Elemento surpresa no Rio, Witzel é considerado 'fenômeno' por analistas
Para cientistas poíticos, postura antipolítica e votos de evangélicos e religiosos explicam "fenômeno Witzel"
RIO - O fenômeno Wilson Witzel (PSC) no Rio pode ser explicado não só por sua postura de "não-político", sem os vícios que o eleitorado identifica nos políticos profissionais, mas também pelo voto evangélico e de agentes de segurança trazidos por seu alinhamento a Jair Bolsonaro (PSL), avaliam analistas ouvidos pelo Estado. Até o último fim de semana um desconhecido, o ex-juiz federal chega ao segundo turno das eleições 2018 ao governo do Rio com o capital de 3,1 milhões de votos, mais do que o dobro do alcançado por Eduardo Paes (DEM) (1,494 milhão), que é ex-prefeito da capital e liderava todas as pesquisas de intenção de voto com pelo menos dez pontos percentuais de folga.
"Como a maioria do eleitorado, conservador e cristão, tanto católicos quanto evangélicos, o Witzel é cristão, católico praticante. Então ele tem muita afinidade com os evangélicos. E também é um ficha limpa", disse Pastor Everaldo, presidente do PSC.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado, Marcio Garcia, disse que o apoio de agentes de segurança foi fundamental, houve um movimento maciço de policiais, agentes penitenciários, bombeiros em torno de Witzel.
"Começou informalmente, nas conversas nas delegacias e nos batalhões, e as redes sociais funcionaram muito", contou Garcia, que foi candidato a deputado estadual pelo PSC (não se elegeu).
O discurso de endurecimento contra a corrupção e o crime organizado teve grande apelo. Witzel também já declarou que extinguirá a Secretaria de Segurança Pública, para acabar com suposta "influência política" no setor. Também foi ajudado pela desidratação da candidatura de Romário (Podemos), que foi mal nos debates, e a saída de cena de Anthony Garotinho (PRP), cuja candidatura foi barrada pelo TSE. Colocando-se como o nome da renovação, num Estado que tem o ex-governador Sérgio Cabral preso e condenado por recebimento de propina, Witzel não pretende fazer alianças para o segundo turno.
Em passagem rápida pela Central do Brasil para cumprimentar eleitores, Witzel disse que não é um "aventureiro". Afirmou que as semelhanças programáticas com Bolsonaro e a presença nas ruas em agendas de campanha com Flavio Bolsonaro (PSL), filho mais velho dele e eleito senador, tiveram peso em sua votação.
"Há uma identidade. Nós estamos falando aquilo que a população quer ouvir. Estar ao lado do Flavio mostrou à população um alinhamento ainda maior", afirmou Witzel, que agora pretende buscar votos fora da capital. "As propostas dele e as minhas estão alinhadas na questão da saúde e da educação, quanto da segurança pública, no tocante à lavagem de dinheiro, à investigação. E também em relação ao melhor patrulhamento das áreas federais, para que não entrem armas e drogas. Existe uma pauta que é mais conservadora em relação ao direito penal, e a pauta econômica também, que agrada aos setores empresariais."
Witzel declarou em setembro o apoio a Bolsonaro. A cinco dias do primeiro turno, participou do último debate entre candidatos realizado pela TV Globo. Os pedidos de voto via WhatsApp se intensificaram. O ex-juiz, que nas primeiras pesquisas sequer pontuava, ficando atrás dos nomes mais conhecidos, chegou a segundo lugar no sábado, empatado com Romário, segundo o DataFolha. Na pesquisa Ibope, Witzel ainda acumulava oito pontos percentuais a menos do que Romário, posicionado em terceiro lugar.
Surpreendido pela reviravolta, Paes, que gastou até aqui R$ 6,6 milhões na campanha, e tinha 7 minutos e 11 segundos de tempo de TV, contra R$ 1,5 milhão utilizados e 28 segundos de TV de Witzel, disse no domingo, 7, que o segundo turno será uma eleição "zerada".
"Vamos falar muito com as pessoas. Elas já me conhecem bem, e agora vão conhecer melhor meu adversário. Estou muito confiante na vitória". Paes não comentou possíveis alianças.
Assim como os institutos de pesquisa, os analistas políticos também não previam a votação expressiva de Witzel.
"A arrancada dele na reta final foi em função da arrancada do Bolsonaro, que superou suas margens de rejeição. A impugnação do Garotinho também teve efeito, assim como a desidratação do Romário", acredita o cientista político João Trajano Sento-Sé, professor da Universidade do Estado do Rio.
"Foi uma surpresa geral. A bandeira do combate à corrupção e antissistema colou de forma impressionante", acredita o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio. "Tem também a rejeição ao Paes. A associação ao Cabral é o ponto frágil da candidatura."