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Luciano Huck: 'Não consigo voltar para a caixinha em que eu estava'

Apresentador afirma que pretende ajudar a moldar um País mais justo e que Bolsonaro e Haddad não o representam

27 out 2018 - 18h44
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Na eleição mais polarizada da história recente, o apresentado Luciano Huck diz que não tem lado. "Eu não me sinto representado por nenhum dos dois", afirma, em entrevista ao Estado. Mesmo insatisfeito, não se arrepende de não ter concorrido ao cargo de presidente da República. Sua candidatura foi articulada no início do ano por integrantes do movimento Agora, grupo de renovação política criado por ele, e incentivada por Fernando Henrique Cardoso.

No fim de semana passado, em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Huck disse que nunca votaria no PT. As falas no vídeo deram a entender que apoiaria Jair Bolsonaro, o que ele não confirma. Na seguinte entrevista, ele afirma que Fernando Haddad é "um cara ótimo", mas "está inserido em um contexto do PT, que cometeu erros muito grandes nos últimos anos."

Acredita que o País pode se reconciliar depois de uma eleição tão polarizada?

Acho que a gente não tem outra opção. Está sendo um processo muito dolorido para todos, mesmo quem está em campos opostos ou quem não se sente representado, ninguém gosta desse clima polarizado, divergente. A gente precisa fazer um esforço para conseguir uma conciliação. Se não, vão ser tempos muitos difíceis.

Esse esforço depende de quem?

Sem a menor dúvida, do presidente eleito, qualquer um dos dois. Ele vai estar representando todos os brasileiros, inclusive quem não votou nele.

Você vê isso acontecendo?

Eu tenho que tentar ver. A filosofia budista diz que não adianta você desejar o que você não tem, é preciso extrair o melhor do que você tem. Então, o nosso papel, enquanto sociedade, de quem não se sentia representado por nenhum dos dois, é de ser uma resistência positiva, atuante, que vai cobrar e exigir cada passo. Ver se a democracia vai ser preservada, se as liberdades serão respeitadas, se a imprensa vai ter liberdade, se as instituições estarão funcionando, se o Congresso e o cidadão serão respeitados. Se isso tudo acontecer, eu acho que a gente tem que apoiar as agendas positivas, seja quem for eleito.

Você diz que tem gente que não se sente representada por nenhum dos dois. É o seu caso?

É o meu caso, sem dúvida. Eu vejo problemas graves nos dois lados, mas a beleza da democracia é respeitar o resultado. A agenda social não é exclusividade de nenhum partido, nem da esquerda, nem da direita. E a gente só vai conseguir equalizar a desigualdade, se a gente tiver dinheiro pra gastar na educação, na saúde.

Acredita que há essa preocupação social nos dois candidatos?

Eu li os dois planos de governo. O que me angustia e eu digo que não me sinto representado é porque a gente está discutindo a fiação, mas não qual a casa quer construir. Eu não enxergo hoje qual é o projeto novo de País, um projeto maior, disruptivo, que coloque o Brasil em um patamar em que você consiga enxergar uma menor desigualdade, inovação, educação. Mas eu vejo coisas boas, como a renovação legislativa, que foi onde eu me propus a ficar. Tem muita gente boa, nova.

Se arrepende de não ter sido candidato a presidente?

Nunca foi um projeto pessoal meu. Depois de tudo que aconteceu nesses dois anos, eu não consigo voltar pra caixinha que eu estava, eu quero ajudar a construir um País mais justo. Uma pessoa como eu, que está há 20 anos rodando o País, eu sei onde estão os problemas, eu vi, ninguém me contou. Eu sei como esse País é injusto, como as pessoas moram mal. Eu não consigo passar por um problema e não me sentir parte dele. Não tem arrependimento. Acho que a gente tem um problema iminente, mas vamos ter que encarar. Vai estar todo mundo a fim de contribuir com uma agenda positiva, com ideias, trabalho, nas coisas que a gente entende que são inadiáveis.

Pretende contribuir com qualquer um dos dois?

Não tenho a menor dúvida. Ganhando Bolsonaro ou Haddad, se respeitarem a democracia, se abrirem para a sociedade civil, entenderem que reformas têm de ser feitas, projetos que tem que ser implantados, a gente vai estar disposto a conversar com qualquer um.

Qual a sua opinião sobre Fernando Haddad?

Eu acho um cara ótimo, uma boa pessoa, tenho uma excelente relação com ele.

Mas não vota nele?

O PT cometeu erros muito graves e tenho dificuldade em confiar em alguém que não tenha autocrítica e não consiga aprender com seus próprios erros. Ele está inserido em um contexto do PT.

E sobre Jair Bolsonaro?

Minha preocupação é quanto as ideias e as falas do passado dele vão influenciar o futuro. Você não negar com veemência algumas coisas pode endossar comportamentos muito perigosos na sociedade.

Ele representa o novo?

O novo está no Congresso, são os 16 deputados eleitos pelo RenovaBR, o novo são os movimentos cívicos, novo é a Tabata Amaral (eleita deputada federal pelo PDT), novo é o Poit (Vinícius Poit, eleito deputado federal pelo Novo).

Você defende o voto nulo?

Um dos dois vai ganhar. De novo, não adianta contar com o que a gente não tem.

Não vai votar nulo então?

Não vou responder.

Estadão
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