Receio de clima de guerra faz DF montar maior esquema de segurança para 7/9
Secretaria de Segurança Pública deixou todo o efetivo da PM de prontidão e não descarta uso de bomba de gás em caso de 'extrema necessidade'
O governo do Distrito Federal montou um esquema de segurança de proporções inéditas para evitar conflitos na manifestação convocada para o 7 de Setembro por apoiadores do presidente e pelo próprio Jair Bolsonaro (PL). Há um forte clima de tensão em torno do ato por causa de bandeiras radicais como ataques antidemocráticos ao STF e ao TSE nos últimos meses.
O aparato que mobiliza praticamente todo o efetivo da Polícia Militar do DF, e conta ainda com apoio da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Força Nacional, é o maior já montado para uma celebração do Dia da Independência. As forças de segurança dizem estar preparadas para evitar eventuais tentativas de invasão de prédios públicos.
Cobertura especial
O governo sustenta que vai colocar todo o efetivo policial de prontidão municiado com equipamentos para contenção de protestos como bombas de gás, de luz e som, além da cavalaria. Folgas foram canceladas no feriado. O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, disse em entrevista ao Estadão que os policiais estão preparados para conter possíveis atos de "distúrbios civis" entre manifestantes mais radicais apoiadores de Bolsonaro. Sua expectativa, no entanto, é que a manifestação ocorra de forma tranquila.
Segundo o secretário, os equipamentos de efeito moral só serão utilizados em caso de "extrema necessidade". "Algum tipo de bomba de gás e também de luz e som, a própria cavalaria, que é utilizada nessa situação para que haja um certo tipo de contenção, mas a gente não acredita que precise fazer uso disso", explicou.
Multidão
O público estimado pelo GDF para o ato político e o desfile de 7 de Setembro é de 500 mil pessoas. No ano passado, a PM divulgou extraoficialmente que 400 mil pessoas haviam participado de ato na Esplanada. Numa comparação com eventos históricos na capital federal e que lotaram os gramados em frente ao Congresso, o número foi considerado inflado. Donos dos números, policiais militares têm manifestado alinhamento com Bolsonaro.
Na votação do impeachment do então presidente Fernando Collor em setembro de 1992, havia 100 mil cara-pintadas na frente do Congresso. Em 2016, outros 100 mil ocuparam a Esplanada pedindo o impeachment de Dilma Rousseff.
Locais considerados sensíveis, como o Supremo Tribunal Federal, o Congresso, alvos de ataques de bolsonaristas, terão o acesso fechado. "A gente vai utilizar gradis em todos esses prédios. Supremo, Câmara, Senado, Planalto, MRE (Ministério das Relações Exteriores) e Ministério da Justiça vão estar cercados para evitar que o público tenha acesso, não vai ser área permitida para manifestação", disse o secretário.
O presidente Jair Bolsonaro tem estimulado os atos de 7 de Setembro. Em julho, durante a convenção que lançou sua candidatura à reeleição, convocou seus apoiadores a irem "às ruas pela última vez" e atacou ministros do Supremo. "Nós não vamos sair do Brasil. Somos a maioria, nós temos disposição para a luta. Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez. Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo, têm que entender que quem faz as leis são o Poder Executivo e o Legislativo".
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro disse que não reconheceria o resultado da eleição caso ele perca. Hoje, as pesquisas de intenção de voto indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o favorito para ganhar a eleição.
Na última semana, o ministro do STF Alexandre de Moraes, que acumula a presidência do TSE, autorizou operação de busca e apreensão contra oito empresários bolsonaristas. Justificou a medida por causa da suspeita de que os alvos estariam financiando a presença de grupos radicais no 7 de Setembro. Relatórios elaborados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também alertaram para o risco de acirramento dos protestos com infiltração de radicais em meio ao ato que também irá ocorrer no Rio de Janeiro.
Não há previsão, até o momento, de que Bolsonaro faça discurso em Brasília. Durante a parada militar, a participação do presidente se limita em abrir o desfile e acompanhar a passagem da tropa sem manifestar-se. Ele pode, no entanto, após o evento, querer falar como já fez em outras ocasiões usando carro de som de seus apoiadores.
O secretário também chamou a atenção para o fato de os hotéis da capital federal já estarem quase com sua capacidade total lotada. "A gente está esperando também caravanas que venham de fora. A rede hoteleira de Brasília já está com índice elevado de ocupação, mais de 80% para o período. Deve ter bastante gente em Brasília. A gente acredita que para o desfile de 7 de setembro, dia da pátria, vai ser um público considerável. A gente se prepara para um público grande".
Reforço
Além da Polícia Militar, a Polícia Legislativa da Câmara, do Senado, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal também farão a segurança do ato. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) atuarão na proteção do presidente e a Força Nacional ficará restrita à guarda do prédio do Ministério da Justiça. O espaço aéreo será fechado para uso civil, mas as equipes de segurança poderão fazer o monitoramento por drones e câmeras.
Apesar do clima de acirramento político motivado pelas eleições polarizadas deste ano, no diagnóstico do chefe da Segurança Pública do DF os atos serão menos "acalorados" do que em 2021. Para corrigir uma falha no esquema de proteção da Esplanada no ano passado, será proibida a entrada de caminhões, ou qualquer tipo de veículo na Esplanada dos Ministérios.
No ano passado, veículos furaram o bloqueio de segurança e entraram na Esplanada. Os automóveis também se negaram a sair do local após o 7 de setembro e só começaram a sair a partir do dia 9. Na ocasião o clima já estava acirrado. Bolsonaro viajou para São Paulo e lá fez discurso dizendo que não acataria decisões do ministro Alexandre de Moraes.
"Foi um aprendizado, experiência diferente, mas a configuração também era diferente. Eram manifestações, não tinha desfile, nem nada. Dessa vez não será permitido o ingresso de nenhum tipo de veículo. Ou seja, nem de caminhão, de carro de passeio, nada disso", alertou o secretário. Assim como em 2021, o público será revistado e está vedada a entrada com objetos perfurantes ou cortantes, como vidros, fogos de artifício e hastes para bandeiras.
O governo do Distrito Federal dialoga com oito organizadores de manifestações bolsonaristas. Nenhum grupo de oposição ao governo pediu ainda para realizar um ato paralelo ao desfile em Brasília. O trânsito da Esplanada será fechado a partir das 17h do dia 6, véspera do feriado da Independência. De acordo com a Secretaria de Segurança, o bloqueio pode ser antecipado caso haja necessidade. A Esplanada também será equipada com postos médicos para atendimento de emergencial.