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Ipec: Ainda sem entender 2018, Bolsonaro vê Lula encaminhar um 2° turno confortável; leia análise

Não faz sentido imaginar que o presidente terá condições de reverter o favoritismo de petista

19 set 2022 - 22h00
(atualizado em 20/9/2022 às 10h46)
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O resultado da pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira, 19, não surpreendeu quem vem acompanhando atentamente os números das últimas consultas realizadas pelo instituto. Se há uma semana Lula mantinha a dianteira da corrida pela presidência com 15 pontos de vantagem - 46% contra 31% de Bolsonaro -, a diferença agora está em 16, após leve oscilação positiva dentro da margem de erro para o petista, que agora conta com 47%. Bolsonaro manteve os mesmos 31%. Em um hipotético, porém cada vez mais provável segundo turno, o ex-presidente seria eleito com 54% contra 35% de Bolsonaro.

A ausência de mudanças significativas no topo da disputa presidencial - Ciro manteve os 7% da última consulta, enquanto Tebet subiu para 5% - pode ser observada de muitas maneiras. O ambiente de polarização extrema entre dois candidatos populares e o fato de 80% dos eleitores já se declararem decididos certamente ajudam. A falta de compreensão do momento por parte da campanha pela reeleição, contudo, se sobressai.

Não custa lembrar, a compreensão eleitoral de Bolsonaro é a de quem sempre fez campanha para deputado - afinal, o atentado em Juiz de Fora, quando pela primeira vez disputava uma eleição majoritária, não congelou apenas a campanha de seus adversários. A força do antipetismo há quatro anos, época em que a Lava Jato estava no auge, também deve ter seu poder de confundir percepções.

Ex-candidatos à Presidência se reúnem com Lula para declarar apoio. Da esq. para a dir.: Geraldo Alckmin (PSB), Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Luciana Genro (PSOL), Lula (PT), João Goulart Filho (PCdoB) e Henrique Meirelles (União Brasil) Foto: Ricardo Stuckert/Estadão

Enquanto eu elaborava esta análise, Bolsonaro não fazia, por exemplo, uma caravana pelo Nordeste, na tentativa de diminuir a distância para Lula na região. Estava distante, em Londres, pegando carona no funeral da Rainha Elizabeth II para defender seu pleito diante de uma dezena de apoiadores expatriados. Se a estratégia de falar para convertidos naufragou até mesmo no dia da Independência, e diante de uma Copacabana lotada, não haveria de funcionar para menos gente do outro lado do oceano.

Supor que uma excursão ao outro lado do planeta possa seduzir quem não conta com saneamento básico e anseia por doação de quentinhas não é apenas típico de quem não faz ideia do aperto que o povo passa. Revela incapacidade para entender o pleito de 2018.

Por sua vez, Lula teve o seu dia marcado pelo apoio público de ex-candidatos à presidência. É verdade que parte dos nomes eram óbvios, como os de Fernando Haddad e da recém-embarcada Marina Silva, mas também houve a presença de Henrique Meirelles. O ex-presidente do Banco Central no governo do próprio candidato petista não deixa de funcionar como um alvissareiro aceno para o mercado.

A continuar o cenário como está, Bolsonaro pode até alcançar o segundo turno, mas não faz sentido imaginar que terá condições de reverter o favoritismo de Lula.

*É JORNALISTA

Estadão
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