Eleições: Números fáceis vão para afilhado e puxador de voto
Há casos, porém, que escolha deve-se a outros fatores, como caso do deputado Vicentinho (PT-SP), cujo número é 1390 em referência à Lei Afonso Arinos, de 1951, que proíbe a discriminação racial no Brasil
Mais de 60% dos eleitores escolhem seus candidatos a deputado estadual e federal no dia da eleição, de acordo com dados do centro de pesquisas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A definição do número pelo candidato pode ser decisivo para que ele possa ser escolhido, e lembrado, na hora do voto. Algumas táticas são adotadas por aqueles que concorrem às eleições. A primeira é escolher um número que seja fácil para o que eleitor digite na urna eletrônica. No período de campanha, é necessário que o candidato pegue o eleitorado pela memória. “Na eleição majoritária, como a deste ano, a pessoa tem que digitar um monte de números. Então, se for um número complexo, complica o eleitor”, diz Giglio. Em 2014, a votação inclui cargos de presidente, para o qual é preciso digitar dois números, senador (três números), governador (outros dois números), deputado federal (quatro números) e finalmente deputado estadual (cinco números).
Para o pesquisador, a facilidade de memorização é a prioridade para que o candidato escolha com que número vai concorrer. “Os chamados puxadores de voto e os que comandam o partido têm prioridade para escolher. Ou um número de fácil memorização ou um número que remete à candidatura majoritária”, afirma o professor da ESPM. E os exemplos são fáceis. No Rio de Janeiro, por exemplo, o 2222 é usado por Clarissa Garotinho, filha do candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho, do PR. No PMDB, de Luiz Fernando Pezão, o 1515 é usado por Pedro Paulo, homem de confiança e afilhado político do prefeito Eduardo Paes. “Até se a pessoa errar o voto, o que é normal, vota na legenda do partido”, ressalta Eugênio Giglio.
Em São Paulo dois puxadores de voto atraem o eleitor com números mais fáceis. Celso Russomano, do PRB usa o número 1000. O palhaço Tiririca usa o 2222, do PR, para tentar repetir o resultado de 2010, quando foi o deputado mais votado do país com mais 1,3 milhão de votos, arrastando uma legião de eleitos de acordo com o coeficiente eleitoral. “Apertar o mínimo de teclas possíveis ocasiona um menor número de erros”, afirma Giglio.
Mas há casos em que o número tem valor, digamos, sentimental. No caso do deputado Vicentinho, do PT-SP, a escolha do número 1390 tem explicação: é o número da Lei Afonso Arinos, de 1951, lei federal que proíbe a discriminação racial no Brasil. Outros podem até usar a questão cabalística para escolher seu número. Mesmo sem seguir essa regra, ex-jogadores costumam usar o número com que ficaram marcados no esporte para serem lembrados pelo eleitor. Esse é o caso dos ex-gremistas Danrlei, Jardel e Tarcísio, todos candidatos a deputado estadual no Rio Grande do Sul com seus números de camisa em destaque: 55001, 016 e 007, respectivamente.
Às vezes o número é fundamental para tirar dúvidas do eleitor. Giglio ressalta a confusão que o eleitor de Minas enfrenta nesta campanha para diferenciar o candidato ao governo Fernando Pimentel, do PT, do candidato do PSDB, Pimenta da Veiga. “Pimenta, Pimentel. Pode parecer que não, mas lá, no interior de Minas, isso está causando confusão sim”, afirma, embora os números dos dois sejam bem diferentes.
Mas independente do número escolhido ou da proposta apresentada, Eugênio Giglio lamenta a falta de motivação do brasileiro para eleições proporcionais. Como consequência, não é raro que a dúvida sobre em quem votar seja extinta ao encontrar um "santinho" no chão com o número de um candidato qualquer no dia da votação. Essa é outra tática utilizada por muitos candidatos, mas proibida e passível de multa pelo Tribunal Regional Eleitoral.