MT: diretor dos Correios pede voto para o PT a funcionários
O Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios, Telégrafos e Serviços Postais de Mato Grosso (Sintect-MT) denunciou ao Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) o uso da máquina da estatal para beneficiar quatro candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT) e um do Partido da República (PR) que disputam cargo eletivo.
O presidente do Sintect-MT, Edmar Leite, protocolou nesta sexta-feira, no TRE-MT, em Cuiabá (MT), o ofício de número 308/2014 do Sintect-MT, direcionado ao desembargador Juvenal Pereira da Silva, presidente do Tribunal, afirmando que uma carta assinada pelo diretor regional dos Correios, Nilton do Nascimento, foi postada para todos os funcionários da empresa, na capital e interior, pedindo voto para os candidatos Dilma Roussef (presidente), Lúdio Cabral (governador), Ságuas Moraes (deputado federal) e Ademir Bruneto (estadual). A carta pede voto também para o atual deputado federal que concorre a uma vaga no Senado, Wellington Fagundes (PR). O PR é da coligação “Amor à nossa Gente”, puxada pelo candidato petista a governo.
Na carta, o diretor Nilton do Nascimento começa pedindo que o “colega” servidor relembre o passado. “Pedi o seu voto em 2010 e conquistamos muito com isso, por isso volto a pedir o seu voto, pois com quase 12 anos de gestão à frente dos Correios posso afirmar que houve muitos avanços conquistados pelos brasileiros, em todos os sentidos. Isso só foi possível graças ao SEU VOTO”. O diretor destaca na carta que todos os funcionários, como carteiros e atendentes, tiveram aumento acima da inflação e que isso se deve aos governos Dilma e Lula.
A denúncia é de crime eleitoral e os sindicalistas solicitam encaminhamento ao Ministério Público Eleitoral “para apuração dos fatos ora denunciados, bem como a instauração de ação penal pública”. O presidente vai receber a denúncia e dar encaminhamento, como explica a assessoria de imprensa do Tribunal.De acordo com o Sintect-MT, os Correios em Mato Grosso tem 1.600 funcionários, lotados em todos os municípios do Estado, e que pelo menos 50 deles receberam a carta. “Temos todas essas 50 como prova do que estamos denunciando. Não temos outro interesse que não seja a transparência nas eleições”, assegura. Segundo ele, é um absurdo um diretor se utilizar da máquina da empresa, enquanto dentro dela há servidores processados somente por utilizar o e-mail institucional para criticar o aumento que o governo federal deu aos aposentados da carreira.
Um dos que recebeu o pedido de voto em casa foi o carteiro Giancarlo Antonioni Quintana Pereira, de Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) do bairro Vista Alegre, em Cuiabá. O carimbo no envelope dele mostra que a carta foi postada no dia 25 de setembro de 2014, com três selos.
O presidente do Sintect-MT assegura que a reunião entre os Correios e o PT na qual ficou definida essa postagem aconteceu no dia 23 de setembro à noite, no Hotel Mato Grosso Palace, no centro de Cuiabá. Ao Terra, o hotel confirmou que a sala Viola de Cocho foi alugada pelos Correios nesta data para o uso à noite. A reportagem não conseguiu apurar quem pagou pela sala no hotel.
As cartas foram postadas no dia 25 de setembro e chegaram para alguns dos funcionários já no dia seguinte, conforme o Sintect-MT. Tanto é que trecho do ofício diz que cartas comerciais simples foram tratadas e entregues com prioridade máxima. “Mais rápido até que o Sedex”. Além disso, indica o ofício que o valor cobrado pela postagem deveria ser R$ 1,30 cada, e não R$ 0,60. “Postaram por metade do valor”, reclama Edmar Leite.
No ofício, o Sintect-MT cita ainda “o art. 73, II, da Lei no 9.504/97, que veda o uso de materiais ou serviços custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integra”.
Diretor não vê problema
A direção estadual do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso foi procurada pelo Terra para prestar esclarecimentos sobre a postagem das cartas, mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que o diretor Nilton do Nascimento falaria com a imprensa.
“Não tem nada de errado nisso”, afirma o diretor. “Esta é uma carta, assinada com meu nome, como pessoa física, como cidadão”.
Sobre a reunião no Hotel Mato Grosso Palace, ele confirma que estava presente, mas era depois do expediente e foi convocada por pessoas que apoiam a candidatura da presidente Dilma. “Isso é normal, natural. O que um trabalhador faz da vida pessoal depois do expediente é um problema dele. O que eu fiz foi uma postagem como cidadão”, justifica o diretor.
“O que o Sintect-MT quer é repetir o bla bla bla nacional”, diz ele, se referindo à denúncia feita pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o possível uso eleitoral dos Correios em Minas Gerais. “Este sindicato está perdido no tempo e no espaço”, critica o diretor, afirmando que a denúncia não tem sentido nenhum.