Petista denuncia PMs por agressão, após levar coronhada e ficar dentro de viatura por mais de 3 horas
Advogado da mulher afirmou que ela foi mantida dentro da viatura, mesmo em frente à delegacia; caso aconteceu em São Vicente (SP)
Uma eleitora de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi agredida por policiais militares, na madrugada desta segunda-feira, 31, em São Vicente, no litoral de São Paulo, quando voltava da comemoração após a vitória de seu candidato. Ela relatou que chegou a ser jogada dentro da viatura, onde ficou confinada por mais de três horas, e levou coronhada na cabeça.
O caso ocorreu após a comemoração da vitória de Lula, no bairro Gonzaga, em Santos (SP), por volta das 2h30 da manhã. Ao Terra, Hélida Duarte de Almeida contou que seu carro estava com adesivos do PT e passou por uma viatura, na Avenida Presidente Wilson, esquina com o canal 2, ainda em Santos.
“Ele [policial] falou ‘boa noite’ e pediram para eu parar. Eles falaram que iam apreender o carro porque o licenciamento estava vencido fazia um mês”, afirma. Em seguida, a autoridade afirmou que ela poderia ir embora, segundo seu relato. A comerciante e biomédica estava com uma idosa de 83 anos que conheceu na comemoração e estava dando carona para ela ir para a casa.
“Eu andei coisa de 600m [já chegando em São Vicente] e ele [policial] pediu para parar de novo. Quando fui fazer o retorno, ele pediu pra parar. Aí o policial pediu para eu sair do carro. Quando eu saí, estava cheia de adesivos do Lula na blusa. Quando ele viu, começou a gritar: ‘vagabunda, vadia, petista tem que morrer’”, relata.
Nesse momento, conforme conta, o agente apontou uma pistola em direção à cabeça dela e um fuzil na altura do “ovário” dela, pressionando. “Está até agora marcado um quadrado no lugar, da marca da arma. E disse que só não me matava porque a gente estava em uma avenida. Eu tive um momento de olhar ao redor, ver outros policiais, e sabe quando você tem um estalo e percebe ‘nossa, deu merda’?”, relembra.
Outros policiais chegaram no local e questionaram se ela estava bêbada, afirmando que ela faria o teste do bafômetro. No entanto, o procedimento não foi realizado. “Eles começaram a falar que eu estava me recusando a fazer o teste do bafômetro”, alega Hélida.
Pouco depois, outro agente a jogou dentro da viatura e tentou tirar o adesivo que estava em sua blusa. “Ele tentou tirar, muito forte. Eu disse: ‘Não! É meu direito! Vou ficar!’, e ele novamente pegou o fuzil e bateu na minha cabeça com a arma. Eu tô até com um galo”, afirma ao relatar que a senhora que estava com ela também foi jogada dentro da viatura.
Confinada na viatura
Em contato com o advogado criminalista Rui Eliseu, que defende a comerciante, ela foi conduzida até a Delegacia Sede de São Vicente, mas ficou confinada dentro da viatura por mais de 3 horas. Outro fato que o advogado levanta é que o boletim de ocorrência foi iniciado somente às 9h20, mesmo o caso tendo ocorrido de madrugada.
Rui aponta que assim que chegaram na delegacia, ela deveria ter sido apresentada à autoridade policial. “Ela foi agredida fisica e moralmente. Depois das 6h, ela foi colocada para dentro da delegacia e ficou aguardando. O fato dela ter ficado dentro da viatura, cerca de 3 horas, tendo que inclusive feito as necessidades dentro da viatura, configura tortura. Isso que aconteceu com ela, extrapolou e entrou para o lado de tortura”, afirma. Além disso, segundo a defesa da mulher, a idosa que presenciou tudo nem sequer foi colocada como testemunha.
As partes foram ouvidas na delegacia, e liberadas. “Tudo isso é muito estranho. [...] Ela é magrinha e baixinha, ela não teria como ir para cima de policiais”, destaca o advogado. “Se tratou de um fato absurdo, inaceitável, pois configutrou uma violência contra uma mulher indefesa, e verdadeiramente uma tortura pública”, declara.
Rui representará criminalmente contra os policiais no Ministério Público de São Vicente, por crime de torutra, lesão corporal e abuso de autoridade. Nesta segunda-feira, ela fez o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande.
Outra versão
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que ela foi detida por desacato e desobediência, pois desobedeceu uma ordem de parada de policiais militares e fugiu. Ainda segundo a pasta, ela teria tentado avançar contra os PMs, e se recusou a fazer o teste de etilômetro, xingando os militares. Bebidas alcoólicas teriam sido encontradas no carro.
O caso foi registrado como desobediência, lesão corporal, desacato e injúria pela Delegacia de São Vicente. A Polícia Civil investiga os fatos e a PM acompanha.
O Terra tentou contato com a Polícia Militar, mas até a última atualização dessa reportagem, não obteve retorno.