No Rio, candidatos se repetem em acusações envolvendo Lula, Bolsonaro e ‘Ozempic no SUS’
Debate promovido pela Globo foi o último antes do primeiro turno
Os eleitores cariocas tiveram mais uma chance de conhecer melhor as propostas dos candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro no último debate antes da eleição deste domingo, 6. Mediado por Ana Paula Araújo, o evento promovido pela TV Globo contou com a presença de Alexandre Ramagem (PL), Eduardo Paes (PSD), Marcelo Queiroz (PP), Rodrigo Amorim (União Brasil) e Tarcísio Motta (PSOL).
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Sem plateia e dividido em quatro blocos, o debate soava repetitivo. Em boa parte dos embates os candidatos ‘invocaram’ figuras políticas como o ex-governador Sérgio Cabral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Temas como a Operação Lava Jato e a a suspensão da candidatura de Rodrigo Amorim também foram citados pelos políticos.
Insistência em polarização e suspensão de candidatura
Pelas regras do debate, era proibido se referir aos outros candidatos por apelidos. No entanto, não faltaram adjetivos na troca de acusações entre os políticos. Com tema livre, o primeiro bloco já começou com um confronto tenso entre Rodrigo Amorim e Eduardo Paes.
Filiado ao União Brasil, Amorim teve a candidatura indeferida nesta quinta-feira, 3, mas participou do evento. A decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) respondeu a um recurso da defesa do político, que foi condenado em maio por violência política e de gênero.
Em sua pergunta para o atual prefeito, o candidato escolheu falar da Operação Lava Jato, deflagrada há 8 anos, em 2016. A estratégia foi parecida a utilizada por ele no debate da TV Band, no começo da corrida eleitoral, quando citou o ex-governador como “padrinho” do prefeito. “Você estava em Paris, junto com Sérgio Cabral?”, disse, se referindo a um escândalo conhecido como Farra dos Guardanapos.
Seguindo Amorim, Paes também escolheu trazer outras figuras políticas em sua resposta. “Eu me lembro, em 2018, a eleição contra quatro candidatos, incluindo [Wilson] Witzel e [Antony] Garotinho. Todos me acusavam de ser sócio do [Sérgio] Cabral. Sabe o que aconteceu? Todos os quatro, inclusive o Witzel, foram presos”, afirmou, se referindo à eleição para governador em que perdeu, no segundo turno, para Wilson Witzel.
Na resposta, Amorim continuou trazendo figuras políticas para seus argumentos e citou o apoio de nomes como Marcelo Freixo (PSOL) e Pedro Paulo (PSD) na reeleição de Paes. Na tréplica, o atual prefeito aproveitou para divulgar a posse provisória do terreno do Gasômetro, na Zona Norte do Rio, para o Flamengo. O repasse para o clube foi feito nesta quinta.
Após o embate, Eduardo Paes escolheu direcionar sua pergunta para Alexandre Ramagem. Apoiado por Bolsonaro, o candidato chegou ao debate com o vereador Carlos Bolsonaro (PL). O filho ‘02’ do ex-presidente também acompanhou o pai no debate presidencial da mesma emissora em 2022. O deputado federal tem crescido nas pesquisas de intenção de voto e preocupa a campanha do atual prefeito, que quer evitar um segundo turno.
O tema escolhido por Paes foi a segurança pública, atribuição do governo do Estado que pautou toda a campanha de Ramagem. “O senhor não se envergonha de contar essa história quando já manda na segurança pública do Estado há 6 anos?”, acusou o prefeito, se referindo a relação entre Ramagem e o governador Cláudio Castro.
“Não tenho padrinho político. Minha liderança política se chama Jair Bolsonaro”, sublinhou Ramagem. Em entrevista aos jornalistas após o encontro, o apoio do ex-presidente foi questionada, com poucas participações na campanha. Alexandre respondeu: “O presidente Jair Bolsonaro está andando o país inteiro, diversas prefeituras, não apenas as capitais”. Na sequência, afirmou que Bolsonaro chegou no Rio de Janeiro na quinta-feira, 3, e estará presente todos os dias até domingo, 6.
Citando sua carreira como delegado, o candidato do PL ainda defendeu segurança como atribuição da prefeitura e criticou o aliado ao fazer um contraponto com a gestão de Paes.
“A gestão de Cláudio Castro é medíocre, tem muito a se fazer, mas a sua é pior. Seu grupo político é do Lula, do Freixo, a favor do aborto e das drogas”, disse. “Respondo pelas minhas opiniões”, rebateu Paes, negando apoiar as pautas citadas pelo adversário. “Você está escondendo o Lula atrás do armário., o presidente sem povo, que nem live faz”, insistiu Ramagem. O ex-diretor da Abin ainda citou as delações em que o nome de Eduardo Paes aparecia na Lava Jato.
Após as falas de Ramagem, o atual prefeito pediu direito de resposta e foi concedido. “Quem precisa de padrinho político é ele, eu tenho uma história nesta cidade. Ele me lembra o Witzel, uma relação ruim com a cidade, não conhecia nada (…) Sou aliado do presidente Lula, mas não somos iguais”, se defendeu.
Na vez de Tarcísio Motta, ele optou por repercutir a decisão do TRE-RJ em indeferir a candidatura de Amorim, que respondeu com ataques. “O Tarcísio tem um fetiche por mim. Ele tentou, de todas as formas, fazer com que eu não participasse do debate”, afirmou. Ele ainda repetiu um argumento que trouxe no debate da Band, destacando a falta de apoio de figuras como Lula e Marcelo Freixo na candidatura do psolista. Ambos decidiram apoiar Eduardo Paes.
“Quando a gente pergunta sobre um compromisso, eles só respondem ataque. Não se deixe guiar pelo medo, o primeiro turno é o voto da convicção. Voto na mudança”, argumentou Tarcísio, criticando a estratégia de “voto útil” em Paes para evitar um possível segundo turno com Alexandre Ramagem.
O candidato do PL, aliás, voltou a falar em segurança pública durante o confronto com Marcelo Queiroz. “A prefeitura pode potencializar o segurança presente, por exemplo. A Guarda Municipal e o servidor público estão desacreditados. Estamos discutindo pauta de direita e esquerda enquanto os guardas estão sem seus salários”, defendeu Queiroz ao responder suas propostas sobre a pauta.
O candidato ainda pediu a opinião de Tarcísio Motta sobre o posicionamento de seu antigo aliado, Freixo, em pedir voto útil em Paes. O psolista se limitou a falar que não concorda, mas respeita a trajetória do político.
‘Ozempic no SUS’ foi assunto
O clima de tensão seguiu entre os candidatos. Após Paes criticar Marcelo Queiroz, o candidato do PP trouxe para o debate a declaração gordofóbica de Paes durante entrevista para o jornal Extra! no começo da semana.
Na ocasião, o atual prefeito revelou a intenção de disponibilizar Ozempic no sistema público de saúde, caso reeleito. O medicamento, destinado para tratar diabetes tipo 2, se popularizou como emagrecedor. “O Rio vai ser uma cidade que não vai ter mais gordinho, todo mundo vai tomar Ozempic nas clínicas da família”, declarou Paes na entrevista.
Ao trazer o tema, Queiroz ironizou que os cariocas não conseguirão usar o remédio em razão de enormes filas no Sistema Nacional de Regulação (SISREG), em suas palavras. O candidato ainda citou Marcelo Crivella, mais uma vez, no embate. “Você tem um amor infinito por ele. Chamava ele de bispo, hoje roda todas as igrejas buscando apoio”, acusou, complementando ainda que não estava “pedindo secretaria” ao atual prefeito.
“‘Não estou te oferecendo secretaria, estou fazendo um pacto com todos os outros candidatos pra você não ter nenhuma, já que, de todo mundo você quer alguma”, disse Paes, elevando o tom. Depois da tensão, o atual prefeito foi chamado de “vira casaca” por Tarcísio Motta. “Já foi tucano, já votou em Bolsonaro… De forma oportunista, no final de 2022, você apoiou o Lula, senão teria ido até o fim em Ciro Gomes”, apontou o psolista.
A tensão foi substituída pelas amenidades trocadas entre Amorim e Ramagem em seguida. Ambos prometeram o investimento em tecnologia na segurança pública e o candidato do PL chegou a garantir wifi gratuito em toda a cidade. “Nós fazemos propostas sérias, não picanha e Ozempic”, alfinetou Ramagem.
Mais tarde, ao falar em propostas para o transporte público na capital fluminense, os dois candidatos que acumulam mais votos segundo as pesquisas se enfrentaram mais uma vez. Paes questionou o adversário do PL sobre seus projetos para a pauta, e o deputado insistiu em elevar o tom.
“O BRT teve escândalo de corrupção envolvendo Paes. Já o Terminal Gentileza não leva nada a lugar nenhum”, disse, em referência ao projeto inaugurado em fevereiro de 2024 para ser um hub de transporte intermodal da cidade. O atual prefeito, então, reiterou a preocupação com a ampliação das linhas de BRT e a implantação do Jaé, o novo bilhete eletrônico carioca.