Lava Jato e "massacre" de 2015 dominam debate em Curitiba
Ao contrário do que aconteceu em outras capitais, todos os nove candidatos participaram das discussões
A operação Lava Jato, que investiga desvios na Petrobras, e o emblemático episódio ocorrido em 29 de abril de 2015, quando a Polícia Militar do Paraná (PMPR) feriu mais de 200 manifestantes contrários a uma reforma na previdência dos servidores públicos, foram alguns dos assuntos abordados no primeiro debate entre os nove candidatos à Prefeitura de Curitiba, na noite dessa segunda-feira (22), na TV Bandeirantes. Ao contrário do que aconteceu em outras capitais, o encontro, de quase duas horas e meia de duração, contou com as presenças de todos os nomes que se inscreveram na disputa. Houve menções ao "DNA político" de participantes, a administrações passadas e a grandes coligações formadas pelas legendas.
O atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT); o ex-ministro do Turismo Rafael Greca (PMN); os deputados estaduais Requião Filho (PMDB), Ney Leprevost (PSD), Tadeu Veneri (PT) e Maria Victoria (PP); a advogada e militante feminista Xênia Mello (PSOL); o empresário Ademar Pereira (Pros) e o pró-reitor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Afonso Rangel (PRP) estiveram nos estúdios da emissora, no bairro Pilarzinho. Com isso, o debate foi um dos maiores já realizados no Estado, superando 2014, ocasião em que oito postulantes à sucessão do governador Beto Richa (PSDB), que acabou reeleito, se enfrentaram. À exceção de algumas alfinetadas, porém, as discussões foram mornas, com poucas contraposições de ideias.
De acordo com a nova legislação eleitoral, estão aptos a estar nesses eventos os concorrentes filiados a partidos om mais de nove parlamentares na Câmara dos Deputados, ao menos que dois terços dos demais adversários concorde com a inclusão de alguém não contemplado, o que seria o caso de PSOL, Pros e PRP. A Band optou por chamar todos e não recebeu nenhuma contestação. "A população das outras cidades, como a população de Curitiba, tem que ter o direito de conhecer os candidatos. E esse direito passa pelo acesso à informação", opinou Xênia. Seus correligionários Marcelo Freixo e Luiza Erundina ficaram de fora, respectivamente, dos programas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Apesar de pouco confrontado de forma direta, Fruet foi o mais visado. Precisou responder sobre o fechamento de vagas na educação infantil, a desintegração do transporte coletivo com a região metropolitana e o atendimento a pessoas em situação de rua. O pedetista argumentou que destinou 30% do orçamento do município para a primeira área, conforme prevê a legislação, atendendo a totalidade das crianças a partir de quatro anos. Também alegou ter herdado uma série de problemas, sobretudo de cunho financeiro, da gestão anterior. Em vários momentos, o atual prefeito era acionado apenas após as outras opções se esgotarem. Pelas regras, cada participante pode perguntar uma vez.
Colegas de Parlamento, Leprevost, Requião e Veneri mencionaram o 29 de abril, para “colar” Greca, bem colocado nas pesquisas eleitorais, no seu aliado Richa. “O Rafael que abriu as portas da Assembleia para os professores [em 30 de agosto de 1988, no governo de Alvaro Dias] deve estar constrangido em ter o governador indicando seu vice”, ironizou o peemedebista, em referência a Eduardo Pimentel (PSDB). O deputado mencionou também a Operação Quadro Negro, que apura irregularidades em obras de escolas estaduais. Além de criticar Fruet pela “falta de realizações”, em várias oportunidades Greca relembrou do tempo em que foi prefeito (1993 a 1997).
Provocações
Greca, que tem o apoio do PSDB de Richa e do ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), também virou alvo dos adversários. Logo na primeira pergunta, de Leprevost, sobre a dívida da cidade, o candidato à reeleição falou que Ducci não teve "coragem" de disputar o pleito, porque deixou o "maior déficit fiscal da história de Curitiba". O político do PSD, coligado com o PSC de Ratinho Jr., destacou a aliança do governador com o ex-ministro. “Se eu não tivesse o apoio de sete partidos, só ia poder dizer no programa eleitoral ‘meu nome é Ra’”, brincou o candidato do PMN, depois, em coletiva.
Outro momento que gerou polêmica no debate, repercutindo nas redes sociais, foi quando Xênia questionou Maria Victoria sobre suas propostas para as populações negras e LGBT (sigla que se refere a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). A pepista disse respeitar todos, independentemente de “opção” sexual [na realidade, o termo correto é orientação, uma vez que ninguém escolhe ser lésbica ou gay] e logo mudou de assunto. Falou sobre inovações tecnológicas, totens para recarga da bateria do celular e instalação de wifi em pontos de ônibus.
Coube à candidata do PSOL, ainda, trazer a Lava Jato à tona. Ao declarar ser a única presente não envolvida com o esquema, pelo fato de siglas de seus adversários terem sido citadas, ela recebeu sete pedidos de resposta, concedidos pelo jurídico da Band. Só quem não questionou a advogada foi Requião Filho, que o fez depois, ao falar que prefere lutar para mudar o PMDB por dentro. Ademar Pereira (PROS) disse que o PROS é um partido novo e que ele próprio não possui parentes na política. Rangel foi na mesma linha. Segundo ele, Xênia colocou todos na vala comum, cometendo uma injustiça.
“Pessoas que cometem erros serão responsabilizadas, independente do partido", afirmou Veneri. “Sou ficha limpa, sou contra a corrupção e não há mais nada a ser dito sobre isso”, completou Maria Victoria. "Não tenho compromisso com o erro alheio", respondeu Greca, justificando ter migrado do PMDB para o PMN por se sentir "constrangido" em estar na mesma legenda que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Já Leprevost frisou ser fã do juiz federal Sergio Moro. Para Fruet, por sua vez, "mais importante do que a retórica, é a atitude".