Maioria dos alemães é a favor de eleições imediatas
Segundo pesquisa, 65% defendem antecipar decisão após colapso da coalizão liderada por Olaf Scholz. Oposição quer submeter governo a voto de confiança dentro de poucos dias, mas Berlim resiste.A maioria dos eleitores alemães é a favor da realização imediata de novas eleições no país, segundo uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (07/11), no dia seguinte ao colapso da coalizão tripartidária de centro-esquerda liderada pelo chanceler federal, Olaf Scholz.
A crise na coalizão de governo explodiu na noite de quarta-feira após Scholz demitir o ministro das Finanças, Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP). A saída de Lindner e do FPD inviabilizam a continuidade do governo após a perda da maioria no Bundestag (Parlamento alemão).
O chanceler anunciou que irá se submeter a um voto de confiança em 15 de janeiro de 2025, o que abre caminho para que as eleições antecipadas sejam realizadas até o final de março. A oposição, no entanto, quer dar início a esse processo já na próxima semana.
A pesquisa do instituto Infratest-Dimap realizada a pedido da emissora pública alemã ARD revelou que 65% dos entrevistados apoiam a convocação imediata de eleições para o Bundestag, enquanto 33% concordam com a intenção de Scholz de realizá-las em março.
Segundo o levantamento, 34% dos eleitores votariam na sigla conservadora de oposição União Democrata Cristã (CDU), com 18% se pronunciando a favor da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).
O Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz registrou 16% das intenções de voto. Segundo a pesquisa, o Partido Verde - a outra sigla que ainda integra a coalizão de governo ao lado do SPD - e o FDP registraram respectivamente 12% e 5%. Com esse resultado, o FPD estaria ameaçado de não conseguir representação no Bundestag, caso não supere o limite mínimo exigido de 5% dos votos.
A pesquisa revela ainda que 59% dos entrevistados viram com bons olhos o colapso da coalizão, cuja popularidade já vinha em baixa. Para 40%, a culpa do fim do atual governo é do FDP, enquanto 26% apontam para o Partido Verde e 19% culpam o SPD.
Oposição quer adiantar eleições
Scholz anunciou que fará um pronunciamento no Bundestag na próxima quarta-feira, quando deverá confirmar a data em que se submeterá ao voto de confiança dos parlamentares.
O líder da CDU e candidato do partido à chefia de governo, Friedrich Merz, e o bloco conservador que inclui sua legenda e a sigla coirmã União Social Cristã (CSU) no Bundestag exigiram que a votação ocorra imediatamente ou, no mais tardar, na próxima semana e as eleições gerais, em janeiro.
Ele se reuniu com Scholz nesta quinta-feira para tentar pressionar o chanceler a tomar essa decisão, mas saiu de mãos vazias. Merz também se encontrou com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, para uma conversa privada, que provavelmente ocorreu em torno do mesmo tema.
Lindner, do FDP, também defendeu adiantar o processo. " A coisa certa para o nosso país seria um voto de confiança imediato e novas eleições", disse ex-ministro das Finanças nesta quinta-feira.
Realizadas normalmente a cada quatro anos na Alemanha, a próxima eleição federal está prevista para setembro de 2025. Entretanto, eleições antecipadas podem ser realizadas durante crises políticas, quando o chefe de governo, o chanceler federal, perde seu apoio no Parlamento.
Entretanto, eleições antecipadas podem ser realizadas durante crises políticas, quando o chefe de governo, o chanceler, perde seu apoio no Parlamento.
As eleições antecipadas têm sido extremamente raras na Alemanha, mas são uma medida democrática vital. Elas são regulamentadas pela Constituição alemã e exigem a aprovação de vários órgãos constitucionais, inclusive do chefe de Estado, o presidente.
Cenários possíveis
De acordo com a Constituição alemã, a decisão de realizar eleições federais antecipadas não pode ser tomada pelos membros do Bundestag, nem pelo chanceler. Uma dissolução antecipada do Parlamento só pode ocorrer de duas maneiras.
No primeiro caso, se um candidato a chanceler federal não obtiver uma maioria parlamentar absoluta - pelo menos 367 das 733 cadeiras do Bundestag - , o presidente alemão pode dissolver o Parlamento. Isso nunca aconteceu na história da República Federal da Alemanha.
No segundo caso, um chanceler pode solicitar um voto de confiança no Bundestag para confirmar se ainda tem apoio parlamentar suficiente. Se o chanceler não conseguir obter a maioria, ele pode pedir formalmente ao presidente que dissolva o Bundestag em 21 dias.
Após a dissolução do Parlamento, novas eleições devem ser realizadas dentro de 60 dias. Elas são organizadas da mesma forma que as eleições federais normais. O superintendente federal de votação e o Ministério do Interior são responsáveis por sua implementação.
Até o momento, foram realizadas apenas três eleições antecipadas para o Bundestag na República Federal da Alemanha: em 1972, 1983 e 2005.
rc (DPA, DW)