. Tenho a impressão que isto está relacionado ao alto grau de polarização das eleições. Assim, as pessoas tendem a se posicionar mais", completa.

Já o Datafolha aponta um número ainda menor de eleitores sem candidato, 12%.

9) Votos em Bolsonaro e Haddad são os mais convictos

Você está totalmente decidido a votar nesse candidato ou seu voto pode mudar? Essa pergunta foi feita pelo Datafolha. O resultado é que os eleitores de Bolsonaro e de Haddad são os mais convictos: 3 de cada 4 disseram estar totalmente decididos.

Entre os demais candidatos, a maioria dos eleitores diz que ainda pode mudar de opinião.

Ainda segundo o Datafolha, Ciro lidera como segunda opção, seguido por Marina.

Informações técnicas sobre as pesquisas:

- a pesquisa Ibope foi realizada entre 16 e 18 de setembro, com 2.506 entrevistas, em 177 municípios. A margem de erro máxima estimada é de 2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. Está registrada no TSE com o número BR-09678/2018.

- a pesquisa Datafolha foi realizada entre 18 e 19 de agosto, com 8.601entrevistas, em 323 municípios. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%. Está registrada o TSE com o número BR-06919/2018.

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