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Lula pode vencer em 1º turno mesmo sem voto útil; leia análise

Ex-presidente marca 52% dos votos válidos, enquanto Ciro e Simone Tebet estacionam, aponta pesquisa Ipec

19 set 2022 - 22h14
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A estratégia do voto útil ainda não aconteceu, indica a pesquisa Ipec, mas se ocorrer nos próximos dias será para confirmar uma tendência cada vez mais clara: a de que Lula pode ser eleito já em 1º turno. Há meses que o ex-presidente oscila entre 44-46% dos votos, algo muito próximo do limite dos chamados "votos válidos" (que exclui os votos em branco ou nulos). Agora, Lula subiu mais, chegando a 47% (ou 52% dos válidos).

Essa subida de Lula não ocorreu sobre o eleitorado de outras candidaturas, mas sim sobre os pouquíssimos eleitores que ainda não tinham se engajado por alguma candidatura em 2022. Eram só 6%, na semana passada, os que ainda respondiam "nulo ou branco" mesmo depois de ouvir o largo cardápio de nomes a disposição. Agora são apenas 5%. Pelo visto, Lula abocanhou quem ainda estava descrente.

Há poucos dias começou uma forte campanha petista pelo voto útil. A ideia é persuadir os eleitores de Ciro Gomes e de Simone Tebet, que rejeitam Bolsonaro, para que votem em Lula já no 1º turno. A ideia é clara: se você despreza tanto Bolsonaro, mesmo não tendo em Lula sua primeira opção, evite a possibilidade de um 2º turno fazendo um voto útil no ex-presidente.

Pela pesquisa Ipec, essa estratégia ainda não deu resultado. Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado, manteve seus 7%. A senadora Simone Tebet, do MDB, subiu mais um pouco desde a semana passada, chegando a 5%.

Isso quer dizer que há um volume expressivo de eleitores, cerca de 13 milhões de pessoas, que escutam os pesquisadores mencionarem os nomes de Lula e Bolsonaro, mas optam por Ciro e Simone. Compreender por que essas pessoas ainda não cederam aos apelos da chapa Lula-Alckmin é a missão principal dos estrategistas petistas para as duas últimas semanas de campanha.

De acordo com a pesquisa Ipec, é possível que Lula seja eleito em primeiro turno mesmo que não tenha qualquer migração de votos adicional de Ciro e Simone. É por isso que, argumento aqui, a eventual estratégia do voto útil levaria a uma confirmação, não a uma mudança de resultado. Ou seja, caso ganhe alguns pontos adicionais por conta do voto útil, a chapa Lula-Alckmin estaria eleita não com 51%, mas com 54% ou 55%. Venceria da mesma forma, mas com uma distância maior.

O percentual de votos em Bolsonaro é pouco importante nesta altura do campeonato: de nada adianta subir dos 31% que ele registra no Ipec, para, digamos, 35% ou mesmo 40%. Lula ainda pode vencer em 1º turno. A única estratégia que resta ao presidente que está agora fazendo comício em meio a um funeral na Inglaterra não é virar votos de indecisos ou de quem quer seja, mas sim reduzir a votação de Lula.

JOÃO VILLAVERDE É PROFESSOR E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO PELA FGV-SP.

Estadão
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