Marina critica e promete mudanças na reforma trabalhista a plateia de empresários
Pré-candidata disse em evento da CNI que pretende alterar determinados trechos da reforma; criticou condução do governo na Petrobrás, a que chamou de 'pró-mercado'
BRASÍLIA - A pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, disse nesta quarta-feira, 4, que uma visão dogmática favorável ao mercado na Petrobrás gerou prejuízos à sociedade e à estatal. Um dos momentos que mais chamou a atenção da plateia de empresários a sua fala, foi quando a ex-ministra voltou a criticar a reforma trabalhista e reiterou que pretende alterar o que classifica como aspectos "draconianos" da nova regra.
"A reforma trabalhista carece de mudanças e de revisão para de fato significar modernização", disse a pré-candidata da Rede, ao participar do evento Diálogo da Indústria com Candidatos à Presidência da República, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
"Ainda é cedo. Não acho que deve ser revogada, mas revisitada para rever injustiças. Não tenho a visão de que tudo que foi feito deve ser revisado nem sacralizado."
A plateia pediu que ela detalhasse o que pretendia mudar, ao que ela citou: a autorização para mulheres grávidas, com aval médico, trabalharem em locais insalubres, alterações que dificultaram acesso à Justiça por pessoas de baixa renda e horários reduzidos na jornada de trabalho e almoço.
Marina ponderou que entendeu ser necessária uma alteração na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas disse que a reforma tramitou de forma "atabalhoada" no Congresso e gerou "insegurança jurídica".
A pré-candidata citou como positiva as mudanças no número de processos trabalhistas, que após a reforma caíram, mas argumentou que não houve impulsionamento nas contratações: "A reforma tinha como sinalizador aumentar empregos, o que ainda não se efetivou".
Petrobrás. Ao comentar a greve dos caminhoneiros, que provocou uma queda na atividade industrial de 10,9% e foi deflagrada pela alta no preço dos combustíveis, a presidenciável apontou erro da antiga direção da empresa ao repassar a alta no dólar diariamente ao consumidor.
"A visão dogmática pró-mercado deu grandes prejuízos para a Petrobrás e para o cidadão", disse Marina.
Ela afirmou que a estatal tem capacidade de manejar situações como a alta do dólar, mas sem adotar a política de controle de preços. Marina defendeu que a companhia permaneça atenta ao cenário global dos combustíveis, mas possui função estratégia nacional. Pra a presidenciável, o governo não foi capaz de se antecipar à crise gerada na greve de caminhoneiros e a gestão do presidente Michel Temer foi negligente.
A ex-ministra não citou diretamente o Banco Central, mas pregou que as instituições financeiras sejam tratadas com autonomia, sem institucionalização e uso político. À plateia de empresários, Marina se comprometeu ainda a travalhar por juros mais baixos para estimular os investimentos e chamou de "anomalia" a especulação no mercado financeiro. Ela prometeu ainda uma uma reforma tributária com "simplificação, justiça tributária, impessoalidade e transparência".
Marina afirmou ainda que, atualmente, as agências reguladoras de diversos setores são partidarizadas pelo governo federal. Ela defendeu aprovação de marcos regulatórios que permitam adequar a relação entre sociedade e empreendedores. Como exemplo, disse que a Agência Nacional de Saúde (ANS) "tem dificuldade de prover saúde de qualidade para quem busca planos".
Reforma. Sobre a reforma política, uma das principais bandeiras de sua campanha, ela voltou a prometer que vai encaminhar uma proposta de reforma política ao Congresso. A ex-ministra pregou que seja implantado, a partir de 2022, um único mandato de cinco anos para cargos executivos. "Vamos acabar com reeleição que virou problema na América Latina", disse a presidenciável. Marina afirmou ainda que o presidencialismo de coalização no País se transformou em "presidencialismo de degradação" e se comprometeu a indicar ministros com compromisso programático.
A pré-candidata afirmou que mantém esperança de atrair um nome de outro partido para sua chapa e que as conversas com siglas tratam da disputa presidencial e também nos Estados. Marina também afirmou que a reforma é uma maneira de mudar a relação "promíscua" de setores da iniciativa privada com o Estado, revelada pelas investigações da Operação Lava Jato.