Equipe do PSL cria 'TV Bolsonaro' em aplicativo
Candidato à Presidência da República tem 13,2 milhões de seguidores nas redes sociais
Com 13,2 milhões de seguidores nas três principais redes sociais - Facebook, Twitter e Instagram -, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) faz agora mais uma aposta na comunicação direta com o eleitor: a TV Bolsonaro. O grupo do candidato decidiu criar um canal próprio, acessado via celular, após ter percebido que o alcance das postagens nas redes sociais estava reduzido.
"Eles (redes sociais) entregam aquilo que a gente posta para uma parcela muito pequena dos nossos seguidores", diz, em vídeo, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável e eleito senador pelo Rio de Janeiro.
A TV Bolsonaro é hospedada no aplicativo Mano, que permite a interação ao vivo entre quem produz conteúdo e sua audiência. Qualquer pessoa pode criar seu próprio canal ali. O de Bolsonaro tem 142 mil inscritos e é o maior da rede - o aplicativo tem 500 mil usuários. A empresa informou que está aberta à adesão de qualquer um e que não tem nenhum viés político-eleitoral.
A estratégia de ter um canal direto com a população não é nova. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump anunciou medidas decisivas para a nação pelo Twitter. Com 55 milhões de seguidores, foi por lá que ele informou quem seria o novo secretário de Estado após demitir, sem aviso prévio, o anterior.
Trump também costuma fazer críticas a opositores, à imprensa e comentar sobre o cenário geopolítico nas redes. Ele chegou a usar a rede social para chamar o ditador norte-coreano Kim Jong-un de "homem foguete".
Estratégia reforça Bolsonaro como candidato da ruptura, afirma analista
Na avaliação do analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a comunicação direta com o eleitor favorece a imagem de Bolsonaro como um crítico ao "sistema" e torna a relação com o público mais eficiente diante do peso crescente das redes sociais.
"Reforça o candidato como um nome de ruptura em relação ao status quo, incluindo aí os meios de comunicação", diz. "Uma parte da narrativa da candidatura materializa essa ideia de vitimazação pela forma como os veículos tratam o candidato." Cortez pondera, no entanto, que a ausência de contrapontos e a visão unilateral podem configurar riscos.
Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a eleição deste ano rompeu paradigmas e mostrou, como nunca, o papel das redes sociais e o enfraquecimento da propaganda tradicional. "É o caminho natural. Uma parcela da juventude assiste mais YouTube do que televisão. Então, esse tipo de comunicação é o esperado", afirma.
Segundo Couto, o uso é legítimo e outros candidatos seguirão pelo mesmo caminho. Para ele, isso pode enfraquecer a influência dos meios de comunicação. Nesse contexto, a maior preocupação do cientista político são as notícias falsas. "É uma nova era, para o bem e para o mal. Isso pode reduzir os custos de campanha, mas também disseminar notícias falsas de forma que não podem ser desmentidas. É como jogar folhas ao vento, nunca mais se recolhe."
Para o professor Marco Aurélio Nogueira deixar ao usuário informações sem filtro passadas diretamente pelos candidatos é negativo no Brasil porque, diz ele, a educação política no País deixa a desejar.
"A maior parte das pessoas não tem preparo mínimo para entender e interagir na esfera pública porque temos um déficit muito grande em termos de educação, escolaridade e até mesmo domínio da língua. Além disso, as redes são um fenômeno muito recente na vida dos brasileiros, ainda não sabemos fazer bom uso delas", afirma o professor.