Após críticas de Haddad, Mourão afirma que vai processar artista que o acusou de ser torturador
Candidato do PT acusou Mourão de ser torturador após falas do cantor e compositor Geraldo Azevedo, que disse ter sido preso por Mourão durante a ditadura, em 1969; vice de Jair Bolsonaro (PSL) entrou no Exército em 1972
O general da reserva Hamilton Mourão, vice na chapa do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, disse que vai processar o cantor e compositor Geraldo Azevedo que o acusou em um show no fim de semana de torturá-lo durante o regime militar. Ao Estado, Mourão afirmou que em 1969, ano em que o artista esteve preso pela primeira vez, ainda não tinha ingressado no Exército. Procurado pela reportagem na manhã desta terça-feira, Azevedo negou que o candidato a vice na chapa de Bolsonaro estivesse entre os militares que o torturaram quando ele foi preso, em 1969 e em 1974. Nesta terça, 23, o candidato do PT, Fernando Haddad, acusou Mourão de ter sido torturador durante a ditadura brasileira.
"É uma coisa tão mentirosa", disse Mourão. "Ele me acusa de tê-lo torturado em 1969. Eu era aluno do Colégio Militar em Porto Alegre e tinha 16 anos", afirmou o general da reserva. "Cabe processo." Hamilton Mourão entrou em 1972 na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) onde, em 12 de dezembro de 1975, foi declarado aspirante-a-oficial da Arma de Artilharia. É filho do general de divisão Antonio Hamilton Mourão e Wanda Coronel Martins Mourão.
O músico pernambucano teria feito as declarações durante um show em Jacobina, na Bahia, no sábado, 20. "Olha, é uma coisa indignante, cara. Eu fui preso duas vezes na ditadura, fui torturado, você não sabe o que é tortura, não. Esse Mourão era um dos torturadores lá", afirmou Azevedo. De acordo com sua biografia, Geraldo Azevedo foi preso em 1969 com a esposa durante a ditadura militar, sendo torturado por 41 dias.
Em nota, o artista pediu desculpa "pelo transtorno causado pelo equívoco e reafirmou sua opinião de que não há espaço no Brasil de hoje para a volta de um regime que tem a tortura como política de Estado e cerceia a liberdade de imprensa".
Sabatina
As declarações de Geraldo Azevedo, dadas em show no final de semana na Bahia, foram citadas pelo candidato a presidente pelo PT, Fernando Haddad, em sabatina, nesta terça-feira, 23, promovida pelos jornais O Globo e Valor Econômico e pela revista Época.
"Bolsonaro nunca teve nenhuma importância no Exército. Mas o Mourão foi, ele próprio, torturador. O Geraldo Azevedo falou isso. Ver um ditador como eminência parda de uma figura como Bolsonaro deveria causar temor em todos os brasileiros minimamente comprometido com Estado Democrático de Direito", disse Haddad.
Quando perguntado sobre o emprego da palavra "fascista" para classificar o oponente, Haddad reiterou na sabatina, chamando Bolsonaro de "bicho": "Ele tem como vice um torturador. Tem como ídolo um torturador, que é (o general Brilhante) Ustra. Para mim, isso é fascismo. Se vocês quiserem dar outro nome pra adocicar o Bolsonaro... Estamos diante de um bárbaro, que não respeita ninguém há 30 anos. É o pior dos porões".
Solidariedade
Mais tarde, ao comentar o engano sobre o general Mourão, o candidato do PT disse que se solidariza com artista e que Mourão defendeu o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. "Eu dei a público uma informação que recebi de fonte fidedigna. Geraldo Azevedo realmente foi torturado e realmente disse que foi pelo Mourão", disse, à tarde. "Eu me solidarizo com ele, todo mundo que foi torturado está sujeito a esse tipo de confusão. O esclarecimento também teve que se dar a público para que não haja dúvida. Isso não tira o fato de que o Mourão, quando passou para a reserva, disse com todas as letras que o Ustra, um torturador, era uma de suas referências. Tanto o Bolsonaro quanto o Mourão têm o Ustra como referência."
Haddad negou que a acusação a Mourão seja uma fake news de sua campanha. "O fato de eu ter dado a público e eu ter esclarecido é prova de boa fé. Eu não peguei empresário corrupto com dinheiro sujo pra soltar informações na internet. Eu falei com cara limpa e foi esclarecido. Geraldo Azevedo teve a clareza de esclarecer. O compositor foi vítima do regime que eles tanto apoiam. Ustra merece todo o repúdio da sociedade democrata do Brasil".