Eleições na Alemanha: veja quem são os candidatos a chanceler federal e o que eles defendem
Quatro partidos já apresentaram candidatos ao cargo para as eleições antecipadas, que devem acontecer em fevereiro. Friedrich Merz, da CDU, desponta como favorito.O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, abriu caminho nesta segunda-feira (16/12) para a antecipação das eleições gerais na Alemanha após reprovar o voto de confiança apresentado pelo chanceler federal Olaf Scholz.
Agora, é esperado que Scholz encaminhe a dissolução do Parlamento e a realização de novas eleições, previstas para 23 de fevereiro. Ao menos quatro partidos já indicaram possíveis sucessores ao comando da maior economia da Europa: o conservador União Democrata Cristã (CDU), a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), o centro-esquerda Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), e Os Verdes.
A futura formação do Legislativo vai influenciar diretamente nessa escolha, já que o chanceler federal alemão é escolhido pelos parlamentares. Eles formam coalizões para obter maioria dos votos e, assim, eleger o novo representante.
Essas conversas normalmente são lideradas pela sigla que obtiver a votação mais expressiva, ou seja, o maior número de cadeiras.
Até o momento, a CDU aparece disparada na liderança nas pesquisas, com cerca de 30% das intenções de voto, seguida pela AfD, que oscila em cerca de 19%. As duas siglas devem expandir suas atuais bancadas e terão peso nas negociações para formação de alianças. O SPD, de Scholz, está na terceira posição, com 16% a 17%, seguido, respectivamente, pelos Verdes (11%) e pela sigla populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (8%).
Outras legendas, como o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão), que foi central para o fim da coalizão de Scholz, e A Esquerda não chegam a 5% das intenções de voto na maioria das pesquisas, não atingindo assim o mínimo de votos necessário para integrar o Parlamento.
Veja quem já foi indicado pelos partidos para disputar o cargo e o que cada um deles defende:
Olaf Scholz (SPD)
O atual chanceler federal foi escolhido por unanimidade pela direção do partido para tentar a reeleição. Apesar de perder o voto de confiança dos parlamentares, uma nova formação do Legislativo pode dar nova força de negociação à sigla. A expectativa, porém, é que a sigla não consiga votos suficientes para liderar uma nova coalizão.
Scholz assumiu a cadeira em 2021, após 16 anos de domínio da CDU sob a liderança da ex-chanceler federal Angela Merkel, mas, desde o início do governo, enfrentou dificuldades em conciliar o interesse dos partidos que compunham a coalizão.
Além da fratura interna, Scholz chegou a um recorde de impopularidade em seu governo, com apenas 14% de aprovação. Recessão e medidas econômicas contribuíram para a maioria da população dizer que quer novas eleições.
Internamente, Scholz desbancou seu colega de partido, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, que há algum tempo é apontado como o político alemão mais popular do país. Ele prometeu, se eleito, manter o apoio à Ucrânia, assegurar empregos no país e melhorar a qualidade de vida da população mais idosa.
Alice Weidel (AfD)
A AfD escolheu Alice Weidel, que é colíder da bancada do partido no Bundestag, Ela será a primeira mulher nos quase 12 anos de história da AfD a concorrer sozinha ao cargo de chanceler federal.
Até agora, o partido de retórica anti-imigração e crítico ao apoio militar à Ucrânia segue isolado por um "cordão sanitário" imposto pelos demais membros do Bundestag, que se recusam a costurar alianças com a sigla dada a experiência histórica traumática da Alemanha com o extremismo de direita - algumas alas da AfD são atualmente monitoradas pelo serviço secreto alemão por suspeita de extremismo. A legenda tem poucas chances reais de fazer parte de um governo dado o seu isolamento.
Weidel argumenta que os últimos governos acabaram com "a espinha dorsal da indústria alemã" e estragaram "tudo o que funcionava". Como solução, propõe "baixar os impostos e os preços da energia", a reativação de usinas nucleares e de carvão e a retomada da compra de gás natural - presumivelmente da Rússia. Recentemente, defendeu o retorno imediato de sírios refugiados ao seu país de origem, devido ao fim do regime de Bashar al-Assad.
Na economia, uma de suas inspirações é a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, que defendeu redução de impostos, corte de subsídios estatais e privatizações.
Friedrich Merz (CDU)
O presidente da União Democrata Cristã (CDU), Friedrich Merz, será o candidato conjunto de seu partido e da União Social Cristã (CSU) nas eleições gerais. Ele desponta como o principal favorito para o cargo. Se o domínio da CDU se confirmar no Bundestag, a ascensão de Merz a chanceler deve depender apenas de sua capacidade de negociar uma coalizão com as siglas menores.
Merz atuou em conselhos corporativos, incluindo a filial alemã da trilionária BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. Ele ingressou na CDU aos 17 anos e por muito tempo foi visto como uma figura polarizadora no partido. Merz era rival ferrenho de Angela Merkel dentro da legenda, e sofreu diversas críticas ao longo de sua carreira política pela forma com que se refere a imigrantes.
Em 2009, ele deixou o Bundestag, retornando apenas em 2021, após a aposentadoria de Merkel. Merz nunca ocupou um cargo de gestão pública.
Considerado um "ultraconservador", Merz promete focar seu governo em cortes de impostos, desregulação da economia e incentivos para empregos. Também defende uma postura mais incisiva da Alemanha na defesa da Ucrânia.
Robert Habeck (Partido Verde)
O atual vice-chanceler federal e ministro da Economia, Robert Habeck, é o candidato dos Verdes. Com a legenda em quarto lugar nas intenções de voto, é improvável que o político de 55 anos se torne o próximo chefe de governo alemão, e sua candidatura é vista como uma tentativa dos Verdes de assegurar espaço na próxima coalizão.
Em entrevista à DW, Habeck mostrou-se profundamente desiludido com a atual situação política da Alemanha, mas defendeu o papel de seu partido no governo. "Nesta legislatura, nós 'limpamos' a energia, ela está mais verde; na próxima legislatura vamos torná-la barata. Criamos precondições para a eletromobilidade, postos de abastecimento; na próxima legislatura automóveis elétricos com que se pode ganhar dinheiro passarão a ser parte do sistema energético", afirmou.
Ele também defendeu uma moradia mais acessível. "E vamos apresentar essa oferta, de A a Z, e aí tenho certeza de que alcançaremos um resultado eleitoral excelente."
gq/cn (DW, Reuters, ots)