Debate no Rio tem copo quebrado e plateia desobediente
Filha do candidato derrotado Anthony Garotinho, Clarissa Garotinho foi a responsável por fazer barulho no teatro Oi Casa Grande
Foi um debate do barulho. Longe dos microfones e dos holofotes, o primeiro confronto na TV entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro no segundo turno foi de sons inesperados. A começar pelo “fenômeno” que rondou o auditório do teatro Oi Casa Grande, no Leblon, onde Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) se encontrarm para o debate, realizado pela TV Bandeirantes. Foi Pezão subir ao palco do histórico teatro para um copo que estava no púlpito de Crivella ir ao chão. Mil pedaços, um tilintar estridente e trabalho para a funcionária da faxina, que teve que desfazer o estrago em segundos.
Os sons de Crivella chamaram atenção nos bastidores. Ao se posicionar em seu lugar no estúdio, os mais atentos podiam ouvir um batuque discreto com as mãos. Coisa de quem, ao menos até aquele momento, estava tranquilo. Ou de alguém que aniversariava naquele dia. Na falta de bolo e festa, o jeito foi sambar com as mãos. Na hora do teste do microfone, o som do senador foi entre o esperto e o fanfarrão: “Vote dez, vote Crivella”.
Para Pezão, que chegou ao seu lugar bem depois do adversário, o som inaugural foram algumas palmas vindas do grupo que o acompanhava. E, na ausência do candidato ao governo derrotado, Anthony Garotinho (PR) - esse sim, um exímio especialista em fazer barulho -, a enviada foi a filha, Clarissa. A deputada federal recém-eleita chegou no compasso discreto do salto agulha para representar o pai, que acaba de fechar apoio a Crivella no segundo turno.
Mas a discrição durou pouco. Foi Clarissa a responsável pelo estrondo da noite. No intervalo entre um bloco e outro, do canto direito do teatro, ela não titubeou. Soltou o gogó e gritou para o senador Francisco Dornelles, do PP, vice na chapa de Pezão, que estava distante: “Oh, Dorneles, conta para o Pezão onde é o Noroeste do Estado, conta!”, detonou a representante do clã Garotinho, após um comentário geográfico equivocado - segundo ela - do adversário Pezão.
A descortesia foi respondida pela claque de Pezão: “volta pra Brasília, Garotinho!”, alguém bradou, não mais discreto, lembrando que o deputado federal não tem mais cargos aos quais concorrer em 2014.
Som baixo e discrição só quando o marqueteiro de Pezão, Marcelo Carneiro, subia ao palco nos intervalos para aconselhar o cliente. Houve quem quisesse ser uma pulga para saber o teor do que se cochichava ali. O mistério foi tanto que o profissional ficou de costas para o palco todas as vezes, como quem esconde o gestual e a palavra. O mesmo trato à bola não foi dado por Lula Vieira, fiel escudeiro de Crivella, que se não gritava, também não parecia ter muito a esconder do público.
No mais, o que dizer da plateia, que se manifestou entre palmas efusivas e gritos empolgados? Sem constrangimentos, o público rompeu o pacto firmado com a emissora, que pediu encarecidamente, como de praxe, aliás, para que não houvesse manifestações e comentários. Ninguém se importou. Eram efusivas salvas e mais salvas de palmas.
Razão tinha mesmo o taxista, que, ao final, ao ver a porta do Casa Grande movimentada depois de já rompida a meia-noite, perguntou, certo de que a resposta seria afirmativa: “Teve show aí, é? Foi de quem?” Foi respondido com uma risada animada da passageira: “É, de certo modo, sim. Os números foram variados. E aplauso foi o que não faltou”.