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Plano de governo de Haddad tem custo de ao menos R$ 57 bi; Tarcísio não detalha programa

Ações de ex-ministro de Bolsonaro gerariam despesas de R$ 15 bi, mas cálculo correto é difícil por falta de dados nas propostas

14 out 2022 - 05h11
(atualizado às 08h01)
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As ações previstas no plano de governo de Fernando Haddad para uma eventual gestão petista em São Paulo preveem ao menos R$ 57 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos, incluindo recursos do Tesouro Estadual e de parcerias com a iniciativa privada para obras de maior impacto, como a conclusão do trecho norte do Rodoanel. Já os planos de seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos), são apresentados de forma genérica e, por isso, dificultam o cálculo.

Pelas mais recentes promessas, o ex-ministro precisaria de R$ 15 bilhões para colocar em prática apenas quatro delas: concluir o Rodoanel, implementar o trem intercidades, conceder bolsa para todos os alunos do ensino médio e fazer 35 hospitais dia.

Para Calábria, no entanto, a principal falha é o fato de Tarcísio não mencionar em seu plano de governo o principal problema dos transportes e mobilidade no Brasil: o financiamento extratarifário.
Para Calábria, no entanto, a principal falha é o fato de Tarcísio não mencionar em seu plano de governo o principal problema dos transportes e mobilidade no Brasil: o financiamento extratarifário.
Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão

O Estadão mensurou valores de programas e obras com base nos gastos mais recentes feitos pelo governo em projetos semelhantes e também a partir de informações passadas pela campanha petista (a de Tarcísio não respondeu) e por editais já anunciados. É o caso, por exemplo, do custo do trem intercidades, prometido tanto por Haddad como por Tarcísio. A gestão Rodrigo Garcia (PSDB) prevê que sejam necessários R$ 10,2 bilhões, valor que, em tese, será repassado à iniciativa privada.

Nos investimentos diretos, a construção de hospitais dia - destinados a oferecer exames e pequenas cirurgias, também está entre os projetos de ambos os candidatos. Haddad promete entregar 70 unidades ao custo de R$ 25 milhões, cada. Isso apenas para a construção, sem contar o custeio. Tarcísio fala em 35. Na área da saúde, o petista também se propõe a fazer cinco hospitais regionais - o último lançado pelo Estado, em Franca, tem custo estimado em R$ 230 milhões.

O professor e pesquisador Marcio Scheffer, da Faculdade de Medicina da USP, disse que os planos apresentam semelhanças e diferenças importantes na área médica. "Ambos prometem acabar com filas em especialidades, integrar a rede estadual com os serviços de atenção primária dos municípios, apoiar as Santas Casas e implantar a telemedicina, por exemplo", ressaltou.

Nas diferenças, o autor do blog Política&Saúde, do Estadão, afirmou que Haddad trata dos cuidados médicos necessários às populações mais vulneráveis, como moradores de rua, população negra e LGBT+, em suas metas. "Tarcísio as omite", observou. E, de novo juntos, prometem investir em ciência e no desenvolvimento de tecnologia na área da saúde - demanda escancarada pela pandemia de covid-19.

Uma das principais bandeiras de Haddad nesta campanha, a criação de bilhete único para a Região Metropolitana de São Paulo tem previsão de custar ao menos R$ 1 bilhão ao ano para o Estado. Sua implementação, no entanto, não depende apenas do caixa estadual, mas de costuras políticas a serem feitas com prefeitos das cidades que compõem a Grande São Paulo.

Na mobilidade urbana, Haddad se compromete ainda a retomar a gratuidade do transporte para idosos com 60 anos ou mais. O custo estimado seria de R$ 592 milhões ao ano. Já Tarcísio costuma citar a conclusão de obras em andamento pelos governos tucanos, como o Rodoanel (R$ 3,4 bilhões), viabilizar o trem intercidades, fomentar voos regionais e otimizar os portos.

Para o coordenador de Mobilidade Urbana do Idec, Rafael Calábria, o capítulo de mobilidade apresentado por Tarcísio exemplifica a falta de detalhamento que geralmente caracteriza planos de governo. "Além de genérico, focado em transportes regionais e em cargas - não passageiros -, ele nem sequer cita ciclistas e pedestres ou ainda questões de segurança no trânsito ou da crise climática", afirmou.

Para Calábria, no entanto, a principal falha é o fato de Tarcísio não mencionar em seu plano de governo o principal problema dos transportes e mobilidade no Brasil: o financiamento extratarifário. Haddad detalha em suas metas a intenção de criar um fundo estadual para assegurar a oferta de subsídios e investimentos para a expansão do transporte paulista sobre trilhos.

Os atrasos na conclusão de obras de metrô, por exemplo, são amplamente expostos por ambos os candidatos, que prometem dar um novo ritmo aos projetos. Mais votado no interior do Estado, Tarcísio coloca o trem intercidades, que ligaria a capital à região de Campinas, e depois a outras regiões, como uma de suas prioridades. "Vamos contratar a operação da linha entre Americana e São Paulo, passando pelas cidades de Campinas, Jundiaí, São Paulo e região do ABC. E iniciar os estudos e projetos para segunda linha, ligando Sorocaba a São José dos Campos, assim como o acesso à Baixada Santista", prometeu.

Com um programa de governo detalhado por área e até mesmo região do Estado, Haddad tem entre seus compromissos principais a geração de emprego e a redução de impostos. O petista fala em zerar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide sobre a cesta básica e a carne, e também afirma que, se eleito, vai congelar o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA) para ajudar motoristas de aplicativo. Segundo a campanha de Haddad, a primeira proposta - também defendida por Tarcísio - teria custo estimado de R$ 1,5 a R$ 2 bilhões ao ano. Já a segunda, relativa ao IPVA, poderia alcançar R$ 10 bilhões, levando-se em conta a arrecadação atual.

No papel, as promessas de Haddad cabem no orçamento estadual, segundo balanços oficiais e especialistas em finanças ouvidos pela reportagem - a mais cara delas seria destinar R$ 4 bilhões ao ano em moradias populares. Entre 2019 e 2021, o governo João Doria (PSDB) investiu R$ 51,8 bilhões em ações que envolveram recursos públicos e privados. Até dezembro, a expectativa é aplicar outros R$ 27 bilhões. Se a arrecadação atual não se alterar de forma significativa, o próximo governo deverá ter quantia semelhante.

Estadão
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