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Poder do eleitorado evangélico impede debates polêmicos

O peso do voto religioso freia discussão sobre temas como aborto, direitos dos homossexuais e legalização da maconha. Especialista vê Dilma como a candidata mais bem relacionada com esse público

11 ago 2014 - 13h43
(atualizado às 13h58)
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O debate de temas polêmicos, como aborto e legalização da maconha, deve ficar abafado nas campanhas dos três principais candidatos à Presidência da República até a realização do primeiro turno das eleições. Com essa estratégia, a presidente Dilma Rousseff (PT) e os oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) buscam não desagradar os evangélicos, que representam 22,2% da população brasileira, segundo o IBGE.

Para especialistas, o peso do voto religioso freia uma discussão mais ampla sobre temas ligados, por exemplo, aos direitos das mulheres, direitos dos homossexuais e ao combate ao tráfico de drogas. O comentarista político Kennedy Alencar avalia que compromissos políticos estabelecidos durante a campanha vão comprometer as decisões do próximo presidente. "São assuntos que pertencem basicamente ao Congresso. Se são levados à disputa presidencial, os candidatos ficam de mãos atadas se quiserem lidar com a questão do aborto, por exemplo, do ponto de vista da saúde pública", argumenta. "Dessa maneira se congelam temas que merecem debate, respeitadas todas as posições."

Marcos Pereira, presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB), legenda ligada à Igreja Universal, defende que os posicionamentos sobre questões do campo moral sejam claros entre os candidatos. "Se tiverem que se posicionar, devem fazer isso abertamente para não deixar dúvidas sobre o que pensam. O eleitorado evangélico acaba tomando a resposta duvidosa como algo contrário ao que ele pensa", disse o bispo, ressaltando que, no primeiro mandato, Dilma não fomentou nem apoiou a discussão de temas polêmicos.

Dilma tem melhor interlocução

Segundo o historiador Marco Antônio Villa, a relação dos candidatos à Presidência com lideranças evangélicas é instrumental: o elo criado entre religião e política busca favorecimentos mútuos. "Desde as eleições de 2002, virou tradição procurar líderes de igrejas. Os candidatos acreditam que esses representantes têm grande influência sobre os adeptos. Os líderes das igrejas, por sua vez, buscam obter uma série de proveitos políticos e financeiros", explica.

Com o início da propaganda eleitoral gratuita no dia 19 de agosto, a disputa pelo eleitor evangélico vai se intensificar, e deve ficar polarizada entre a presidente Dilma Rousseff e o candidato Aécio Neves. Segundo recente pesquisa do Ibope, a petista lidera a disputa com 38% das intenções de voto, seguida de Aécio, com 23%, e o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, candidato pelo PSB, com 9%.

O tucano conta com o apoio do pastor e presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, José Wellington Bezerra da Costa. A coordenação da campanha de Aécio, no entanto, diz que não há um planejamento específico para o eleitorado evangélico.

Temas polêmicos devem ser mais explorados no segundo turno, especialmente se a disputa for entre Dilma e Aécio. "Ele vai tentar colocar Dilma contra a parede. E vai usar muitos dos documentos produzidos pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência para confrontá-la em relação às demandas dos religiosos", prevê Villa.

Para o historiador, a presidente é a candidata que tem a melhor interlocução com o setor. Assim como em 2010, Dilma vai contar com amplo apoio da Igreja Universal do Reino de Deus. "Ela está no governo, que tem instrumentos poderosíssimos de controle. As concessões de rádio e televisão, por exemplo, interessam muito aos evangélicos", afirma.

Campos será apoiado pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Marina Silva, candidata à vice-presidente pela legenda, é evangélica, mas, segundo a coordenação da campanha, não deve atuar perante esse eleitorado. Na semana passada, porém, Marina levou o candidato a um encontro com 2 mil pastores na Assembleia de Deus de São Paulo.

Evangélico vota em evangélico?

A novidade da eleição presidencial deste ano é um candidato pastor. Quarto colocado nas pesquisas, Everaldo Pereira, vice-presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC) e líder da Assembleia de Deus, está com 3% das intenções de voto, de acordo com o Ibope.

Villa considera que, para uma "pessoa desconhecida", o índice é significativo. "A aprovação dele é grande no Rio de Janeiro, o segundo maior colégio eleitoral do País. Se permanecer nessa faixa, será extremamente importante para a realização de um segundo turno", analisa.

A bancada evangélica no Congresso conta com 73 parlamentares. E a intenção da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados é aumentar esse número em pelo menos 30% nessas eleições.

Especialistas não acreditam, no entanto, que, na hora de votar, os fiéis sigam necessariamente as indicações políticas dadas pelas lideranças religiosas.

"Acho que há uma avaliação exagerada desse apoio. É natural que os pastores afirmem ter enorme influência, afinal, querem que seu apoio político seja recompensado. Acredito que esse eleitorado tenha uma relativa independência", diz Villa. "A representatividade dos evangélicos nas assembleias legislativas e na Câmara é muito menor do que o número de fiéis existentes no País."

Apesar de os políticos estarem dispostos a instrumentalizar o voto religioso a qualquer preço, ele não deve decidir essas eleições, afirma o historiador de religiões Leandro Seawright Alonso.

"Existe uma tendência de os fiéis seguirem seus pastores em alguns setores. A escuta dos pastores pentecostais na periferia, por exemplo, é mais ampliada", diz. "Os políticos assediam as igrejas, mas ainda não há um voto evangélico em nível nacional que seja decisivo para as eleições presidenciais."

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