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Luciana Genro visita ocupação e incentiva "luta" de sem-teto

Candidata do PSOL à Presidência visitou ocupação do MTST em SP e disse que incorporou pautas do movimento ao seu programa

11 set 2014 - 20h29
(atualizado às 22h40)
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Luciana Genro (PSOL) visita a ocupação Chico Mendes, do MTST
Luciana Genro (PSOL) visita a ocupação Chico Mendes, do MTST
Foto: Débora Melo / Terra

“E aí, como é que está essa luta?” Foi essa a primeira frase dita por Luciana Genro, candidata do PSOL à Presidência da República, ao chegar na tarde desta quinta-feira à ocupação Chico Mendes, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), no Morumbi, em São Paulo. A pergunta foi direcionada a Simone Sousa, uma das coordenadoras estaduais do MTST e responsável pela ocupação. “Estamos na luta. Com esperança de vencer”, respondeu ela.

Cerca de 1.200 famílias de baixa renda do Jardim Colombo, da Vila Praia e de Paraisópolis ocupam desde sexta-feira o terreno, uma área pública de 30 mil metros quadrados entre o cemitério Gethsemani e dois condomínios. De acordo com o MTST, o terreno é uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis) e, portanto, deve ser destinado à construção de moradias populares.

“É um mar de barracas”, espanta-se Luciana. Para a candidata, as ocupações são resultado do aumento do deficit habitacional. “A decisão de ocupar um terreno não é uma escolha, é uma imposição de uma realidade muito cruel, onde os governos são omissos e não desenvolvem programas que possibilitem que as pessoas de baixa renda tenham acesso à moradia”, disse.

Aluguel

As famílias que ocupam o terreno afirmam que não têm mais condições de pagar aluguel. A doméstica Maria Gorette dos Santos, 55 anos, conta que paga R$ 500 por mês para viver em um “barraco” do Jardim Colombo. A renda da família, formada por ela, o marido e dois netos pequenos, é de R$ 1.100 mensais. “Está dormindo aí?”, pergunta Luciana Genro. “Tem que dormir, fazer o que. A gente trabalha de dia e vem dormir à noite”, responde Gorette. E então a candidata se despede: “Tem que lutar, né. Parabéns, a senhora é uma guerreira”.

Maria Gorette dos Santos está na ocupação porque diz que não tem mais condições de continuar pagando aluguel
Maria Gorette dos Santos está na ocupação porque diz que não tem mais condições de continuar pagando aluguel
Foto: Débora Melo / Terra

Uma das propostas de Luciana é a criação de instrumentos que possam controlar os reajustes de aluguel de forma mais eficaz. “Precisamos de uma lei do inquilinato, que coíba o aumento abusivo dos aluguéis. Cada vez mais famílias são expulsas de suas casas porque não conseguem continuar pagando aluguel”, declarou a candidata. “Essas famílias são empurradas para as periferias, o que faz com que elas tenham uma qualidade de vida ainda pior, porque o transporte público e os serviços públicos de saúde e educação também são precários.”

A autônoma Maria Luiza Macedo da Silva, 58 anos, que também faz parte da ocupação, disse que paga R$ 450 no aluguel de “um cômodo”, onde moram ela, um filho deficiente e dois netos. Ela diz que, com a renda que tem, que “varia muito”, mal dá para pagar o aluguel e as contas de água e de luz – e comer. “A gente está aqui, não é porque a gente quer, é porque a gente precisa. Se a desigualdade não fosse tanta a gente não precisaria estar aqui”, disse.

Assim como Maria Gorette, Maria Luiza recebeu de Luciana Genro os “parabéns pela luta”. Nenhuma das duas, no entanto, soube dizer quem era a candidata que estava ali. Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra Luciana com 1% das intenções de voto.

Minha Casa, Minha Vida

Há cerca de dois meses, Luciana Genro se reuniu com lideranças do MTST e incorporou propostas do movimento ao seu programa de governo. A candidata propõe, por exemplo, a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida.

“O programa terceirizou para as empreiteiras a política habitacional do País, porque são elas que definem onde, como e quando construir. O Minha Casa, Minha Vida Entidades é muito melhor, porque são as entidades do movimento que constroem e coordenam a construção da habitação popular. Precisamos que o movimento popular de luta pela moradia tenha um maior protagonismo nas decisões e na implantação da política habitacional do País”, afirmou.

Sem-teto afirmam que estão sendo hostilizados por moradores de condomínios vizinhos da ocupação
Sem-teto afirmam que estão sendo hostilizados por moradores de condomínios vizinhos da ocupação
Foto: Débora Melo / Terra

A candidata disse que teve a “honra” de ser a única candidata citada pelo MTST em sua declaração sobre as eleições. “Evidentemente que o movimento não me apoia, porque, como movimento social, não pode se vincular a uma candidatura. Mas foi o meu nome que o movimento apontou como um dos candidatos que melhor representa as propostas que o vem defendendo.”

Hostilidades

Os moradores da ocupação Chico Mendes fizeram na noite desta quinta-feira um protesto em frente ao prédio vizinho. Os sem-teto afirmam que estão sendo hostilizados pelos moradores dos condomínios.

“Eles jogam pedras, garrafas, xingam a gente de vagabundos”, disse a coordenadora Simone. “Graças a Deus ninguém se machucou. A gente orienta o pessoal a não dar ouvidos, mas, se alguém se machucar, não sei como vou conseguir segurar esse povo. Essa é uma preocupação que a gente tem”, continuou.

A Prefeitura de São Paulo ainda não tem um plano para a nova invasão, mas afirma que vai tentar negociar a desocupação de forma "amigável". De acordo com a Secretaria Municipal da Habitação, os invasores não têm prioridade nos programas habitacionais.

Para Luciana Genro, contudo, a ocupação tem chances de ser "vitoriosa". "O Estatuto das Cidades determina que terrenos que estejam há mais de cinco anos sem cumprir sua função social devem ser desapropriados", disse.

O terreno estava desocupado havia anos, mas, em 1989, um deslizamento de terra matou 14 pessoas da favela Nova República, ali instalada. A coordenação do MTST afirma que sabe do histórico e que barracas instaladas em áreas de risco serão removidas. “A Defesa Civil esteve aqui e explicou o que aconteceu lá atrás. A orientação é para não colocar barraca no morro”, disse Simone.

Fonte: Terra
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