O que esperar do debate entre Tarcísio e Haddad na Band? Veja o que dizem especialistas
Para cientistas políticos da FGV e do Mackenzie, primeiro confronto entre candidatos ao governo de SP no segundo turno será nacionalizado e deve reproduzir temas da polarização entre Bolsonaro e Lula
O primeiro debate do segundo turno para o governo de São Paulo será realizado a partir das 22 horas desta segunda-feira, 10. O ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) vão se encontrar no estúdio da TV Bandeirantes para o evento organizado em parceria com um pool de veículos de comunicação.
O resultado do primeiro turno foi favorável a Tarcísio, que venceu com 42,32% dos votos, ante 35,7% de Haddad. Desde então, o ex-ministro - que é a aposta do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado - se manteve à frente nas pesquisas de intenção de voto. O resultado surpreendeu, já que o petista vinha aparecendo na liderança em todos os levantamentos regionais.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada na sexta-feira, 7, Tarcísio apareceu com 50% das intenções de voto, enquanto Haddad teve 40%. Brancos, nulos e indecisos somaram 10%.
O Estadão conversou com especialistas para entender o que se pode esperar do primeiro debate do segundo turno ao governo de São Paulo. De acordo com eles, a expectativa é que o confronto entre Haddad e Tarcísio seja nacionalizado, com ambos buscando explorar a popularidade e a rejeição de seus padrinhos políticos.
"Será uma disputa entre dois apadrinhados", afirma Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da FGV-SP. "Tarcísio não tinha vínculo com São Paulo antes da eleição, mas foi o primeiro colocado do pleito. Isso demonstra a força do bolsonarismo no Estado."
Além da vantagem na retomada do pleito, explicou o professor, Tarcísio tem um forte ativo eleitoral: o desempenho do presidente Bolsonaro, que encerrou o primeiro turno também com desempenho superior às previsões e à frente de Lula em São Paulo, e o apoio declarado do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB).
O cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, relembra que, nos últimos debates do primeiro turno, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas voltaram seus ataques a Garcia. "É provável que os dois candidatos se estudem e busquem entender qual estratégia deverá ser usada no segundo turno. O temperatura pode subir, mas isso vai depender de como eles se portarem no debate", diz Prando.
O professor ainda defende que Haddad tentará furar o alinhamento natural entre os eleitores de Tarcísio e Bolsonaro. "Parte do eleitorado vota em Tarcísio e em Lula", afirmou Teixeira. "Haddad tem de convencer esses eleitores a trocar o republicano por ele." Para Prando, o petista "terá de ser mais incisivo, mas tem de tomar cuidado para não transformar Tarcísio em vítima", disse. "Se Tarcísio for atacado com muita veemência por Haddad, ele pode atribuir uma agressividade desmedida do petista a um certo desespero."
Para Prando, o que o petista pode fazer é demonstrar que conhece mais o Estado do que Tarcísio, visto que o republicano não tem uma ligação forte com São Paulo e transferiu o titulo de eleitor para São José dos Campos (SP) apenas no início do ano. "Quem tem de ganhar o debate é o Haddad, Tarcísio só precisa do empate", declarou o cientista político.
Vera Chaia, cientista política e professora da PUC-SP, acredita que Haddad e o PT ainda têm muito conteúdo para explorar em termos de campanha. "Falta mostrar as obras, as possibilidades e o que os prefeitos do PT já fizeram em São Paulo", observa. Na avaliação da cientista, Haddad precisa fortalecer a ideia de que o PT conhece São Paulo e não apenas a capital, como também o Estado inteiro.
A cientista política espera que Tarcísio de Freitas se apresente como realizador das grandes obras, protagonista da construção de rodovias e ferrovias do Governo Federal. "Mas e no Estado de São Paulo? Aqui, eles não tiveram participação nenhuma, principalmente quando o Doria foi governador. Tarcísio precisa trazer para o debate como pretende replicar essas ações no Estado em si", analisa.
Eduardo Grin, cientista político e professor da FGV, afirma que se pode esperar três acontecimentos durante o debate: o contraponto muito vinculado a imagem nacional dos padrinhos políticos (Lula com Haddad e Bolsonaro com Tarcísio), tentativa - de ambos os lados - de criar a desconstrução do outro adversário e a exploração de propostas de política pública.
Para o professor, Tarcísio deve seguir uma linha semelhante do que apresentou no último debate do primeiro na rede Globo: apresentar-se como um defensor de um "governo que entrega e apresenta resultado" e que irá se beneficiar com a reeleição do presidente. "Tarcísio também deve apostar em um discurso voltado aos empreendedores, olhando, principalmente, para os interiores dos estados e nas áreas do agronegócio", disse. O ex-ministro também deve apostar no discurso contra as polêmicas de corrupção que envolvem o PT a nível federal e na reprovação de Haddad como prefeito de São Paulo.
Apoios
Haddad e Tarcísio receberam nos últimos dias acenos de siglas derrotadas na disputa ao Palácio dos Bandeirantes. O petista angariou o apoio formal de duas siglas na corrida do segundo turno - PDT e Solidariedade. Já Tarcísio já reuniu quatro apoios -- União Brasil, PP, MDB e Podemos.
A grande surpresa veio do atual governador e candidato derrotado do PSDB, Rodrigo Garcia, que declarou apoio à candidatura de Tarcísio, mesmo após inúmeros ataques trocados durante o primeiro turno da campanha. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, também declararam apoio ao republicano.