Evandro Leitão (PT) é eleito prefeito de Fortaleza
Em disputa acirrada, candidato teve neste domingo, 27, a maioria dos votos válidos, que excluem brancos e nulos
Evandro Leitão (PT) foi eleito prefeito de Fortaleza neste domingo, 27. Com 100% das urnas apuradas, o candidato petista recebeu 50,38% dos votos válidos, derrotando André Fernandes (PL), o candidato apoiado por Jair Bolsonaro, que obteve 49,62% dos votos.
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A disputa eleitoral na capital cearense foi acirrada desde o primeiro turno e continuou indefinida até o segundo turno.
Apesar do histórico de forte apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Fortaleza, o candidato do partido de Jair Bolsonaro (PL), André Fernandes, de 26 anos, terminou o primeiro turno à frente com 40% dos votos válidos, enquanto Evandro Leitão, de 57 anos, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, alcançou 34%. Leitão havia se licenciado do cargo para concorrer à prefeitura e conquistou a virada no segundo turno.
As pesquisas de segundo turno, na maior parte, apontaram empate técnico, com Fernandes ligeiramente à frente. Na véspera do 2º turno, o levantamento Quaest mostrou os dois adversários com 50% dos votos válidos.
Hegemonia da centro-esquerda e guerra de apoios
A virada de Leitão no segundo turno consolida a hegemonia da centro-esquerda em Fortaleza, cidade que, nas últimas cinco eleições municipais, elegeu prefeitos do PT, PSB ou PDT.
Desde 2007, o Ceará era governado por uma aliança entre o PT e os Ferreira Gomes --família dos ex-governadores Ciro (PDT) e Cid Gomes (PSB). Essa parceria se desfez após as eleições de 2022, desencadeando uma crise no domínio político do estado. Mas o PT manteve o controle do governo estadual com Elmano de Freitas.
Fortaleza, por sua vez, foi administrada por dois mandatos petistas sob Luizianne Lins (2005-2013), seguidos pelos dois mandatos do pedetista Roberto Cláudio (2013-2020), que passou por PSB, PROS e PDT durante sua gestão, e um mandato de José Sarto (PDT) --que foi o primeiro prefeito de Fortaleza a não conseguir a reeleição, ficando em 3º lugar no primeiro turno das eleições de 2024.
A derrota de Sarto acentuou ainda mais o racha no PDT, partido do ex-governador do Ceará Ciro Gomes. A sigla se fragmentou entre os apoios a Evandro Leitão e André Fernandes, enquanto Ciro, a principal liderança, optou por não apoiar nenhum candidato no segundo turno, criticando uma declaração da Juventude Socialista do PDT que favorecia Leitão. Ele enfatizou que não aceitaria ser “puxadinho do PT”.
Sarto também declarou neutralidade nesta fase da disputa, citando incertezas em ambas as candidaturas. Por outro lado, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), que administrou Fortaleza de 2013 a 2020, decidiu apoiar André Fernandes e aproveitou para criticar a gestão do PT.
A divisão política na cidade ficou também evidente com a distribuição dos apoios entre os vereadores eleitos este ano: 20 dos 43 parlamentares apoiaram André Fernandes no segundo turno, enquanto 23 ficaram ao lado de Evandro.
Sabendo da força do lulismo na capital cearense, a campanha de Leitão intensificou a participação de Lula no segundo turno. No dia 11 de outubro, logo após o primeiro turno, o presidente participou de um comício em Fortaleza para impulsionar a candidatura do presidente da Assembleia, polarizando a disputa com Fernandes.
Por outro lado, Fernandes, conhecido por ser um dos principais apoiadores de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, optou por uma estratégia diferente. Na reta final, moderou seu discurso e minimizou sua ligação com o ex-presidente, em contraste com a pré-campanha, quando organizou uma motosseata com Bolsonaro e recebeu R$ 10,7 milhões em doações do PL, conforme registros do TSE.
Segundo cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, essa estratégia de moderação foi uma tentativa de Fernandes de romper a "bolha bolsonarista" e atrair eleitores além de seu núcleo fiel, em uma cidade onde Lula venceu Bolsonaro nas eleições de 2022 com uma margem significativa (58,18% contra 41,82%). No entanto, mesmo com a vantagem inicial nas pesquisas, ele não conseguiu reverter o resultado final.
A vitória de Leitão tem um peso simbólico para o PT, que não ocupava a prefeitura de Fortaleza desde 2013, em um Estado governado pelo partido nos últimos nove anos e que conta com o ministro da Educação, Camilo Santana, como uma de suas principais lideranças.
Apesar disso, Fortaleza viu um fortalecimento do bolsonarismo na Câmara Municipal, com Priscila Costa (PL) e Bella Carmelo (PL) ocupando, respectivamente, o primeiro e o terceiro lugares entre os vereadores mais votados, ambas alinhadas com essa pauta, o que mostra a consolidação da ascensão dessa corrente política na cidade.
Vida política de Evandro Leitão
Nascido em Fortaleza no dia 16 de abril de 1967, é filho de Wellington Rocha Leitão e Silvia Barreto Leitão. Formado em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e em Direito pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC), Evandro também possui pós-graduação em Gestão Pública e Marketing.
Atualmente, o petista exerce seu terceiro mandato consecutivo como deputado estadual e preside a Assembleia Legislativa do Ceará. Iniciou sua carreira política em 2014, quando foi eleito deputado estadual pela primeira vez, com 70.228 votos. Foi reeleito em 2018 e 2022, alcançando 83.468 e 113.808 votos, respectivamente.
Durante sua trajetória, Evandro foi líder do governo Camilo Santana na Assembleia Legislativa de 2014 a 2018. O político também atuou como Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Ceará entre 2011 e 2013, durante o segundo mandato do ex-governador Cid Ferreira Gomes.
Ele ocupou diversos cargos, como presidente do Conselho Consultivo do Fundo de Financiamento às Micro, Pequenas e Médias Empresas do Estado do Ceará (FCE) e do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Estado do Ceará (IDT), além de participar de comissões relacionadas à assistência social e desenvolvimento econômico. Desde março de 2008, Leitão também é presidente do Ceará Sporting Club.