O que Minas Gerais pode indicar para as eleições presidenciais?
Segundo maior colégio eleitoral do País, Estado representa a diversidade brasileira e já garantiu a eleição de quase todos os presidentes
Em eleições presidenciais, o Estado de Minas Gerais costuma a ser acompanhado de perto por aqueles que observam o processo de apuração das urnas eletrônicas. Não é por menos: na história do País, apenas um presidente eleito perdeu entre os eleitores mineiros.
Esse fato, comprovado em números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde a eleição de Eurico Dutra (1945), não é mera coincidência. A importância do Estado se dá tanto em dados absolutos quanto em características proporcionais, como explicou Mayra Goulart da Silva, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Ciência Política com ênfase em América Latina, em entrevista ao Terra.
"São 16 milhões de eleitores em Minas Gerais, o que faz do Estado o segundo maior colégio eleitoral do Brasil", destaca a especialista. "Mas há uma segunda razão, que diz respeito à bricolagem de vários segmentos ou perfis geográficos no Estado. São perfis identitários que dizem respeito a determinadas geografias do País".
Por fazer fronteira com estados de diferentes regiões do Brasil, Minas Gerais tem, nas palavras da especialista, "um pouquinho" de Centro-Oeste, de Nordeste e do próprio Sudeste, região da qual faz parte, junto com Espírito Santo, Rio de Janero e São Paulo.
"Tem de eleitor urbano até o eleitor rural. Então, tem várias clivagens que aparecem no Estado em miniatura. É como se fosse uma miniatura do Brasil, e isso faz com que, a partir de Minas, seja possível traçar uma média do que é o Brasil", completa.
Isso explica porque o Estado refletiu o resultado das eleições nacionais. Mas a representação não é determinante, uma vez que não há "fórmula certa" quando se fala de eleição. Getúlio Vargas é um exemplo: no pleito de 1950, ele perdeu para seu adversário, o brigadeiro Eduardo Gomes, em Minas Gerais, e acabou sendo eleito na apuração nacional.
Projeções para 2022
Tanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL), candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidências deste ano, fizeram campanha em Minas Gerais ao longo de 2022. Ainda que este pleito seja excepcional em alguns sentidos – como a forte polarização política ou por ter um dos resultados mais apertados em primeiro turno desde a redemocratização –, Minas está caminhando, até o momento, alinhado ao resultado nacional.
No primeiro turno, Lula obteve 48,29% (5.802.571 votos) no Estado, contra 43,60% (5.239.264 votos) de Bolsonaro. Na apuração do País, o petista teve 48,43% (57.259.504) e o atual presidente, 43,20% (51.072.345 votos).
Segundo o último levantamento feito com o eleitorado mineiro, a projeção é que Lula vencerá as eleições em segundo turno no próximo domingo, 30. De acordo com pesquisa da Genial/Quaest, se a eleição fosse realizada nessa quinta-feira, 27, Lula teria 53% dos votos válidos, contra 47% de Bolsonaro.
"Por enquanto, o candidato Lula está levando vantagem. Ele tem mais facilidade em dialogar com um eleitor médio, enquanto Bolsonaro tem mais facilidade de dialogar com o nicho dele, que é mais radicalizado ideologicamente à extrema direita. Esse eleitorado representa, mais ou menos, 30%. Enquanto isso, Lula tenta construir mais pontes para além do segmento mais nichado dele, que é mais para esquerda. Nesse ponto, o PT faz mais acenos ao centro e isso consegue abranger um leque maior de segmentos sociais", analisa Mayra Goulart.
Fator Zema é suficiente?
Ainda que Minas indique Lula como vencedor das eleições, nada é certo antes do dia 30 de outubro. A cientista política chama a atenção para os apoios que Bolsonaro conseguiu no Estado, a começar pelo governador Romeu Zema (Novo) – um aliado de peso para o presidente que busca a reeleição.
"Transferir a base eleitoral de Zema para Bolsonaro é muito importante para pontuar uma diferença contra o Lula", acrescenta a especialista. "O Zema tem a sua trajetória associada àquela localidade, a um diálogo com o público mineiro sobre questões locais".
A especialista, entretanto, ressalta que somente o apoio de Zema pode não ser suficiente, dado o momento ruim pelo qual passa o partido do governador.
"Zema não foi capaz de transferir apoio eleitoral para candidatos a deputado que estavam concorrendo pelo próprio partido dele, o partido Novo, que teve uma péssima performance nessa eleição", conclui.