Questões climáticas, falta de transporte e facilidade para justificar: as razões para alta abstenção
Em live do Terra, Isabela Kalil diz que há série de motivos para ausência do eleitor nas eleições municipais
O segundo turno das eleições municipais de 2024 chamou a atenção pelo alto número de abstenções entre os eleitores. Após o fim da apuração dos votos no domingo, 27, o pleito em São Paulo, por exemplo, teve 2.940.360 ausências, 31,54% do eleitorado paulistano -- a quantidade nominal supera, inclusive, a quantidade de votos recebidos por Guilherme Boulos (PSOL), derrotado pelo prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB).
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Dos mais de 33,9 milhões de brasileiros aptos a votar, cerca de 3 em cada 10 eleitores não compareceram às urnas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A abstenção registrada no 2º turno foi de 29,26%, número superior ao da primeira etapa da eleição municipal, quando o índice de ausência foi de 21,71%.
Em live do Terra, a antropóloga Isabela Kalil destaca a complexidade do fenômeno das abstenções eleitorais, uma vez que há uma série de motivos para que o eleitor se ausente das urnas.
"Falar de abstenção é uma das coisas mais difíceis do fenômeno eleitoral porque, quando a gente tem, por exemplo, eleitores que votaram em X partido ou X candidato, é mais fácil. Depois das eleições, a gente pode fazer grupo focal, entrevista, pesquisa, e perguntar e tentar entender qual foi a motivação, por que votar naquele partido ou candidato. Agora, o fenômeno da abstenção é super complexo, porque as pessoas podem não ir votar por diferentes razões", afirmou Isabela.
Entre as razões que são levadas em consideração para explicar as abstenções, a especialista destaca as questões climáticas como impeditivo na locomoção de uma parcela da população, falta de representação nas urnas, tanto no primeiro quanto no segundo turno, e até a facilidade para justificar a ausência.
"Há uma possibilidade, uma hipótese de que com o aplicativo do título eleitoral ficou mais fácil justificar. Isso poderia, não acho que explique tudo, mas isso é uma mudança significativa na própria dinâmica do voto", destaca Isabela.
A antropóloga critica, ainda, a ocorrência da falta de transporte público, principalmente gratuito, no dia da votação. "No fim de semana tem uma diminuição, não deveria ser assim mas isso é outra questão, há inclusive denúncias sobre prefeituras que diminuem o transporte. Tanto no campo quanto na cidade, há populações que tem muita dificuldade de se locomover."
Isabela ressalta que os índices de abstenção costumam ser maiores no segundo turno. "Dá a impressão que a eleição está resolvida. Há, também, muitas pessoas que votaram em candidatos que não estão no segundo turno e não se sentem representados", explicou.
"Além de tudo isso, existe um fenômeno que a gente vai precisar investigar com muita calma, não só entender quem vota na esquerda e na direita, mas quem não está indo votar. Essa abstenção é relativamente alta, de 30%, e são eleitores que não se sentem representados nem por um lado, nem por outro, e é muito difícil pesquisar antes", completou a antropóloga.