Debate no RJ tem soco na mesa e banquinho; veja bastidores
Pezão passa a maior parte do tempo sentado. Crivella se confunde com as câmeras. E haja maquiagem! No Rio, o Terra acompanhou o segundo debate e traz curiosidades de como se portam os candidatos nos intervalos
Quando o eleitor curioso dispõe do controle remoto e coloca no canal devido para assistir a um debate eleitoral, que com suas acusações, fanfarronices e, por último, apresentação de propostas, tenta clarear o seu caminho na hora de enfrentar a urna eletrônica no próximo dia 5 de outubro, o que se pode observar são closes nos candidatos, no mediador e, no máximo, aquela imagem área proporcionada pela indispensável grua. Tudo bem, às vezes também vaza o som da plateia aplaudindo ou vaiando alguma declaração.
Mas, o fato é que o que o telespectador-eleitor não imagina que, para levar ao vivo o debate entre os candidatos, além de toda uma estrutura técnica, existe ainda um esquema de bastidores que demonstra curiosidades de cada um dos políticos – que passa longe do que é levado ao vivo na TV da sua casa. Foi com esta proposta que a reportagem do Terra visitou um teatro no Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, no segundo debate entre os candidatos ao governo do estado fluminense – realizado pela Rede TV! na noite desta terça-feira.
Você sabia, por exemplo, que o atual governador e candidato à reeleição pelo PMDB, Luiz Fernando Pezão, que ao apresentar seus argumentos junto dos seus atributos físicos, que exigem um zoom out da câmera maior que os seus rivais, passa a maior parte do tempo sentado num banquinho de braços cruzados? Que o candidato do PR, o deputado federal licenciado Anthony Garotinho, faz um “jóinha” para o seu fotografo de campanha antes do sinal ao vivo ir ao ar?
Tudo começa, porém, com o ajuste das câmeras. São cinco câmeras com tripés posicionados, uma para cada candidato – além do exclusivo da mediadora do debate, que conta com teleprompter (aquela câmera espelhada em que o apresentador lê um texto pronto). Cada um olha para a sua e pronto. Enquanto um fotógrafo mais abusado, lá do alto do mezanino onde a imprensa se concentrou para acompanhar o programa, assoviava para o diretor tentando uma imagem dos cinco candidatos juntos antes da exibição, o silêncio imperava.
Pelo menos no Rio de Janeiro não teve clima de camaradagem. Como são todos veteranos da política local, Lindberg Farias (PT), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Marcelo Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PR), cada um no seu canto, analisavam as próprias anotações. Quem se atrevesse a abrir um pacote de biscoitos certamente seria ouvido e, quiçá, ganharia olhares de reprovação. Tarcísio Motta (Psol), mais deslocado, ajeitava o rabo de cavalo. O máximo que se viu foi uma rápida aproximação de Crivella com Pezão que, pela distância, claro que ninguém ouviu.
Como já dito, a primeira curiosidade em questão é que o atual governador passa, numa estimativa da reportagem, cerca de 85% do tempo sentado. Na maioria das vezes, de braços cruzados. Cansado ou não, ele fica de olho sempre na oportunidade de ser chamado para uma pergunta e logo pula da cadeira. Se não é o eleito da vez, volta para o seu aconchego. Cena repetida diversas vezes.
Outro clássico do debate é o rapaz da maquiagem. A cada intervalo, ele passa, candidato por candidato, com uma espécie de blush para retocar. Ninguém nega. Afinal, quanto mais brilho no ar, melhor para ele, para a campanha, enfim. Pezão, de novo ele, exigiu mais e por três vezes precisou ter o suor da testa enxugado pela produção. A mediadora, por sua vez, contava também com um profissional para cuidar das madeixas a cada paralisação para os reclames.
Outra curiosidade de bastidor: acabou o tempo, caro candidato, microfone cortado e imagem de volta para a mediadora. Não tem choro nem vela, até porque existem regras rígidas a serem seguidas – como determina o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ). Por isso que você não conseguiu ver, por exemplo, que Tarcísio Motta deu um soco na mesa, com raiva de si mesmo, quando não conseguiu completar a tempo em uma de suas réplicas.
Quando Garotinho foi indagado sobre o fato de ter sido encontrado material de campanha da sua candidatura em ação num centro social ilegal no complexo da Maré, na zona norte do Rio, ele, sempre irônico, chamou o cantor Naldo de “expoente da música nacional”. Hein? Tudo para (tentar) explicar que é conhecido no conjunto de favelas, apoiou a cultura local no seu governo e que, por isso, todo mundo ali quer votar nele. Você não viu, mas muita gente tentou, e outros não conseguiram, esconder o riso. Inclusive jornalistas e assessores de candidatos rivais.
Enquanto o diretor do debate vai avisando o tempo em que o programa voltará ao ar, já meio que expulsando os assessores do palco, Marcelo Freixo se preocupava com espionagem. Sim, isso mesmo. O deputado federal e figura mais conhecida do Psol no Rio, no seu papel de assessor de Tarcísio Motta, falava sempre com a mão tapando a boca. Ao final do encontro político, ele reconheceria ao próprio Terra que tinha “receio desse negócio de leitura labial”. Faltou explicar para ele que o Fantástico passa na Rede Globo, e não na Rede TV!.
Enquanto Garotinho, após o terceiro bloco, já dava uma de Pezão e começava a fazer uso do seu banquinho exclusivo, Crivella ainda tinha dúvidas: para qual câmera olhar, perguntou para a mediadora. Repito: após o terceiro bloco. O senador do PRB ainda fez questão de ir até o cinegrafista. Dúvida sanada. Resta ao eleitor, por fim, ao conhecer melhor estes bastidores, tirar também a limpo como reage o seu candidato. Tudo para saber o quão real é a sua imagem quando a luz vermelha indicando que o programa está no ar não está acesa.