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Quem são as novas vereadoras de SP, que terá uma Câmara com o dobro de mulheres em 2017

20 out 2016 - 06h47
(atualizado às 16h38)
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Rute Costa, Aline Cardoso, Adriana Ramalho, Janaina Lima e Sâmia Bonfim: as novas caras das mulheres na Câmara de São Paulo
Rute Costa, Aline Cardoso, Adriana Ramalho, Janaina Lima e Sâmia Bonfim: as novas caras das mulheres na Câmara de São Paulo
Foto: Divulgação

Elas ainda estão distantes de refletir a composição demográfica da população geral, mas na próxima legislatura serão - pelo menos numericamente - duas vezes mais fortes que na atual.

Na maior cidade do país, São Paulo, 11 mulheres serão empossadas como vereadoras em janeiro de 2017 - mais que o dobro das cinco atuais.

Elas equivalem a 20% da Casa, bem acima da média nacional, que é de 13,5%.

Entre as capitais, só em Natal e Curitiba a representatividade é proporcionalmente maior: 28% e 21%, respectivamente. As capitais do Rio Grande do Norte e Paraná também tiveram aumentos expressivos na eleição de mulheres neste ano.

Entre as 26 capitais brasileiras, o número de mulheres subiu em dez.

Ao desafio de serem ouvidas em um ambiente ainda dominado pela voz masculina, as vereadoras paulistanas precisam superar outro obstáculo: vencer diferenças ideológicas bastante acentuadas.

"Temos que fazer um esforço para isso. Pretendo procurar as demais para ver se podemos articular projetos juntas, especialmente no que diz respeito à violência contra a mulher. Assim, elas podem pressionar seus correligionários para que a gente consiga passar essas pautas", disse Sâmia Bonfim, eleita pelo PSOL.

'Virada?'

Ela é uma das cinco "marinheiras de primeira viagem" entre as 11 eleitas. A BBC Brasil conversou com quatro delas.

"A vida das mulheres está acima de qualquer sigla partidária", diz Janaina Lima, do Partido Novo. Para ela, unir forças é a melhor estratégia para alcançar "melhores resultados" nesse sentido.

"Acho que é possível fazer essa articulação. Às vezes o propósito vai ser o mesmo, mas talvez os caminhos para chegar até ele sejam diferentes. Mas eu farei a minha parte para superar as diferenças ideológicas e fortalecer os objetivos em comum", afirmou Aline Cardoso, do PSDB.

Adriana Ramalho, também do PSDB, diz que "diálogo é sempre o melhor caminho" e que "na hora de visar à defesa da mulher, vamos dialogar sem colocar ideologia partidária e sem ser tão radical."

As novatas eleitas consideram que a ampliação da bancada feminina pode ser considerada um "momento de virada" na política local.

"Isso é uma consequência de vários esforços que estão vindo da sociedade. Até alguns homens me disseram: eu quero votar numa mulher. Quando você tem homens que enxergam a necessidade de melhorar essa representatividade, aí o movimento começa a tomar uma força maior", diz Aline Cardoso.

Câmara de São Paulo ainda tem homens como esmagadora maioria, mas terá o dobro de mulheres em 2017
Câmara de São Paulo ainda tem homens como esmagadora maioria, mas terá o dobro de mulheres em 2017
Foto: Divulgação

Secretaria das Mulheres

A maioria das vereadoras diz ser contra a ideia do prefeito eleito, João Doria, de fechar a Secretaria das Mulheres - criada pela gestão de Fernando Haddad em 2013.

A pasta, segundo a prefeitura, tem o objetivo de "formular, monitorar e executar políticas públicas para as Mulheres, em especial na área de enfrentamento à violência e promoção da autonomia econômica".

"Tudo isso é custo. Para quê? Gerar status? Prefiro gerar política pública", afirmou ele durante a campanha, ao mencionar pastas que seriam fechadas.

"Eu sou contra. Já pedimos uma reunião e falamos com coordenador da campanha e o vice-prefeito e pedimos que a secretaria seja mantida", afirmou Aline Cardoso, do PSDB.

Já a também tucana Adriana Ramalho amenizou o impacto da possível extinção e disse que o importante será "garantir as políticas públicas" - para ela, a secretaria é apenas "simbólica".

Confira, a seguir, quem são as novas vereadoras paulistanas:

Rute Costa

Dentre as cinco vereadoras novatas, Rute Costa, 49, foi a mais votada, com 33.999 votos. Ela é do PSD (Partido Social Democrático) e recebeu amplo apoio da igreja evangélica Assembleia de Deus.

Rute é filha do presidente da Assembleia de Deus, pastor José Wellington Bezerra da Costa. O irmão dela, pastor Paulo Freire, é deputado federal, e a irmã, Marta Costa, teve três mandatos como vereadora de São Paulo e hoje também ocupa uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Na campanha, Rute não direcionou seu discurso para as mulheres. Quando eleita, ela afirmou que irá "representar a igreja na Câmara dos Vereadores".

Entre as principais propostas que pretende levar para a Casa estão desconto de passagens em transporte público durante todo o fim de semana "para que as pessoas possam ir à igreja no sábado ou gozar de momentos de lazer com a família" e a criação de projeto de lei para incentivar creches em bairros.

Adriana Ramalho

Adriana Ramalho, 35, do PSDB, foi a segunda "novata" mais votada para a Câmara, com 29.756 votos. Ela também fará parte da bancada evangélica - que é maior do que a bancada feminina, com 15 representantes.

Mas ressalta: "Eu não sigo uma de bandeira da placa de Igreja. Busco agir com coerência e ética".

Adriana seguiu os passos do pai, Ramalho da Construção, que foi líder sindical na Construção Civil e é parlamentar. "Minhas prioridades serão garantir os direitos trabalhistas, os direitos da mulher e dos idosos", afirmou.

Vereadores eleitos pelo PSDB - da esquerda para a direita, Adriana Ramalho e Aline Cardoso são as representantes femininas do partido
Vereadores eleitos pelo PSDB - da esquerda para a direita, Adriana Ramalho e Aline Cardoso são as representantes femininas do partido
Foto: PSDB / BBC News Brasil

"Uma das minhas propostas é aumentar o número de casas de abrigo na cidade para mulheres vítimas de violência. Além disso, atualmente não é permitido que os filhos adolescentes acompanhem as mães lá e isso é uma barreira para elas, precisamos mudar esse equipamento público. E precisamos também de mais Delegacias Da Mulher que funcionem 24h", pontuou.

Aline Cardoso

Aline Cardoso, do PSDB, tem 37 anos e é a terceira vereadora de primeira viagem com mais votos - teve 25.769.

Também com veia política na família - seu pai é o deputado Celino Cardoso (PSDB), que exerce o sexto mandato no Congresso -, Aline é filiada ao partido desde 1998, mas só agora decidiu concorrer a um cargo político.

"Eu tinha me afastado da política por escolha pessoal, fui mãe, atuei no setor privado. Mas de 2013 para cá ficou claro para mim que a gente precisava de novos líderes", disse.

Entre suas prioridades de propostas estão o combate à gravidez na adolescência e a ampliação de oportunidades de empreendedorismo feminino. "O feminismo não é minha única pauta, mas ele está na minha pauta", disse à BBC Brasil.

Além disso, ela promete defender em seu mandato a simplificação da abertura de empresas, a ampliação de faixas e corredores para ônibus, estímulo ao uso de veículos não motorizados, a ampliação dos CEUS (Centros Educacional Amplificado), entre outras.

Janaina Lima

Janaína Lima, 32 anos, ganhou notoriedade com a participação no movimento "Vem Pra Rua", liderando protestos contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Eleita com 19.425 votos, ela tem como principal promessa um "mandato anti-corrupção" e prometeu "cortar em 50% a verba do gabinete, abrir mão do regime previdenciário especial, do carro e das demais verbas indenizatórias" para "ser um exemplo de político que serve sem se servir."

À BBC, Janaina diz que seu mandato terá três pilares: "exercer o papel fiscalizador que cabe aos vereadores; apresentar projetos nas áreas de primeira infância; e empreendedorismo."

Janaina Lima se destacou no movimento "Vem Pra Rua", que liderou protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff
Janaina Lima se destacou no movimento "Vem Pra Rua", que liderou protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff
Foto: Divulgação

"Como mulher e mãe - e hoje, política, quero que meu mandato seja um instrumento para aumentar a participação e o engajamento das mulheres na sociedade civil e nos espaços de poder."

Nascida na periferia de São Paulo, Janaina se formou em Direito e promete atuar para melhorar as oportunidades nas regiões mais pobres da cidade. Para isso, ela quer promover programas de capacitação profissional e incluir as matérias de "Empreendedorismo" e "Educação Financeira" nas escolas.

Sâmia Bonfim

Sâmia Bonfim, 27, foi uma das maiores "surpresas" dessa eleição. Ela ficou conhecida por ter participado do "Movimento Passe Livre", contra o aumento da tarifa em 2013 e do movimento feminista no ano passado.

Ela foi a primeira vereadora da história do PSOL a ser eleita na Câmara de São Paulo e credita ao movimento feminista o seu sucesso. Suas prioridades serão o combate à violência contra a mulher, garantia do direito ao parto humanizado e ao aborto legal em todos os hospitais públicos da cidade, entre outros.

Eleita pelo Psol, Sâmia Bonfim participou de protestos contra o presidente Michel Temer e pelos direitos das mulheres
Eleita pelo Psol, Sâmia Bonfim participou de protestos contra o presidente Michel Temer e pelos direitos das mulheres
Foto: Carlos Esdras / BBC News Brasil

"Eu recebi muitos ataques pela condição de ser mulher e candidata feminista. Os mais tranquilos eram de gente que duvidava da minha capacidade, por ser jovem, menina. Mas pela internet era mais pesado, recebi ameaças, comentários dizendo que 'feministas merecem a morte', falando 'que bom que na ditadura estupravam mulheres' e por aí vai".

As expectativas dela para o primeiro mandato na Câmara não são diferentes. Sâmia acredita que terá sua "capacidade questionada o tempo todo".

"Acho que vou sofrer muitos ataques de gente que está há muito tempo lá, oligarquias, setores conservadores, evangélicos. Vou enfrentar uma pedreira. Mas acho que o movimento feminista está muito forte e qualquer tipo de ataque que eu receba vai ter repercussão e uma reação nas redes sociais. O bom é que hoje nenhuma mulher está sozinha."

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