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Eleitores de Haddad tentam 'virar voto' nas ruas

Diante de pesquisas desfavoráveis, pequenos grupos de apoiadores estão indo para ruas e praças para tentar reverter votos nulos e conquistar indecisos

25 out 2018 - 16h14
(atualizado às 16h30)
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"Se você vai votar nulo, vamos conversar?" Diante de pesquisas desfavoráveis e dos embates inflamados e infrutíferos das redes sociais, pequenos grupos de apoiadores de Fernando Haddad (PT) estão indo para ruas e praças para tentar reverter votos nulos e conquistar indecisos nas eleições 2018. A ideia, que está se espalhando por cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio Grande do Sul, é romper o que eles chamam de "bolha ideológica" e tentar travar conversas olho no olho que mostrem bons projetos do candidato petista em relação ao rival, Jair Bolsonaro (PSL).

No Rio, a jornalista Maria Eduarda Mattar, de 38 anos, deu o ponto de partida no Largo do Machado, na zona sul da capital, no feriado do dia 12. Com quatro amigos, levou uma placa que oferecia escuta atenta a quem planeja anular o voto. Chegando lá, encontrou um casal que fazia o mesmo, e exibia um cartaz com os dizeres: "Em dúvida sobre o segundo turno?" Durante 1h30, Maria Eduarda e os amigos mostraram vídeos e tiraram dúvidas sobre falas de Bolsonaro referindo-se pejorativamente a negros e pessoas LGBT.

Fernando Haddad faz campanha no Rio de Janeiro
Fernando Haddad faz campanha no Rio de Janeiro
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

"Eu estava cansada de ver o discurso belicoso crescer nas redes sociais. Falar olho no olho e usar bons argumentos é algo que faz muita diferença. Fiquei muito tempo com cada um e acho que convenci três pessoas", acredita a jornalista, que trabalha com projetos sociais. "O 'nós e eles' não está dando certo. Percebi que muitas pessoas não sabem que o Bolsonaro já falou coisas tão radicais". A jornalista compartilhou sua experiência no Facebook e viu sua iniciativa se disseminar.

Ela também esteve no movimentado Largo da Carioca, no centro. "Dá para virar. Se cada um de nós que votou contra o Bolsonaro conseguir virar um voto, a gente dobra o número. Sigo nessa esperança", disse a jornalista Daniela Muzi, de 38 anos, do mesmo grupo, animada, durante ação na semana passada. "Não há mais espaço para o diálogo. Meu lado é o da democracia".

Em Porto Alegre, a psicóloga Helen Barbosa, de 37 anos, também aderiu e foi para o Parque da Redenção. "Vi o post no Facebook e resolvi fazer o mesmo porque queremos o acolhimento. Não temos a lógica da panfletagem. As pessoas estão sendo engolidas pelas fake news", justificou Helen.

A arquiteta Ana Cosentino, de 32 anos, de Belo Horizonte, e amigos estiveram numa feira de artesanato com o mesmo objetivo. "As pessoas querem ser ouvidas. A maioria se informa através do WhatsApp. Focamos no risco que o Bolsonaro traz, a possibilidade de perda de direitos e o armamento da população."

Os grupos se sentem motivados pelo fato de a abstenção no primeiro turno ter sido recorde - quase 30 milhões de pessoas no País, ou 20,3% do eleitorado, o maior índice desde 1998 - e de os votos nulos e brancos terem somado 8,79%; por sua vez, os resultados das pesquisas eleitorais, que mostram manutenção da vantagem de Bolsonaro, não os tiram das ruas, garantiu o pedagogo Rodrigo Vinco, de 30 anos, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Ele está na organização de um conjunto de 50 pessoas que ocupou o calçadão comercial da cidade com a mesma abordagem. "A grande maioria é de professores. Usamos a paciência que temos no nosso dia a dia com alunos. Muita gente deixou de ir votar no primeiro turno. Temos que mostrar que os mandatos do Bolsonaro como deputado não representam as mudanças que ele promete, e expor as realizações do Haddad como prefeito de São Paulo. Esse movimento é totalmente espontâneo e é contra a epidemia de fake news", esclareceu.

No Instagram, o perfil "Vira Voto", com mais de 250 mil seguidores, reúne histórias bem-sucedidas de votos novos a Haddad, em banquinhas que oferecem fatias de bolo e brigadeiro, em conversas em botecos, em corridas de Uber e até em ligações com atendentes de operadoras de telefonia.

Estadão
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