MS: Azambuja reclama de governo petista, mas crê em apoio
Candidato tucano em MS quer dinheiro do pré-sal na educação e acredita em apoio do PT caso Dilma seja eleita
Político há 18 anos, o candidato tucano ao governo de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, comandou a cidade de Maracaju, entre os anos de 1996 a 2004. Passou pela Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul entre 2006 e 2010, quando foi eleito deputado federal.
Seu nome apareceu despercebido em 2012, quando se candidatou à prefeitura de Campo Grande, capital do Estado, tendo votação expressiva. Ficou em terceiro lugar e por pouco não foi ao segundo turno.
Este ano empenhou todas as forças na campanha ao governo e surpreende mais uma vez, chegando, desta vez, ao segundo turno. Pecuarista de profissão, Azambuja tem 51 anos e dentre os candidatos, foi o que relatou à Justiça Eleitoral o maior patrimônio: R$37 milhões.
Terra - Por que o senhor quer ser governador do Mato Grosso do Sul?
Azambuja - Eu quero ser governador para melhorar a vida dos sul-matogrossenses, diminuir as diferenças regionais, investir nas prioridades das pessoas e não dos governantes. A política só faz sentido se contribuir para tornar melhor o lugar onde a gente vive. E para isso acontecer é preciso ouvir e respeitar as prioridades dos cidadãos. É preciso transparência e planejamento eficiente. Cada centavo do dinheiro dos impostos precisa ser usado para melhorar a vida das pessoas. Não dá mais para termos bolsões de riqueza e pobreza em Mato Grosso do Sul, onde só uma ou duas regiões se desenvolvem e as outras ficam esquecidas. Mato Grosso do Sul carece de investimentos em infraestrutura, de uma política de incentivos para atração de indústrias que leve em conta as diferenças regionais e de um sistema de saúde que funcione de verdade. Mato Grosso do Sul é porta de entrada de drogas e armas vindas do Paraguai e da Bolívia. Isso acontece, em parte, porque o governo federal, do PT, abandonou as nossas fronteiras, mas o governo do Estado também precisa ser parceiro, aumentando a fiscalização e controle da faixa de fronteira, pelo DOF, Polícia Militar e Polícia Civil, intensificando as operações em conjunto com outras instituições como PRF, PF e guardas municipais e com a criação do sistema de monitoramento por câmera em regiões da fronteira.
Reinaldo Azambuja prometeu construir os hospitais regionais e reestruturar aqueles que já existem. Foto: Divulgação
Terra - Se eleito, quais os eixos prioritários de atuação no primeiro ano de governo?
Azambuja - Em 2011, realizamos o levantamento Pensando Campo Grande, que embasou nossa proposta administrativa quando disputei a prefeitura da Capital. Ouvimos mais de 120 mil pessoas. Elencamos prioridades, elaboramos projetos, apresentamos nossas propostas, mas não vencemos a eleição. Depois, durante um ano e meio, percorremos os 79 municípios de Mato Grosso do Sul com o projeto Pensando MS. A intenção também era de conhecer de perto a necessidade das pessoas. Nessas nossas andanças, a população de Mato Grosso do Sul elencou as maiores necessidades: saúde, segurança pública e educação. Essas são as prioridades da população e, por isso, são também as nossas prioridades. A maior demanda é a saúde. A regionalização não funciona em Mato Grosso do Sul e acontece a ‘ambulancioterapia’, ou seja, a maior parte dos pacientes é levada para Campo Grande. É preciso percorrer muitos quilômetros para fazer exames ou tratamentos. Isso acontece porque os hospitais regionais que existem no interior, em sua maioria, não funcionam como deveriam. Nós vamos fazer esses hospitais funcionarem e aumentar os investimentos em saúde – hoje, o governo do Estado não aplica no setor nem os 12% (do orçamento) obrigatórios. Na segurança, vamos dar uma atenção especial para os 1.500 quilômetros de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e Bolívia e que hoje estão abandonados. Vamos valorizar os profissionais da área de segurança pública, por meio da meritocracia e dos planos de carreiras, ampliar as bases do Corpo de Bombeiros em municípios que ainda não possuem e aumentar a fiscalização e controle da faixa de fronteira. Na educação também temos que melhorar muito. Mato Grosso do Sul tem a pior educação básica da região Centro-Oeste, de acordo com o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, do Ministério da Educação]. Vamos levar escolas em tempo integral para aumentar o nível do ensino e contribuir para a redução da violência entre jovens e adolescentes. Mas todos esses compromissos só fazem sentido se houver transparência e combate à corrupção. Por isso, nós vamos implantar, de fato, a transparência em tempo real via internet, instalar nove painéis, um em cada região do Estado, para a população acompanhar os gastos com as obras, além de adotar pregões eletrônicos e implantar auditorias independentes nas secretarias. Isso é importante porque a corrupção rouba aquilo que falta na saúde, na segurança e na educação. A corrupção tira os sonhos e as esperanças, principalmente, dos jovens brasileiros, que deixaram de acreditar na boa política. Parece que todo mundo é igual. E não é. Existem as pessoas que governam de forma diferente, com planejamento e atendendo as necessidades da população.
O candidato do PSDB garantiu que apoiará os municípios na implantação da escola de tempo integral. Foto: Divulgação
Terra - Que ações tomadas pelo governo anterior o senhor desaprova e pretende não repetir em sua eventual gestão?
Azambuja - O governo atual e os anteriores tiveram os seus méritos, mas erraram ao não ouvir a população. Essa será a principal diferença da nossa administração. O governo atual, por exemplo, resolveu criar um aquário, em vez de destinar o dinheiro para saúde, segurança pública e educação. Nada contra o Aquário do Pantanal, mas a população não foi consultada. Nós invertemos isso. Em vez de criar programas de governo dentro de um gabinete, no ar-condicionado, resolvemos ir conversar com as pessoas, de porta em porta. Fizemos isso em Maracaju e, por isso, deixamos a cidade com mais de 92% de aprovação. Faltou também transparência ao atual governo. É por isso que vamos implantar a transparência em tempo real. Essas são as principais diferenças entre o modelo tradicional, e a mudança que estamos propondo.
Terra - Sabemos que para ter uma saúde de mais qualidade também é preciso de mais investimento e recursos. Conhecendo a realidade financeira de Mato Grosso do Sul e sabendo que há também dependência de repasses do governo federal, será possível implementar as ações previstas em seu programa de governo, como a interiorização da saúde?
Azambuja - A regionalização da saúde já existe hoje, no papel, mas não na prática, porque os hospitais regionais não funcionam como deveriam. Vamos construir os hospitais regionais onde for necessário e reestruturar aqueles que já existem. O que nós precisamos e vamos fazer é cumprir a lei e aplicar no mínimo os 12% obrigatórios da saúde, garantindo o funcionamento dos hospitais que já existem, com exames e atendimento. Em Nioaque, por exemplo, o único hospital está fechado e abandonado há cinco anos. O hospital é filantrópico, não é do Estado, mas fazia um atendimento importante e fechou por descaso dos governos, que não ajudaram como deveria. Quem precisa de atendimento hospitalar lá tem que viajar para Aquidauana ou Campo Grande. Essa é a realidade do descaso que vemos em muitas outras cidades. O problema se agrava porque o governo federal não faz a sua parte. Em sete anos, o PT deixou de aplicar R$ 32 bilhões em Saúde no País, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). Com o PT, o Brasil passou a ser um dos países que menos investe em Saúde. No governo Dilma, de cada R$ 10 arrecadados, apenas R$ 0,87 vão para a saúde. Precisamos mudar essa lógica. Se não há dinheiro para tudo, então vamos investir no que é prioridade.
"Eu defendo o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, assim como Aécio Neves", disse Azambuja. Foto: Divulgação
Terra - A implantação de escolas de tempo integral, previstas em seu projeto, também demanda mais verbas e ainda, mais professores. Como conseguir recursos para contratar mais profissionais da educação?
Azambuja - O principal problema é a falta de prioridade. O governo prefere, às vezes, fazer obras que não são prioritárias, em vez de destinar o dinheiro para saúde, segurança pública e educação, que são as maiores necessidades da população. Mato Grosso do Sul tem o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da Região Centro-Oeste. Acredito e defendo a educação de tempo integral, que, na minha opinião, é a melhor forma de avançarmos em qualidade. Nós vamos apoiar os municípios na implantação da escola de tempo integral, essenciais principalmente nas cidades de maior violência. Algumas escolas tradicionais serão adequadas para ensino de tempo integral. É claro que poderemos fazer mais se a parte dos 75% dos recursos do pré-sal destinado à educação realmente for repassada aos estados e municípios e não ficar concentrada em Brasília. É importante também dizer que não é possível melhorar a educação sem investir na qualificação, na formação continuada dos professores e no uso de tecnologia para tornar o ensino mais atrativo.
Terra - O senhor vem de uma ascensão política recente. Quase foi ao segundo turno nas eleições municipais de 2012 e agora aparece tecnicamente empatado com seu adversário, que até então, parecia ser o favorito na disputa. A que o senhor atribui esse crescimento?
Azambuja - Acho que a classe política não soube ver o recado das ruas. A população quer uma nova política. E nós representamos essa mudança. A mudança de verdade não é a do discurso. É a de ouvir as pessoas, implantar as prioridades da população e ser intransigente com a corrupção, aplicando a transparência em tempo real. A nova política é a política com decência, que se perdeu ao longo dos anos. Em relação às pesquisas, o Ibope mostrou no início de outubro um empate técnico, com a minha candidatura um pouco a frente, e outros institutos mostraram a nossa candidatura ainda na frente, com mais de 12 pontos de vantagem. Isso é um retrato do momento e não muda em nada na nossa campanha. Reafirmo o que sempre disse: a pesquisa que vale é a das urnas. Nós vamos continuar caminhando com muita humildade como fizemos no primeiro turno, quando nosso adversário dizia que ia ‘liquidar’ a eleição no primeiro turno, mas ficou com apenas 3 pontos percentuais de vantagem. Nós vamos ter o percentual de votos que a população decidir.
O candidato do PSDB disse, em entrevista, que tem como prioridade qualificar os professores e preservar a cultura nas escolas indígenas. Foto: Divulgação
Terra - Na votação do dia 5 de outubro, apenas em Campo Grande e em Dourados o senhor apareceu como favorito dos eleitores. Como tem sido sua campanha no interior do Estado, onde a maioria votou no candidato do PT?
Azambuja - Na verdade, nós também vencemos o primeiro turno em outros municípios do interior como Maracaju, Aparecida do Taboado e São Gabriel do Oeste, mas numericamente, o nosso adversário venceu em mais municípios. No final, na totalização dos votos, a diferença acabou sendo pequena, de apenas 3 pontos percentuais. O candidato adversário comprou o terno, preparou a festa, disse que tinha ‘liquidado a fatura’ no primeiro turno, mas esqueceu de combinar com a população. Então, não entendemos como uma derrota. O nosso objetivo era chegar ao segundo turno para ter a oportunidade de continuar a caminhada, aprofundar e, aí sim, se a população entender que temos as melhores propostas, governar o Estado. Em relação a nossa campanha, ela foi feita da mesma forma na capital e no interior. É uma campanha de muita caminhada, de diálogo com a população e de propostas para melhorar a vida das pessoas. O nosso adversário é candidato a governador há oito anos, com o apoio do governo federal, do PT. Então, ele largou na frente. Além do mais, no interior, a pressão do governo é mais forte. De qualquer jeito, a nossa caminhada continua nesta última semana da mesma maneira que começou, com humildade, e a população vai escolher qual o melhor caminho para seguir.
Terra - O candidato à presidência, Aécio Neves, defende o fim da reeleição no Brasil? Como o senhor vê essa proposta?
Azambuja - Eu acho uma boa proposta. Eu defendo o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, assim como Aécio Neves.
Terra - Caso a atual presidente, Dilma Rousseff seja reeleita, como o senhor vai articular o relacionamento com o Planalto, uma vez que o senhor apoia o adversário dela na campanha?
Azambuja - Eu acredito muito na vitória do Aécio Neves, um político sério, competente e preparado para governar o País, mas se a presidente Dilma vencer a eleição não terei nenhum problema em sentar para conversar com ela. A disputa acontece durante a eleição. Não acredito que um presidente sério vai administrar para os governadores. Eu vou governar para as pessoas do meu Estado, independente de quem for o prefeito. Em Anastácio, por exemplo, o prefeito, que é do meu partido, apoiou outro candidato, mas eu fui lá e disse que vou trabalhar para a população e não vou abandonar Anastácio. Corumbá não elegeu nenhum deputado, mas eu vou ser representante deles também. O futuro presidente, seja o Aécio ou a Dilma, deve governar igualmente para todos os brasileiros, sem discriminação.
Terra - Como pecuarista, o senhor deve enfrentar e saber como os ânimos são exaltados entre produtores e índios. Como o senhor pretende intervir nessa questão?
Azambuja - Durante muito tempo, produtores rurais e comunidades indígenas conviveram em paz em Mato Grosso do Sul, mas nos últimos anos isso mudou. O responsável pelo conflito entre produtores e indígenas é o governo federal, que foi omisso durante todos esses anos e empurrou com a barriga a resolução do problema. Precisa sim fazer ampliação de algumas aldeias do Estado, mas não podemos fazer isso em conflito com os produtores que tem escritura, que tem documento, que tem titularidade das áreas. As terras em conflito em Mato Grosso do Sul foram tituladas ou pela União ou pelo estado de Mato Grosso, antes da divisão, portanto, é preciso indenizar os produtores de forma justa para termos paz no campo. E o governo do Estado deve ser o árbitro nessa questão, para por fim nesse conflito que só tem perdedores. Eu sei que os meus adversários dizem nas aldeias que o Reinaldo não gosta de índios. O único programa de governo que tem algo específico para as comunidades indígenas é o nosso: a criação da Superintendência de Assuntos Indígenas. Nós vamos tratar com as comunidades indígenas de produção, saúde, educação e também ampliação das aldeias indígenas. Não vou me omitir como governador do Estado. As comunidades indígenas terão voz no meu governo.
Se for necessário, o Estado irá fazer a indenização da terra nua e das benfeitorias das propriedades tituladas pelo Estado para que elas sejam destinadas à ampliação das aldeias indígenas. Já as propriedades rurais tituladas pelo governo federal deverão ser indenizadas pela União. Mas vale lembrar que as prioridades dos indígenas não são apenas mais terras, mas também a saúde, educação, tecnologia e produção nas aldeias. Isso, a Funai, infelizmente, não cuida. Ela centra só na questão fundiária. Nós temos como prioridade levar educação de qualidade aos indígenas, qualificar os professores e preservar a cultura principalmente nas escolas indígenas.
Terra - Por fim, por que o senhor acredita que seu plano de governo representa o novo para Mato Grosso do Sul, já que o PSDB é um dos partidos mais tradicionais da política brasileira?
Azambuja - A nova política é a da prioridade das pessoas e não dos governantes. Não é a política do partido A ou B. Ninguém é dono da verdade. Mas eu tenho muito orgulho do PSDB, um partido de pessoas honradas. Foi o meu único partido. Agora, é claro que todos os partidos têm pessoas do bem e outras pessoas não tão boas. A nova política que estamos propondo não tem nada a ver com a idade do partido. Não é porque um partido é novo que ele representa renovação. A boa política é da transparência nos gastos do governo em tempo real, de ser intransigente com a corrupção, de ouvir e atender as prioridades das pessoas, de ter respeito para com o cidadão. Não adianta apenas ser competente, tem que ser honesto, porque o dinheiro desviado pela corrupção é o que faz falta nos hospitais, nas escolas e na segurança pública.