Investida de Boulos por "voto útil" da esquerda irrita PT
Candidato do PSOL buscou apoio de dirigentes petistas para que Tatto o apoiasse já no primeiro turno
A investida de Guilherme Boulos (PSOL) pelo voto útil dos eleitores de Jilmar Tatto na reta final da disputa pela Prefeitura de São Paulo irritou o PT da Capital e ameaça o apoio do partido ao líder do MTST em um eventual segundo turno contra Bruno Covas (PSDB). Segundo fontes petistas, Boulos procurou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente estadual do partido em São Paulo, Luiz Marinho, para pedir que Tatto declare apoio a ele ainda no primeiro turno.
Na mais recente pesquisa Ibope, Covas tem 31% das intenções de voto e o segundo colocado, Boulos, aparece com 13%, tecnicamente empatado com o candidato do Republicanos, Celso Russsomanno, com 12%, e o candidato do PSB, Mário França, com 10%. Tatto tem 6%.
Em jantar realizado terça-feira, 10, em São Paulo, Gleisi, teria falado sobre o assunto com Tatto e Marinho, que negaram a possibilidade de apoio a Boulos antes do segundo turno.
Antes do jantar, Gleisi conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se mostrou simpático ao pleito de Boulos, mas disse que a decisão cabe a Tatto. A pressão da direção petista sobre o candidato em São Paulo foi revelada pelo jornal O Globo. Em troca o PSOL apoiaria a petista Benedita da Silva no Rio. Tatto negou categoricamente que vá abrir mão da candidatura, e Gleisi disse em suas redes sociais que a candidatura em São Paulo continua de pé.
"Ontem estive conversando sim com Jilmar Tatto e Luiz Marinho, o que tenho feito em todos os Estados, avaliando a situação eleitoral das capitais. A campanha segue firme nesta reta final. É 13", escreveu ela.
A articulação de Boulos irritou o PT de São Paulo, que viu nos movimentos do candidato do PT uma tentativa de tirar Tatto da disputa "por cima", com apoio de Lula e Gleisi, sem dialogar com as instâncias municipais.
Dirigentes do PT paulista lembram que, mesmo se Jilmar fosse forçado a desistir, Boulos continuaria dependendo da malha petista na capital, principalmente na periferia, sobre a qual Lula e Gleisi não têm controle, para transferir os votos. De acordo com a campanha de Tatto, Boulos deveria mirar o eleitorado indeciso em vez dos apoiadores do PT.
"Setores da militância do PSOL fazem um assédio ao eleitorado petista que só atrapalha o Boulos. São históricos críticos do PT que encontraram uma forma de fazer militância por meio de manifestos etc. Boulos deveria contê-los, até para manter o bom ambiente, e buscar o voto dos indecisos em vez dos petistas. Essa não é a primeira nem será a última campanha que Boulos vai disputar", disse o coordenador de comunicação da campanha de Tatto, José Américo Dias.
A movimentação de Boulos é apenas um dos motivos de irritação do PT de São Paulo com a campanha do PSOL. Eles também se queixam de manifestos que estão sendo elaborados em defesa do voto útil petista no líder do MTST, com assinaturas de acadêmicos, intelectuais, artistas e políticos de esquerda que há tempos criticam o PT e inclusive de fake news envolvendo candidatos a vereador petistas.
Falso santinho mostra nomes de vereador do PT e de Boulos
O secretário de comunicação do diretório estadual do PT de São Paulo, Aparecido da Silva, o Cidão, postou em suas redes um falso santinho no qual aparecem os nomes de Boulos e do vereador Antonio Donato (PT). Outros vereadores como Alfredinho e Eduardo Suplicy também foram alvo de montagens. Em resposta, integrantes da juventude petista fizeram santinhos falsos com os nomes de Tatto e do vereador do PSOL Toninho Vespoli.
Além disso, apoiadores de Boulos têm distribuído via grupos de WhatsApp um vídeo antigo de Lula, no qual o ex-presidente defendia o direito de o líder do MTST ser candidato a presidente em 2018, mas sem dizer que as imagens são de dois anos atrás.
O coordenador da campanha de Boulos, Josué Rocha, negou envolvimento da equipe do candidato na distribuição de materiais falsos com nome de vereadores petistas, disse que os alvos são Celso Russomanno e Bruno Covas e que tem tratado com respeito as demais candidaturas de esquerda. Ele atribuiu as queixas petistas a questões internas do próprio partido.
"Nossa posição é de disputa contra o bolsonarismo e os tucanos. A gente tem tido uma posição respeitosa com todas candidaturas de esquerda e queremos manter isso. Não temos como opinar sobre movimentações dentro do próprio PT", disse ele.