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Elemento surpresa no Rio, Witzel é considerado 'fenômeno' por analistas

Para cientistas poíticos, postura antipolítica e votos de evangélicos e religiosos explicam "fenômeno Witzel"

8 out 2018 - 18h59
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RIO - O fenômeno Wilson Witzel (PSC) no Rio pode ser explicado não só por sua postura de "não-político", sem os vícios que o eleitorado identifica nos políticos profissionais, mas também pelo voto evangélico e de agentes de segurança trazidos por seu alinhamento a Jair Bolsonaro (PSL), avaliam analistas ouvidos pelo Estado. Até o último fim de semana um desconhecido, o ex-juiz federal chega ao segundo turno das eleições 2018 ao governo do Rio com o capital de 3,1 milhões de votos, mais do que o dobro do alcançado por Eduardo Paes (DEM) (1,494 milhão), que é ex-prefeito da capital e liderava todas as pesquisas de intenção de voto com pelo menos dez pontos percentuais de folga.

Wilson Witzel, candidato do PSC ao governo do Rio de Janeiro
Wilson Witzel, candidato do PSC ao governo do Rio de Janeiro
Foto: DIvulgação/PSC / Estadão

"Como a maioria do eleitorado, conservador e cristão, tanto católicos quanto evangélicos, o Witzel é cristão, católico praticante. Então ele tem muita afinidade com os evangélicos. E também é um ficha limpa", disse Pastor Everaldo, presidente do PSC.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado, Marcio Garcia, disse que o apoio de agentes de segurança foi fundamental, houve um movimento maciço de policiais, agentes penitenciários, bombeiros em torno de Witzel.

"Começou informalmente, nas conversas nas delegacias e nos batalhões, e as redes sociais funcionaram muito", contou Garcia, que foi candidato a deputado estadual pelo PSC (não se elegeu).

O discurso de endurecimento contra a corrupção e o crime organizado teve grande apelo. Witzel também já declarou que extinguirá a Secretaria de Segurança Pública, para acabar com suposta "influência política" no setor. Também foi ajudado pela desidratação da candidatura de Romário (Podemos), que foi mal nos debates, e a saída de cena de Anthony Garotinho (PRP), cuja candidatura foi barrada pelo TSE. Colocando-se como o nome da renovação, num Estado que tem o ex-governador Sérgio Cabral preso e condenado por recebimento de propina, Witzel não pretende fazer alianças para o segundo turno.

Em passagem rápida pela Central do Brasil para cumprimentar eleitores, Witzel disse que não é um "aventureiro". Afirmou que as semelhanças programáticas com Bolsonaro e a presença nas ruas em agendas de campanha com Flavio Bolsonaro (PSL), filho mais velho dele e eleito senador, tiveram peso em sua votação.

"Há uma identidade. Nós estamos falando aquilo que a população quer ouvir. Estar ao lado do Flavio mostrou à população um alinhamento ainda maior", afirmou Witzel, que agora pretende buscar votos fora da capital. "As propostas dele e as minhas estão alinhadas na questão da saúde e da educação, quanto da segurança pública, no tocante à lavagem de dinheiro, à investigação. E também em relação ao melhor patrulhamento das áreas federais, para que não entrem armas e drogas. Existe uma pauta que é mais conservadora em relação ao direito penal, e a pauta econômica também, que agrada aos setores empresariais."

Witzel declarou em setembro o apoio a Bolsonaro. A cinco dias do primeiro turno, participou do último debate entre candidatos realizado pela TV Globo. Os pedidos de voto via WhatsApp se intensificaram. O ex-juiz, que nas primeiras pesquisas sequer pontuava, ficando atrás dos nomes mais conhecidos, chegou a segundo lugar no sábado, empatado com Romário, segundo o DataFolha. Na pesquisa Ibope, Witzel ainda acumulava oito pontos percentuais a menos do que Romário, posicionado em terceiro lugar.

Surpreendido pela reviravolta, Paes, que gastou até aqui R$ 6,6 milhões na campanha, e tinha 7 minutos e 11 segundos de tempo de TV, contra R$ 1,5 milhão utilizados e 28 segundos de TV de Witzel, disse no domingo, 7, que o segundo turno será uma eleição "zerada".

"Vamos falar muito com as pessoas. Elas já me conhecem bem, e agora vão conhecer melhor meu adversário. Estou muito confiante na vitória". Paes não comentou possíveis alianças.

Assim como os institutos de pesquisa, os analistas políticos também não previam a votação expressiva de Witzel.

"A arrancada dele na reta final foi em função da arrancada do Bolsonaro, que superou suas margens de rejeição. A impugnação do Garotinho também teve efeito, assim como a desidratação do Romário", acredita o cientista político João Trajano Sento-Sé, professor da Universidade do Estado do Rio.

"Foi uma surpresa geral. A bandeira do combate à corrupção e antissistema colou de forma impressionante", acredita o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio. "Tem também a rejeição ao Paes. A associação ao Cabral é o ponto frágil da candidatura."

Estadão
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